Reinaldo Azevedo - VEJA
Há
uma figura muito influente na República que, ao falar o nome “Dilma”,
sempre emenda a palavra “coitadinha”. Não que tenha pena genuína da
presidente, o que, convenham, não é o caso. Ao pespegar o adjetivo no
diminutivo, nem está sugerindo que a presidente seja sofredora,
desditosa. Empresta-lhe, na verdade, um sentido novo, o que vivemos
fazendo cotidianamente com as palavras. O “coitadinha” poderia
significar inimputável, alheia à realidade, desprovida de maiores dotes
intelectuais, incapaz de se haver com os próprios problemas.
A presidente
concedeu uma entrevista nesta quarta para tentar pôr um freio na
barafunda que ela própria criou. Com o objetivo de provocar alarde e de
emparedar o Legislativo, mandou um Orçamento com um rombo de R$ 30,5
bilhões. Achou que isso assustaria os mercados, geraria uma comoção, e
os parlamentares correriam imediatamente para socorrê-la. As duas
primeiras coisas aconteceram; a terceira não!
Todos
perceberam o truque, e o senador Aécio Neves (PSDB-MG), presidente do
PSDB, e Eduardo Cunha (PMDB-RJ), presidente da Câmara, disseram o óbvio,
que observei aqui de saída: não cabe ao governo federal jogar a
responsabilidade de cobrir o rombo nas costas do Congresso. É um absurdo
absoluto! Até porque não é ele que arbitra os gastos. Ou a madame
pretende ser a dona das despesas, jogando para os outros a atribuição de
conseguir receita?
Mais: há a
possibilidade de a oposição recorrer ao Supremo. Se os ministros
honrarem o que está escrito na Lei Complementar 101, a da
Responsabilidade Fiscal, fim de papo: a peça é ilegal. No espírito da
lei, não existe despesa sem que se aponte a fonte de receita. A ser
assim, o Executivo prometeria o céu, e a tarefa de alcançá-lo ficaria
com deputados e senadores.
Na
entrevista, Dilma afirmou que não está tentando transferir
responsabilidades e deu a entender que a peça será emendada — muito
provavelmente, vão dar um jeito de esconder o déficit, eliminando assim a
única quase-virtude daquela piada: a sinceridade ilegal. Sim, é sincero
dizer que haverá déficit. Mas frauda a lei. Então não há saída? Há!
Fazer os cortes.
Disse a presidente:
“O governo vai de fato mandar [um adendo à proposta Orçamentária para 2016], e é responsabilidade dele [...] Nós não fugiremos às nossas responsabilidades de propor a solução ao problema. O que queremos, porque vivemos em um país democrático, é construir essa alternativa, mas não transferindo a responsabilidade de ninguém porque ela sempre será nossa”.
“O governo vai de fato mandar [um adendo à proposta Orçamentária para 2016], e é responsabilidade dele [...] Nós não fugiremos às nossas responsabilidades de propor a solução ao problema. O que queremos, porque vivemos em um país democrático, é construir essa alternativa, mas não transferindo a responsabilidade de ninguém porque ela sempre será nossa”.
Ah, bom! É o contrário do que fez o governo.
A governanta se referiu também à recriação da CPMF , em dilmês castiço, língua que lembra o português:
“Não gosto da CPMF. Acho que a CPMF tem suas complicações. Mas não estou afastando a necessidade de fontes de receita, não estou afastando nenhuma fonte de receita. Quero deixar isso claro para depois, se houver a hipótese de a gente enviar essa fonte, nós enviaremos”.
“Não gosto da CPMF. Acho que a CPMF tem suas complicações. Mas não estou afastando a necessidade de fontes de receita, não estou afastando nenhuma fonte de receita. Quero deixar isso claro para depois, se houver a hipótese de a gente enviar essa fonte, nós enviaremos”.
A oração
principal que se segue à oração subordinada adverbial condicional, para
fazer sentido, era certamente outra, mas, àquela altura, ela já tinha
perdido a linha de raciocínio. Assim como perdeu o controle do governo.
Estamos feitos!
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