A essência das coisas
Não há dúvidas de que o governo Michel Temer começou
atabalhoado, cheio de arestas a aparar. Dois ministros acabaram
demitidos em menos de 20 dias, o que não pode ser considerado normal.
Mas isso não quer dizer que o governo interino esteja fadado ao
fracasso.
O governo de Itamar Franco também teve lá seus
percalços, e nada menos que quatro ministros da Fazenda em seis meses. E
o que dizer da presidente afastada? Nada menos que oito ministros foram
demitidos no seu segundo mandato, numa sequência de escândalos de
corrupção no primeiro ano de seu segundo mandato.
Do limão João
Santana, ainda fora da cadeia, fez uma limonada e cunhou Dilma como “a
faxineira”, que não tolerava escândalos de corrupção. Agora sabemos que
muito antes a corrupção corria solta na Petrobras, e o próprio Santana
havia sido pago pela campanha eleitoral com dinheiro da Odebrecht
desviado da estatal, a pedido, segundo Sarney revelou nas gravações de
Sérgio Machado, da própria presidente.
A delação premiada que a
empreiteira está acertando com a Procuradoria-Geral da República
esclarecerá a mando de quem o pagamento foi feito, pois a Polícia
Federal já encontrou documentos provando que eles existiram. A farsa da
“faxineira ética” não durou muito, pois logo as pressões fizeram com que
os mesmos partidos banidos do governo por corrupção voltassem, em
certos casos para o mesmo ministério, embora com outros nomes.
As
demissões no primeiro escalão do governo Temer pelo menos até o momento
obedecem a um padrão: os ministros pegos em situações irregulares
acabam pedindo demissão, o que, se por um lado indica que Temer não quer
criar constrangimentos para eles ou seus padrinhos, por outro tem
conseguido se livrar dos problemas sem, aparentemente, abalar sua base
de apoio no Congresso.
Vai se equilibrando nessa linha tênue
entre o combate à corrupção e os que são apanhados tramando contra
Lava-Jato. Dilma, depois de renegar a “faxina ética”, passou a fazer
pior: montou em seu ministério, pouco antes de sair, um esquema de
proteção aos possíveis alvos das investigações de Curitiba.
Tentou
dar foro privilegiado ao ex-presidente Lula no Gabinete Civil, inventou
um ministério para proteger Jaques Wagner, e assim por diante. E
continua mentindo nas entrevistas que dá, ora afirmando que nunca
recebeu Marcelo Odebrecht no Alvorada, quando as agendas oficiais
informam o contrário, ora se utilizando das delações de Sérgio Machado
para anunciar que o golpe está provado, esquecendo-se de que já disse um
dia que não respeita delator.
E, sobretudo, que esse delator
específico ficou 13 anos no comando da Transpetro, uma subsidiária da
Petrobras, fazendo toda sorte de falcatrua, com seu beneplácito. Por
isso, como dizia Genoíno, uma coisa é uma coisa, outra coisa é outra
coisa. A volta de Dilma ao Palácio do Planalto continua tão difícil
quanto sempre foi, pela simples razão de que ninguém na antiga base
aliada tem saudades dela, ou da relação política com o PT.
Pode
haver um ou outro senador querendo criar dificuldades para obter
facilidades. Além do mais, não há nada que indique que Dilma mudou seu
pensamento em relação aos erros que cometeu, e, portanto, ela
definitivamente não é uma solução para os problemas do país.
Ao
contrário, sua volta seria uma tragédia política de conseqüências
inimagináveis. E até mesmo o PT, e especialmente Lula, não ganhariam
nada com essa volta. Eles agora têm pelo menos um slogan, falso, mas que
soa bem, para enfrentar a campanha municipal: “Não vai ter golpe”.
Definitivamente, “Volta, Dilma”, não é eleitoralmente muito
chamativo.
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