O pior ainda piora: inflação
É remota a chance de IPCA perto da meta em 2016, mais uma frente ruim de incerteza
Vinicius Torres Freire - FSP
A PRETENSÃO de chegar à inflação de 4,5% em 2016 foi praticamente para
as cucuias, como quase tudo mais na economia. Não bastassem todas as
incertezas, caos, na verdade, abriu-se de vez outra frente de
desarranjos sérios.
Em termos simples, a conversa na nova trincheira de desastres diz
respeito ao que vai piorar mais: juros, dólar ou inflação? A pergunta é
se o Banco Central vai: a) Elevar a taxa de juros (o que aprofunda ou
prolonga a recessão e, agora, pode não fazer efeito); b) Intervir no
câmbio (segurar o preço ora inflacionário do dólar: improvável); c)
Jogar a toalha, esperar que pelo menos meia boca do pacote fiscal meia
boca passe (improvável, diz o PMDB) e que seja o que Deus quiser.
Há duas opções restantes, claro. Primeira, o espírito de todos os santos
baixa no governo, que apresenta milagrosamente um plano amplo e crível
de arrumação de suas contas e de renúncia a bobagens econômicas de outra
espécie, tirando o gás de dólar, juros etc. Segunda, credores
incrédulos ligam o botão do colapso, com a disparada fatal de câmbio e
juros.
Levar a inflação à meta de 4,5% no fim de 2016 sem elevar a taxa básica
de juros além do nível atual, 14,25%, era o plano do BC até ao menos a
quinta-feira passada, passado remoto, nas novas condições brasileiras.
Na semana passada, o próprio Banco Central previa inflação de 5,3% em
2016, mantida a taxa de juros atual, dólar ali por R$ 3,90 no final do
ano etc. Ontem, os economistas que mais costumam acertar previsões, de
acordo com o BC, estimavam inflação de 6,4% para 2016.
Previsões costumam estar erradas; não são destino. Mas é o que se tem à
mão a fim de calibrar a taxa de juros a fim de evitar alta extra da
inflação.
Pode ser que a recessão de 2015-16 seja grande o bastante para evitar
altas adicionais de preços. Quer dizer, em termos "pop", só vai ser bom
se for ruim.
Só que não.
A expectativas de inflação em alta, como agora, tendem a elevar a
inflação. De resto, ainda não há perspectiva de contenção do preço ora
inflacionário do dólar.
A economia indexada deve carregar pelo menos parte da inflação de agora
para o ano que vem. Isto é, por meio de regras formais ou não, reajustar
2016 pelas altas de 2015. Por exemplo, haverá em 2016 um reajuste de
10% no salário mínimo, aliás letal para prefeituras. Mesmo que não
esteja em contrato, as pessoas passam a fazer contas reajustando tudo
por "10%".
Pode haver ainda reajustes de preços controlados pelo governo. Não está
certo se a conta de luz já pagou todos os efeitos da seca e dos erros de
Dilma Rousseff: pode haver mais reajustes extras. Dado o risco de
desastre na Petrobras e a falta de dinheiro do governo para socorrê-la,
não é absurdo imaginar que virão reajustes de combustíveis.
Note-se que o aumento das estimativas de inflação para 2016 não se deveu
à previsão de inflação maior nos preços administrados. O pior pode
piorar.
Em um governo crível, seria possível ter uma meta "extraordinária",
intermediária, de inflação para 2016, com um plano estrito de redução da
meta nos anos seguintes, o que permitiria segurar os juros sem rolo
maior. Um governo crível teria plano fiscal para os próximos anos.
Não é o que temos.
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