Novo mandato impõe ministério qualificado
João Bosco Rabello - OESP
Os primeiros movimentos no Congresso Nacional
após a eleição indicam à presidente Dima Rousseff , antes de tudo, a
adoção de um conceito que ignorou em seu primeiro mandato: o de um
ministério politicamente forte e tecnicamente preparado – que, por sua
vez, impõe uma gestão colegiada, marcada por uma dose de autonomia que
desafia seu perfil personalista.
Mais que isso, uma gestão colegiada, nesse nível,
requer uma interação entre o primeiro escalão de governo e a presidente
da República em bases mais respeitáveis em que a subordinação
hierárquica se caracterize pelo poder de arbitragem final da presidente e
menos pela obediência cega que inibe qualquer equipe gestora.
Cenário oposto a esse marcou o primeiro mandato
presidencial, em que o critério de confiança estabelecido se traduziu
pela concordância dos eleitos da presidente em qualquer circunstância,
subtraindo ao processo de gestão aquilo que tem de mais caro – a
participação motivada, gene da criatividade a serviço da causa
empreendedora.
Para a sobrevivência desse tipo de formato
administrativo é indispensável que a equipe de governo individualmente
seja menos capacitada que a comandante, o que retira da gestão a
influência proporcional ao mérito, mediocrizando os quadros pela
exclusão da elite funcional, vitimada justamente pela maior competência.
Essa percepção, geral no ambiente político e
econômico do país, é que explica a resistência de perfis de alta
capacitação atuantes na iniciativa privada a participar do governo,
quando seus nomes são especulados. E, por consequência, a dificuldade do
governo em atrair quadros qualificados.
É claro que o aparelhamento da máquina administrativa
contribui fortemente para esse nivelamento por baixo da estrutura de
governo, com origem na negociação política, o que pode ser superado com a
combinação de ocupação de espaços na máquina pública por indicação
partidária condicionada ao domínio do tema por parte do escolhido.
No caso do governo do PT essa dificuldade é bem
maior, pois o partido impõe o critério de escolha com base na fidelidade
de correligionários a um sistema com raízes sindicalistas e afinidade
ideológica – ambos obstáculos à busca de eficiência administrativa e
política.
A ineficiência resultante desse processo de formação
de governo foi o estímulo primordial para que o ex-governador Eduardo
Campos decidisse antecipar a sua candidatura para 2014, originalmente
posta menos pela convicção de vitória e mais para criar o recall necessário à sua consolidação em 2018.
Ainda no primeiro semestre de 2012, Campos disse a
interlocutores diversos que a convivência com o governo federal, na
condição de governador de Pernambuco, lhe dera a certeza de que Dilma
chegaria ao final de 2013, véspera da campanha eleitoral, com um quadro
econômico e político amplamente desfavoráveis à sua reeleição, o que
acabou se confirmando.
Nessa ocasião, o ex-governador desfiava um rosário de
queixas, ilustradas com a narrativa de episódios vividos nas relações
com ministros e técnicos do governo federal, em que procurava comprovar o
modelo centralizador da presidente, que permanentemente atrelava
decisões de menor importância à sua aprovação pessoal.
Com humor, chegou a contar que uma simples obra de
rua em Jaboatão dos Guararapes, em seu Estado, deixou de ter a
participação do governo federal pela demora na aprovação da revisão, sem
acréscimo de custos, de uma planilha original, porque o ministério do
Planejamento precisava do aval da presidente.
Dizia que a síntese da obra era uma operação
“tapa-buraco”, mas que teve de fazê-la através de uma parceria
público-privada, uma solução regionalizada, depois de esperar três meses
pelo aval presidencial. “A obra foi feita, mas a presidente não saiu na
foto”, comentou, sugerindo que a centralização acabou em prejuízo
político para sua patrocinadora.
Campos disse, na ocasião, que aguardaria o ano de
2013 antes de formalizar sua candidatura, porque seria o ano de entrega
de resultados pelo governo federal. Embora não acreditasse nos
resultados prometidos pelo governo Dilma, achava que deveria aguardar e
acabou candidato no ano marcado pela falta de resultados, com os
protestos de rua e a queda vertiginosa dos índices de aprovação
presidencial.
É mais um dado histórico a confirmar que a presidente
não logrou a reeleição pelos acertos de governo, mas pelo êxito na
tarefa ilusionista de evitar a visibilidade antecipada das consequências
de uma gestão que levou a economia à recessão técnica, convivendo com a
corrupção em dimensões inéditas, para o que começa a aplicar a receita
ortodoxa que negou na campanha – como mostra o aumento da taxa de juros,
quatro dias após a sua reeleição.
Sem um ministério qualificado técnica e
politicamente, e a disposição de forçar sua natureza avessa ao diálogo
interno – que andam traduzindo por “reiventar-se”-, corre o risco de
fazer mais do mesmo e acabar de desperdiçar o capital mínimo que a
reeleição lhe dá nesse momento.
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