Clara Barata - Público
Não é fácil encontrar uma posição comum face aos refugiados. A Alemanha e a Comissão Europeia apelam aos valores fundadores da UE, mas outros países permanecem surdos a esse apelo
Angela Merkel apelou mais uma vez a que os países da UE aceitem o sistema de quotas criado pela Comissão Europeia JOHN MACDOUGALL/AFP
Face à crise de refugiados que procuram a Europa como abrigo, a União Europeia divide-se e fecha-se. Enquanto Angela Merkel dizia em Berlim que ao não conseguir unir-se para dar uma resposta comum a esta crise a Europa se arrisca a “quebrar a sua ligação aos direitos civis universais, que são o princípio fundador da UE”, em Praga o primeiro-ministro checo Bohuslav Sobotka anunciava ter convidado a Hungria, a Eslováquia e a Polónia para uma mini-cimeira, para reafirmarem a sua oposição ao sistema de quotas para distribuir refugiados pelos Vinte e Oito.
“Confirmaremos
a nossa posição comum de rejeição das quotas”, declarou Sobotka,
anunciando a reunião para sexta-feira. O objectivo do Grupo de Visegrado
– estas quatro nações da UE – é coordenar posições para a reunião
extraordinária dos ministros do Interior convocada para 14 de Setembro,
para discutir a vaga de refugiados provenientes sobretudo da Síria que
está a chegar à Europa através da Grécia, entrando pela Hungria no
espaço Schengen.
A Hungria, que teve 150 mil entradas desde o início do ano na sua fronteira com a Sérvia, respondeu com a construção de uma vedação de quatro metros de altura – que deveria ter ficado pronta a 31 de Agosto, mas afinal não ficou; só uma cerca de arame farpado, mais baixa, está já a postos. Esta semana o Governo vai pedir autorização ao Parlamento para enviar o exército também, se o considerar necessário.
“Escândalo”, diz Fabius
O ministro francês dos Negócios Estrangeiros, Laurent Fabius, considerou “escandalosa” a atitude húngara. “Não se respeitam os valores da Europa com redes que não se usariam sequer para animais”, afirmou. “Quando vejo alguns países europeus, em particular de Leste, que não aceitam as quotas [de repartição de refugiados], acho escandaloso”, concluiu o governante, desencadeando uma crise diplomática entre Paris e Budapeste.
O ministro húngaro dos Negócios Estrangeiros, Peter Szijjarto, respondeu através das vias diplomáticas e com um comunicado difundido pela agência noticiosa magiar, MTI: “Parece que algumas pessoas na Europa são ainda incapazes de compreender a pressão incrível e dramática que a Hungria está a sofrer”.
Mas na Europa Central a Hungria não está só. Robert Fico, o primeiro-ministro eslovaco, tornou-o claro. “Rejeitamos veementemente quaisquer quotas. Se for adoptado um mecanismo de redistribuição automática de imigrantes, um dia temos 100 mil pessoas do mundo árabe e esse é um problema que não quero para a Eslováquia”, afirmou.
O Presidente checo Milos Zeman está no mesmo comprimento de onda que o Governo de Budapeste. “A República Checa deve tomar conta das suas próprias fronteiras, já que a UE não o consegue fazer, deve expulsar imigrantes ilegais… Até usar o exército, se for preciso.”
Angela Merkel apelou mais uma vez a que os países da UE aceitem o sistema de quotas criado pela Comissão Europeia para receberem refugiados – 40 mil, para começar. Mas rejeitou a ideia da ministra austríaca do Interior, Johanna Mikl-Leitner, de reduzir – ou suprimir – as ajudas financeiras da UE aos países que se recusem a acolher refugiados. “Não quero usar para já todos os instrumentos de tortura. Prefiro que encontremos uma solução entre amigos”, disse Merkel. “Mas se começarem a dizer que não querem muçulmanos, isso não é bom”, avançou.
O diário alemão de grande circulação “Bild” lançou esta segunda-feira uma campanha a favor dos refugiados, em que critica países como a França, o Reino Unido, a Itália, a Lituânia ou a Eslovénia por não receberem tantos refugiados como poderiam – e sublinhando que a Alemanha vai receber este ano 800 mil pessoas que solicitam asilo.
