David Smith - Prospect
Walter Diaz/AAFP
Em 25 de outubro, a Argentina votará em seu próximo presidente. Lealdade, favoritismo, traição, uma viúva poderosa, um candidato casado com uma supermodelo, outro forte candidato é um magnata do futebol, assassinatos não explicados, riqueza não explicada --uma campanha perfeita para um roteiro do Netflix.
O futuro da Argentina está em jogo. Os eleitores desse país do G-20, com 40 milhões de habitantes, ficarão com o nepotismo, o populismo e a ideologia nacionalista ou escolherão voltar às leis da realidade econômica? É uma opção que o eleitorado grego achará familiar.
Faz 14 anos que a Argentina viveu o maior calote da história. O atual debate eleitoral mostra que o dilema grego --populismo versus pragmatismo-- pode durar anos depois da falência de um país.
"Esta campanha é sobre mantermos o rumo e
terminar o trabalho de fazer da Argentina um modelo a ser seguido",
afirmou Daniel Scioli, governador de Buenos Aires e sucessor favorito da
presidente de saída, Cristina Kirchner. Agora que Cuba restabeleceu as
relações com os Estados Unidos, o governo Kirchner, em mais um eco de
Atenas, se opõe à economia ortodoxa, às grandes empresas e ao Banco
Mundial.
Governos sucessivos na Argentina lutaram para se adaptar às consequências políticas e econômicas da moratória e da recessão global. Às vezes, pode parecer que o governo existe em um universo paralelo, onde nega a inflação galopante, onde as taxas de juros estão congeladas para evitar a desvalorização da moeda, onde a companhia aérea estatal perde US$ 2 milhões por dia, mas é considerada uma história de sucesso.
Sua política externa muda cada vez mais em direção à China e à Rússia, com as quais faz acordos semissecretos, enquanto critica os EUA e grita contra Londres por causa das ilhas Falklands/Malvinas.
Uma alternativa pragmática pode ter sucesso?
Mauricio Macri, prefeito de Buenos Aires e ex-presidente do time de futebol Boca Juniors, oferece uma agenda pró-empresas, pró-mercado e pró-crescimento, um "retorno ao mundo real", como ele diz. Macri tem de cuidar de suas palavras em relação às Malvinas (nome usado pela Argentina para as ilhas Falkland), tendo se perguntado em voz alta se não seria melhor deixar que os britânicos paguem para manter os moradores das ilhas. Isso é pragmático, mas impopular.
Os dois presidentes Kirchner --Cristina e, antes, seu falecido marido, Néstor-- mudaram a Argentina nos últimos 12 anos. Eles tiraram o país do colapso de 2001 e do calote. Felizmente, a ascensão das commodities trouxe crescimento, até a recessão global.
Isso significa que, embora a economia esteja estagnada, há receita suficiente dos impostos sobre exportações de matérias-primas para redistribuir o dinheiro para sua base política, seguindo o exemplo da heroína da presidente, Eva Perón. Em consequência, a Argentina se gaba da classe média de mais rápido crescimento na América Latina. Quase metade do país recebe subsídios do governo, seja em benefícios à família, generosas ajudas aos desempregados, aumentos nas aposentadorias estatais ou apoio aos jovens.
O preço dessa generosidade é a inflação de mais de 30% ao ano. Isto leva ao alto consumo, já que apenas um tolo poupa dinheiro que valerá menos de um quarto em 12 meses. O governo pode pedir empréstimos agora apenas a 9%, um número incrível neste mercado global. O futuro está hipotecado.
A maioria das pesquisas sugere que a Frente da Vitória de Kirchner, o novo título do peronismo, tem força sólida com um terço do eleitorado que depende do governo para viver. A política da moratória tornou-se a política da dependência e da dívida. No primeiro turno das eleições, em outubro, o candidato de Kirchner, Scioli, vencerá se conseguir 40% dos votos ou mais e superar seu adversário por dez pontos. É sua melhor chance. A disputa poderá ser apertada se a oposição decidir se unir. Pesquisas mostram que 60% dos argentinos são contra o governo.
"Vitória do trabalho, da saúde e da educação! Podemos fazer mais e podemos fazer melhor!", declaram os cartazes da campanha da Frente da Vitória.
