Reinaldo Azevedo - VEJA
Tudo
indica que o Planalto se meteu em mais uma trapalhada, do mesmíssimo
feitio daquela que acabou resultando na derrota de Dilma quando Eduardo
Cunha (PMDB-RJ) se elegeu presidente da Câmara. Só para lembrar:
observei, então, parafraseando Marina Silva, que a presidente perderia
perdendo e perderia ganhando. Ou por outra: considerando os recursos que
o governo moveu para derrotar Cunha, se ele vencesse, como venceu, a
mandatária daria com os burros n’água. E deu. Mas, se ele perdesse, ela
teria um grupo enorme de descontentes que tornaria sua vida muito
difícil.
Por que digo
isso? O ministro Gilberto Kassab (Cidades), que comanda o PSD, pediu ao
Planalto, segundo informa a Folha, que Dilma adiasse a sanção da
reforma política votada pelo Congresso, aguardando um último recurso ao
Tribunal Superior Eleitoral do grupo envolvido com a criação do PL
(Partido Liberal). Se Dilma sancionasse a reforma, o que deveria ter
acontecido na sexta, não haveria mais chance de criar o novo partido,
que já teve negado o seu registro em razão da falta das assinaturas
necessárias.
Embora
negue, todos sabem que Kassab é o cérebro que comanda a criação da
legenda, que abrigaria descontentes de partidos de oposição e,
sobretudo, do PMDB. O jornal informa que o ministro espera a adesão à
nova legenda, caso seja criada, de um grupo entre 25 e 28 deputados. Os
porta-vozes do pleito de Kassab para adiar a sanção foram os ministros
Aloizio Mercadante (Casa Civil) e Ricardo Berzoini (Comunicações).
Muito bem: o
último recurso do PL pode ser julgado nesta terça. Até onde sei, o
pleito deve ser recusado. E restará ao Planalto apenas o sabor amargo de
ter sido flagrado tentando quebrar a espinha do PMDB — e não é a
primeira vez. Se Kassab — ou quem quer que atue oficialmente — for
bem-sucedido e se ele conseguir as adesões que anuncia possíveis, a
dupla PSD-PL pode chegar a até 62 deputados. O PMDB, sem eventuais
defecções, tem hoje 66. No melhor dos mundos para o ex-prefeito de São
Paulo, ele passará a ser o comandante de um novo PMDB — no caso,
governista.
Assim, se o
PL não for criado, ruim para o governo por ter sido pego, de novo, em
flagrante. Mas, se for, pergunto: o Planalto se dará bem? Digamos que
isso colabore, então, para impedir o impeachment… Cabe a pergunta: e o
que vem em seguida? Na esteira de um, se me permitem a metáfora, ataque
especulativo dessa natureza contra uma legenda, os que resistirem, a
despeito de suas divergências, tendem a se unir.
O jogo que
está sendo jogado é de tal natureza explícito que tendo a achar que o
TSE vai preferir se manter distante da confusão, negando o registro ao
PL. Caso faça o contrário, a Babel no governo tende a ser maior.
Outro que
estaria envolvido na operação é Ciro Gomes, que tenta voltar ao primeiro
plano da política com aquela sua retórica truculenta de sempre. A ele
estaria reservado o Ministério da Educação, que já foi ocupado por menos
de três meses por Cid, seu irmão, com resultados desastrosos.
Tudo é explícito demais, heterodoxo demais, abusado demais, despudorado demais e atrapalhado demais para dar certo.
E, se der certo, dará errado.
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