Macarena Vidal Liy - El País
Kim Kyung-Hoon/Reuters
Depois dos reveses, Pequim não economiza para projetar poder em desfile militar de comemoração do fim da guerra
O regime comunista chinês fará na próxima quarta-feira (2) uma exibição de poderio diante do mundo, sem economizar meios. Doze mil soldados, 500 peças de armamento - muitas nunca vistas em público - e 200 aeronaves participarão de um desfile militar na Praça Tiananmen, por motivo do 70º aniversário da vitória na Segunda Guerra Mundial. Mas as dúvidas sobre a economia, a queda da Bolsa e a catástrofe de Tianjin empanam um evento ao qual Vladimir Putin assistirá.
Para o presidente chinês, Xi Jinping, é especialmente importante que esse desfile militar dê certo. Organizá-lo foi ideia dele: é a primeira vez que Pequim comemora a vitória na guerra mundial com um desfile, um acontecimento geralmente reservado aos grandes aniversários da fundação do Partido Comunista da China.
Kim Kyung-Hoon/Reuters
Depois dos reveses, Pequim não economiza para projetar poder em desfile militar de comemoração do fim da guerra
O regime comunista chinês fará na próxima quarta-feira (2) uma exibição de poderio diante do mundo, sem economizar meios. Doze mil soldados, 500 peças de armamento - muitas nunca vistas em público - e 200 aeronaves participarão de um desfile militar na Praça Tiananmen, por motivo do 70º aniversário da vitória na Segunda Guerra Mundial. Mas as dúvidas sobre a economia, a queda da Bolsa e a catástrofe de Tianjin empanam um evento ao qual Vladimir Putin assistirá.
Para o presidente chinês, Xi Jinping, é especialmente importante que esse desfile militar dê certo. Organizá-lo foi ideia dele: é a primeira vez que Pequim comemora a vitória na guerra mundial com um desfile, um acontecimento geralmente reservado aos grandes aniversários da fundação do Partido Comunista da China.
"O desfile vai mostrar os novos
êxitos da defesa nacional e moderna da China. É também uma forma
importante de recordar a vitória e consolidar o orgulho nacional", opina
Wu Taihang, professor da Escola do Partido Comunista na província de
Sichuan.
Pelo menos esse era o grande plano. Mas a realidade se mostrou inoportuna. O desfile, anunciado em janeiro, chega depois de um verão de descontentamento para os dirigentes chineses. À queda das Bolsas e às dúvidas sobre a economia, somou-se a catástrofe de Tianjin - a explosão de um armazém de produtos químicos que não só causou a morte de pelo menos 145 pessoas e uma grave preocupação sobre seu impacto ambiental, como também pôs em evidência até que ponto a corrupção é algo rotineiro no sistema chinês.
O Ministério das Relações Exteriores chinês havia adiantado que convidaria os líderes mundiais. A maioria dos ocidentais apresentou suas desculpas. Cerca de 30 deles, entre os quais os presidentes da Rússia, Vladimir Putin, da Coreia do Sul, Park Geun-hye, ou da Venezuela, Nicolás Maduro, aceitaram participar de um evento que verá novamente os tanques atravessarem a Praça Tiananmen, 25 anos depois da sangrenta repressão do movimento estudantil.
As autoridades não vão economizar meios nem atos: o espaço aéreo de Pequim ficará fechado durante três horas e as lojas, hotéis e bares na rota do desfile não poderão abrir as portas durante a jornada. O governo mobilizou 850 mil voluntários, decretou feriado e, para garantir que até o ar esteja limpo nesse dia, ordenou o fechamento de 12 mil fábricas nos arredores, além de imobilizar a metade dos carros da capital chinesa.
"O desfile se dirige em parte a mostrar a imagem de uma China forte", aponta Alice Ekman, principal pesquisadora da China no Instituto Francês de Relações Internacionais (Ifri). "Tianjin e o debacle financeiro são particularmente inoportunos para os organizadores, ao atuar como lembranças de algumas das fraquezas que o país enfrenta."
Por tudo isso, é mais importante que nunca para Xi fazer uma demonstração de poder. Mostrando um espetáculo de massas disciplinadas que evoca, de certo modo, a cerimônia inaugural dos Jogos Olímpicos de 2008, e uma série de "armas e equipamentos entre os mais avançados do mundo", segundo descreveu a agência oficial chinesa Xinhua, o presidente chinês quer apelar ao entusiasmo patriótico. Um sentimento popular que o regime alimentou sem ambiguidades e que tem como catalisador os abusos do Japão durante a guerra.