O grito de convocação da principal oposição de centro-direita é "Juntos podemos!" O partido liderado por Macri evoca sem pejo a frase usada com sucesso pela campanha de Barack Obama em 2008.
A batalha está longe de decidida. A vitória poderá ser um cálice envenenado, pois quem ganhar enfrentará crises --opções brutais de desvalorização, cortes na assistência do governo e austeridade.
Os gregos, uma década atrás da Argentina, assistirão com interesse e desespero. Pois o "modelo" argentino --se esta é a palavra certa-- sugere que a política do calote não provoca uma mudança de direção decisiva, mas um vício nos deficits e na dívida.
Tradução: Luiz Roberto Mendes Gonçalves
Governos sucessivos na Argentina lutaram para se adaptar às consequências políticas e econômicas da moratória e da recessão global. Às vezes, pode parecer que o governo existe em um universo paralelo, onde nega a inflação galopante, onde as taxas de juros estão congeladas para evitar a desvalorização da moeda, onde a companhia aérea estatal perde US$ 2 milhões por dia, mas é considerada uma história de sucesso.
Sua política externa muda cada vez mais em direção à China e à Rússia, com as quais faz acordos semissecretos, enquanto critica os EUA e grita contra Londres por causa das ilhas Falklands/Malvinas.
Uma alternativa pragmática pode ter sucesso?
Mauricio Macri, prefeito de Buenos Aires e ex-presidente do time de futebol Boca Juniors, oferece uma agenda pró-empresas, pró-mercado e pró-crescimento, um "retorno ao mundo real", como ele diz. Macri tem de cuidar de suas palavras em relação às Malvinas (nome usado pela Argentina para as ilhas Falkland), tendo se perguntado em voz alta se não seria melhor deixar que os britânicos paguem para manter os moradores das ilhas. Isso é pragmático, mas impopular.
Os dois presidentes Kirchner --Cristina e, antes, seu falecido marido, Néstor-- mudaram a Argentina nos últimos 12 anos. Eles tiraram o país do colapso de 2001 e do calote. Felizmente, a ascensão das commodities trouxe crescimento, até a recessão global.
Isso significa que, embora a economia esteja estagnada, há receita suficiente dos impostos sobre exportações de matérias-primas para redistribuir o dinheiro para sua base política, seguindo o exemplo da heroína da presidente, Eva Perón. Em consequência, a Argentina se gaba da classe média de mais rápido crescimento na América Latina. Quase metade do país recebe subsídios do governo, seja em benefícios à família, generosas ajudas aos desempregados, aumentos nas aposentadorias estatais ou apoio aos jovens.
O preço dessa generosidade é a inflação de mais de 30% ao ano. Isto leva ao alto consumo, já que apenas um tolo poupa dinheiro que valerá menos de um quarto em 12 meses. O governo pode pedir empréstimos agora apenas a 9%, um número incrível neste mercado global. O futuro está hipotecado.
A maioria das pesquisas sugere que a Frente da Vitória de Kirchner, o novo título do peronismo, tem força sólida com um terço do eleitorado que depende do governo para viver. A política da moratória tornou-se a política da dependência e da dívida. No primeiro turno das eleições, em outubro, o candidato de Kirchner, Scioli, vencerá se conseguir 40% dos votos ou mais e superar seu adversário por dez pontos. É sua melhor chance. A disputa poderá ser apertada se a oposição decidir se unir. Pesquisas mostram que 60% dos argentinos são contra o governo.
"Vitória do trabalho, da saúde e da educação! Podemos fazer mais e podemos fazer melhor!", declaram os cartazes da campanha da Frente da Vitória.
O grito de convocação da principal oposição de centro-direita é "Juntos podemos!" O partido liderado por Macri evoca sem pejo a frase usada com sucesso pela campanha de Barack Obama em 2008.
A batalha está longe de decidida. A vitória poderá ser um cálice envenenado, pois quem ganhar enfrentará crises --opções brutais de desvalorização, cortes na assistência do governo e austeridade.
Os gregos, uma década atrás da Argentina, assistirão com interesse e desespero. Pois o "modelo" argentino --se esta é a palavra certa-- sugere que a política do calote não provoca uma mudança de direção decisiva, mas um vício nos deficits e na dívida.
Tradução: Luiz Roberto Mendes Gonçalves
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