França quer-se manter ao lado da Alemanha nesta disputa que divide a Europa, e esta segunda-feira levou a Calais o vice-presidente da Comissão Europeia Frans Timmermans e o comissário europeu da Imigração. Calais, no Norte de França, é uma fronteira do espaço Schengen – o Reino Unido não faz parte, embora seja um país da UE – e está nas notícias porque ali os imigrantes tentam passar clandestinamente pelo túnel da Mancha para chegar ao Reino Unido.
Alguns milhares acumulam-se num acampamento semi-clandestino com péssimas condições chamado Jungle. Mas os visitantes apenas foram a um centro de dia, financiado em dois terços pela UE, que acolhe cerca de uma centena de mulheres e crianças e distribui cerca de 2000 refeições por dia. Quando um jornalista perguntou a Timmermans porque não tinham ido à Jungle, o vice-presidente da Comissão disse não perceber: “Não estou a ver o que quer dizer com Jungle, honestamente…”
A Hungria, que teve 150 mil entradas desde o início do ano na sua fronteira com a Sérvia, respondeu com a construção de uma vedação de quatro metros de altura – que deveria ter ficado pronta a 31 de Agosto, mas afinal não ficou; só uma cerca de arame farpado, mais baixa, está já a postos. Esta semana o Governo vai pedir autorização ao Parlamento para enviar o exército também, se o considerar necessário.
“Escândalo”, diz Fabius
O ministro francês dos Negócios Estrangeiros, Laurent Fabius, considerou “escandalosa” a atitude húngara. “Não se respeitam os valores da Europa com redes que não se usariam sequer para animais”, afirmou. “Quando vejo alguns países europeus, em particular de Leste, que não aceitam as quotas [de repartição de refugiados], acho escandaloso”, concluiu o governante, desencadeando uma crise diplomática entre Paris e Budapeste.
O ministro húngaro dos Negócios Estrangeiros, Peter Szijjarto, respondeu através das vias diplomáticas e com um comunicado difundido pela agência noticiosa magiar, MTI: “Parece que algumas pessoas na Europa são ainda incapazes de compreender a pressão incrível e dramática que a Hungria está a sofrer”.
Mas na Europa Central a Hungria não está só. Robert Fico, o primeiro-ministro eslovaco, tornou-o claro. “Rejeitamos veementemente quaisquer quotas. Se for adoptado um mecanismo de redistribuição automática de imigrantes, um dia temos 100 mil pessoas do mundo árabe e esse é um problema que não quero para a Eslováquia”, afirmou.
O Presidente checo Milos Zeman está no mesmo comprimento de onda que o Governo de Budapeste. “A República Checa deve tomar conta das suas próprias fronteiras, já que a UE não o consegue fazer, deve expulsar imigrantes ilegais… Até usar o exército, se for preciso.”
Angela Merkel apelou mais uma vez a que os países da UE aceitem o sistema de quotas criado pela Comissão Europeia para receberem refugiados – 40 mil, para começar. Mas rejeitou a ideia da ministra austríaca do Interior, Johanna Mikl-Leitner, de reduzir – ou suprimir – as ajudas financeiras da UE aos países que se recusem a acolher refugiados. “Não quero usar para já todos os instrumentos de tortura. Prefiro que encontremos uma solução entre amigos”, disse Merkel. “Mas se começarem a dizer que não querem muçulmanos, isso não é bom”, avançou.
O diário alemão de grande circulação “Bild” lançou esta segunda-feira uma campanha a favor dos refugiados, em que critica países como a França, o Reino Unido, a Itália, a Lituânia ou a Eslovénia por não receberem tantos refugiados como poderiam – e sublinhando que a Alemanha vai receber este ano 800 mil pessoas que solicitam asilo.
França quer-se manter ao lado da Alemanha nesta disputa que divide a Europa, e esta segunda-feira levou a Calais o vice-presidente da Comissão Europeia Frans Timmermans e o comissário europeu da Imigração. Calais, no Norte de França, é uma fronteira do espaço Schengen – o Reino Unido não faz parte, embora seja um país da UE – e está nas notícias porque ali os imigrantes tentam passar clandestinamente pelo túnel da Mancha para chegar ao Reino Unido.
Alguns milhares acumulam-se num acampamento semi-clandestino com péssimas condições chamado Jungle. Mas os visitantes apenas foram a um centro de dia, financiado em dois terços pela UE, que acolhe cerca de uma centena de mulheres e crianças e distribui cerca de 2000 refeições por dia. Quando um jornalista perguntou a Timmermans porque não tinham ido à Jungle, o vice-presidente da Comissão disse não perceber: “Não estou a ver o que quer dizer com Jungle, honestamente…”
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