"A atual liderança chinesa está investindo de forma gigantesca em uma estratégia de comunicação baseada no nacionalismo", aponta Ekman. "Está apoiando o que chama de 'grande rejuvenescimento da nação chinesa', conceito que Xi promoveu desde sua chegada ao poder", explica a especialista.
Mas a mensagem da marcha militar também se dirige ao estrangeiro: quer mostrar ao mundo forças armadas chinesas modernas e preparadas; que "não buscamos problemas, mas também não temos medo deles", explica Wu. Exibir seu arsenal para fora também tem um interesse comercial: a China é o terceiro exportador de armamentos do mundo.
Mas, segundo Ekman, o governo central subestima a percepção negativa que tal exibição de força pode gerar no exterior. "Muitos funcionários na China não sabem que aos olhos de muitos europeus um nacionalismo forte é visto de modo negativo, por razões históricas entre outras coisas. Ou que uma mobilização de força militar pode assustar muitos públicos estrangeiros, e não só nos países vizinhos que mantêm disputas territoriais com Pequim."
Tradução: Luiz Roberto Mendes Gonçalves
Pelo menos esse era o grande plano. Mas a realidade se mostrou inoportuna. O desfile, anunciado em janeiro, chega depois de um verão de descontentamento para os dirigentes chineses. À queda das Bolsas e às dúvidas sobre a economia, somou-se a catástrofe de Tianjin - a explosão de um armazém de produtos químicos que não só causou a morte de pelo menos 145 pessoas e uma grave preocupação sobre seu impacto ambiental, como também pôs em evidência até que ponto a corrupção é algo rotineiro no sistema chinês.
O Ministério das Relações Exteriores chinês havia adiantado que convidaria os líderes mundiais. A maioria dos ocidentais apresentou suas desculpas. Cerca de 30 deles, entre os quais os presidentes da Rússia, Vladimir Putin, da Coreia do Sul, Park Geun-hye, ou da Venezuela, Nicolás Maduro, aceitaram participar de um evento que verá novamente os tanques atravessarem a Praça Tiananmen, 25 anos depois da sangrenta repressão do movimento estudantil.
As autoridades não vão economizar meios nem atos: o espaço aéreo de Pequim ficará fechado durante três horas e as lojas, hotéis e bares na rota do desfile não poderão abrir as portas durante a jornada. O governo mobilizou 850 mil voluntários, decretou feriado e, para garantir que até o ar esteja limpo nesse dia, ordenou o fechamento de 12 mil fábricas nos arredores, além de imobilizar a metade dos carros da capital chinesa.
Ecos maoístas
Com ecos claramente maoístas, para comemorar a derrota do Japão na Segunda Guerra Mundial o regime anunciou inclusive um perdão oficial para presos comuns, medida que a China não tomava desde 1975."O desfile se dirige em parte a mostrar a imagem de uma China forte", aponta Alice Ekman, principal pesquisadora da China no Instituto Francês de Relações Internacionais (Ifri). "Tianjin e o debacle financeiro são particularmente inoportunos para os organizadores, ao atuar como lembranças de algumas das fraquezas que o país enfrenta."
Por tudo isso, é mais importante que nunca para Xi fazer uma demonstração de poder. Mostrando um espetáculo de massas disciplinadas que evoca, de certo modo, a cerimônia inaugural dos Jogos Olímpicos de 2008, e uma série de "armas e equipamentos entre os mais avançados do mundo", segundo descreveu a agência oficial chinesa Xinhua, o presidente chinês quer apelar ao entusiasmo patriótico. Um sentimento popular que o regime alimentou sem ambiguidades e que tem como catalisador os abusos do Japão durante a guerra.
"A atual liderança chinesa está investindo de forma gigantesca em uma estratégia de comunicação baseada no nacionalismo", aponta Ekman. "Está apoiando o que chama de 'grande rejuvenescimento da nação chinesa', conceito que Xi promoveu desde sua chegada ao poder", explica a especialista.
Mas a mensagem da marcha militar também se dirige ao estrangeiro: quer mostrar ao mundo forças armadas chinesas modernas e preparadas; que "não buscamos problemas, mas também não temos medo deles", explica Wu. Exibir seu arsenal para fora também tem um interesse comercial: a China é o terceiro exportador de armamentos do mundo.
Mas, segundo Ekman, o governo central subestima a percepção negativa que tal exibição de força pode gerar no exterior. "Muitos funcionários na China não sabem que aos olhos de muitos europeus um nacionalismo forte é visto de modo negativo, por razões históricas entre outras coisas. Ou que uma mobilização de força militar pode assustar muitos públicos estrangeiros, e não só nos países vizinhos que mantêm disputas territoriais com Pequim."
Tradução: Luiz Roberto Mendes Gonçalves
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