FH cobra explicação de Lula
Merval Pereira - O Globo
“Sempre
me dispus a conversar com o Lula, mas agora não há mais condições. No
momento, ele não merece o meu respeito. Só depois de se explicar, e se
me convencer”.
Fernando Henrique disse que não é mais possível haver
um diálogo institucional com Lula, pois a cada dia surgem mais indícios
que o aproximam dos escândalos. “Não quero conversar com quem pode estar
envolvido nisso. Quero ver primeiro quem vai sobrar, quem vai ficar em
pé. Aí, sim, podemos conversar”, disse o ex-presidente, sendo muito
aplaudido.
No mesmo movimento, Fernando Henrique disse que já passou
da hora de a presidente Dilma assumir o comando de uma grande união
nacional para superar a crise, e disse que se ela não tiver condições de
fazê-lo, “outros farão”.
A senadora Marina Silva havia falado
anteriormente na necessidade de unir os melhores de todos os partidos
para uma tentativa de superar a crise, que, segundo ela, demonstra ser
“um poço sem fundo”. Afirmando que não há quem saiba como sair da crise,
Marina disse que estamos os brasileiros em uma sensação de vertigem,
atônitos e sem rumo: “E quando estamos nessa situação, procuramos logo
uma borda para nos ampararmos, para não cairmos. É o que podemos fazer
agora, nos unindo para uma tentativa de encontrar a saída”.
Fernando
Henrique lembrou os meses que antecederam o impeachment do ex-presidente
Fernando Collor, e disse que a situação naquele momento era menos grave
que agora. Mas, com o agravamento daquela crise, houve um momento em
que as grandes lideranças do país se uniram informalmente para trocar
informações, e estavam prontos quando a situação mostrou-se
incontornável.
Fernando Henrique citou, além de políticos,
empresários, líderes religiosos, setores da academia, formadores de
opinião, que deveriam também agora unir forças para buscar caminhos
dentro da Constituição para enfrentar a crise. Marina também destacou
que a trilha a ser seguida obedece necessariamente à Constituição, e
disse que o impeachment não é uma saída que se busque, ele se constrói
por conta própria à medida que as revelações vão sendo feitas e tornam
impossível a permanência do presidente no Palácio do Planalto.
Marina
deu o exemplo da aproximação de seu grupo político com o então
presidente Fernando Henrique Cardoso no Acre, no combate ao crime
organizado que dominava o Estado, para afirmar que é possível juntar
forças políticas adversárias em torno de pontos comuns em momentos de
crise.
Ambos defenderam a reformulação do nosso sistema
político-partidário e a necessidade de formar-se um governo em torno de
programas comuns, abandonando a prática de troca de favores para apoios
políticos que buscam apenas a manutenção do poder. Marina citou a sua
área, onde o ministro das Minas e Energia, Edson Lobão, “não conhecia
nada de energia”, como exemplar desses acordos políticos espúrios que
acabam nos escândalos que estamos vivendo.
Diante da convergência de
opiniões sobre as dificuldades de superação da crise, mas também
concordando com o potencial do país, Marina e Fernando Henrique
ensaiaram um começo de entendimento, como o próprio ex-presidente
ressaltou, citando também o grupo de empresários que estavam presentes:
“Estamos começando aqui esse entendimento nacional de que falamos. Quem
sabe a Marina não resolve isso? Eu ajudo”. Ao que Marina comentou, entre
sorrisos: “Muy amigo”.
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