A Guido o que é de Guido
Os sinos da recessão tocam pela insustentável Nova Matriz Econômica, que vigorou de 2011 a 2014
Alexandre Schwartsman - FSP
A queda do PIB revelada pelo IBGE colocou o país numa situação
desconfortável: apenas a Ucrânia, imersa numa guerra civil, e a Rússia,
sob sanções precisamente por se envolver no conflito ucraniano,
apresentaram desempenho pior que o nosso.
Se já era difícil atribuir ao resto do mundo a fraqueza da economia
local, esse dado deveria ser mais do que eloquente para sepultar tal
ideia. Obviamente isso não ocorrerá, pois a capacidade de certos
analistas de se aferrar a conceitos mais do que desmentidos pelos fatos
se aproxima do infinito.
O resultado reforça que o Brasil está em recessão. Não porque o PIB caiu
por dois trimestres seguidos, mas com base no trabalho desenvolvido
pelo Comitê de Datação dos Ciclos Econômicos, que, aplicando metodologia
similar à utilizada em outros países, concluiu que a recessão se
estende desde o segundo trimestre de 2014.
Diga-se também que o investimento no Brasil caiu por nada menos do que
oito trimestres consecutivos, fenômeno que não apenas aprofunda a queda
da atividade mas sugere também que a capacidade de crescimento à frente
será negativamente afetada.
Esses fatos, porém, trazem um novo problema. Muito embora seja
lugar-comum atribuir a queda da atividade econômica à austeridade fiscal
e monetária, tanto a recessão como a queda persistente do investimento
precedem, em muito, a mudança de política. Falta, portanto, identificar
as causas iniciais desses processos.
Como temos explorado há tempos neste espaço, o arranjo de política
econômica que vigorou de 2011 a 2014, a Nova Matriz Macroeconômica
(NMM), era insustentável.
A inflação vinha desde o primeiro trimestre de 2012 em trajetória de
aceleração, apesar de controles de preços, cortes pontuais de impostos e
tentativas de segurar o valor do dólar no mercado de câmbio.
Em particular, a prática de represamento dos preços administrados,
especialmente combustíveis e energia, teve repercussões negativas em
várias dimensões, desde o atiçamento das expectativas inflacionárias
(pois se antecipava, acertadamente, que seria necessária uma inflação
corretiva) até a desarticulação dos setores energético e
sucroalcooleiro, passando pela emasculação da capacidade de investimento
da Petrobras.
As contas públicas mostravam deterioração constante, mal disfarçada
pelas "pedaladas" das mais diversas variedades. Consequentemente, a
dívida do governo passou a crescer de forma acelerada, revertendo anos
de trabalho paciente de melhora nessa frente.
As contas externas, por fim, apresentavam deficit crescentes, também
sinalizando que em algum momento medidas deveriam ser tomadas para
corrigir o desequilíbrio.
Em suma, era óbvio que, cedo ou tarde, ou a NMM seria (como foi) abandonada ou rumaríamos para uma crise aguda.
Não deveria ser surpreendente sob tais circunstâncias, portanto, que
tanto o investimento quanto o produto caíssem mesmo antes da mudança de
política, que, a propósito, só se manifestou no lado monetário; do lado
fiscal o desempenho consegue ser ainda pior do que o observado no ano
passado. E ganha um doce quem identificar austeridade no Orçamento de
2016...
Os sinos da recessão tocam, portanto, pela NMM, também responsável pelos
obstáculos à adoção de políticas anticíclicas, tópico a ser explorado
na próxima coluna.
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