Steven Erlanger - NYT
Alfredas Pliadis/Xinhua
Soldados americanos participam de treinamento militar da Otan na Lituânia em 2014
Seis semanas antes de um encontro de cúpula crítico que visa fortalecer
o poder de dissuasão da Organização do Tratado do Atlântico Norte
(Otan, uma aliança militar ocidental) contra uma Rússia ressurgente, a
aliança enfrenta uma longa lista de desafios. O primeiro é encontrar um
país para liderar a última das quatro unidades militares que serão
posicionadas na Polônia e nos três países bálticos.
Mas esse, dizem os analistas, pode ser o menor de seus problemas.
Preocupações de segurança nunca foram tão grandes desde o final da Guerra Fria. Com a crise da imigração estremecendo as relações dentro do continente europeu, as ansiedades foram intensificadas pelas ofensivas militares russas na Crimeia e no leste da Ucrânia, assim como uma campanha de bombardeio na Síria que demonstrou as crescentes capacidades de Moscou. Ultimamente, a Rússia tem falado abertamente sobre a utilidade de armas nucleares táticas.
Apesar do aumento das ameaças, muitos países europeus ainda resistem a medidas fortes para fortalecer a Otan. Muitos permanecem relutantes em aumentar os gastos militares, apesar de promessas feitas. Alguns, como a Itália, estão cortando gastos. A França está revertendo ao seu ceticismo tradicional em relação à aliança, que vê como um instrumento da política americana e uma violação de sua soberania.
Isso sem contar as declarações do virtual candidato presidencial republicano, Donald Trump, de que a Otan está "obsoleta", que os aliados estão "explorando" os Estados Unidos e que não está preocupado com um rompimento da aliança. Apesar de isso poder ser bravata de campanha, a posição reflete a crescente não disposição dos Estados Unidos em arcar com uma parcela desproporcional do fardo da Otan, militar ou financeiramente.
A preocupação atual, e um importante elemento do que o secretário-geral da Otan, Jans Stoltenberg, chama de "maior reforço da defesa coletiva desde o final da Guerra Fria", é a decisão de posicionar quatro batalhões de combate com até 1.000 soldados em cada nos países da linha de frente, que fazem fronteira com a Rússia.
Apesar do Reino Unido, Alemanha e Estados Unidos terem concordado em liderar um batalhão cada, que serão preenchidos com soldados de outros aliados da Otan para preservar a ideia de forças multinacionais, ainda não se sabe quem liderará o quarto à medida que a cúpula de 8 e 9 de julho, em Varsóvia, rapidamente se aproxima.
Os Estados Unidos "não pensam em responder por dois", disse seu embaixador na Otan, Douglas E. Lute. "Estamos planejando liderar um e fazer com que nossos aliados se encarreguem" dos outros três.
Mas outros países maiores como Itália e França se recusaram. A Itália cortou seus gastos militares após prometer aumentá-los há dois anos no País de Gales. Seus líderes dizem que ela já está participando da recém-ampliada força de reação rápida da aliança.
Os posicionamentos são importantes, porque esses batalhões de combate visam não ser apenas alarmes, mas grandes o bastante e suficientemente bem-equipados para infligir dano real a um invasor. Então elas poderão ser reforçadas mais rapidamente pela força de reação rápida ampliada e, se também se aprovado, trabalhar com outra brigada blindada de combate americana de cerca de 5.000 soldados na Europa (para um total de três) e ter seu equipamento pesado, como tanques e artilharia, posicionado previamente.
A Polônia está exigindo que parte desse equipamento seja posicionado previamente em seu território, mas por ora, grande parte dele ficará na Alemanha, Bélgica e Holanda, que contam com instalações de armazenamento e transporte que datam da Guerra Fria.
Na verdade, apenas agora a Otan está de fato avaliando a infraestrutura (as pontes, estradas e ferrovias) dos membros relativamente novos no Centro e Leste Europeu, por antes não ter achado necessário planejar quão rapidamente reforçá-los em caso de uma invasão russa. O posicionamento prévio no Leste Europeu atualmente exigiria somas elevadas de investimento de capital para construção de novos depósitos especiais e infraestrutura, disse Lute.
A Polônia, ávida em enviar mensagens para Moscou, foi bem-sucedida em iniciar as obras para uma instalação de defesa antimísseis balísticos para coincidir com a abertura operacional de uma na Romênia. Apesar de Stoltenberg e Washington insistirem que essa defesa antimísseis não visa os mísseis balísticos intercontinentais russos, Moscou não está convencida.
A Otan está tentando tranquilizar membros vulneráveis como os países bálticos, Polônia e até os membros do sul, como a Romênia, Bulgária e a Turquia no Mar Negro, de que a aliança pretende cumprir sua promessa de defesa coletiva. A defesa antimísseis faz parte da resposta, juntamente com mais exercícios navais no Mar Negro e mais sobrevoos constantes por aeronaves de reconhecimento.
Como aponta Stoltenberg, o impacto da política russa finalmente levou os membros europeus da Otan a pelo menos suspender o declínio de décadas em gastos militares. Neste ano, ele disse, as estimativas são de que os aliados europeus, como um todo, aumentarão os gastos militares, algo que Washington vinha exigindo, apesar de a maioria ainda não estar gastando os 2% do produto interno bruto de acordo com a diretriz da Otan.
Dezesseis dos 28 países membros aumentaram os gastos militares em termos reais, com apenas a Itália, Bulgária e Croácia ainda cortando, apesar de insistirem que os cortes são temporários.
"Conheço o sentimento em Washington e entendo: os americanos querem ver os europeus fazendo mais, contribuindo mais", disse Stoltenberg. "Essa tem sido minha principal mensagem nas capitais europeias."
Ainda assim, há outra questão problemática ligada à Rússia para a Otan: como lidar com a nova doutrina militar russa que considera a utilidade de armas nucleares táticas no início de um conflito, como forma de dissuadir a retomada de território pelo adversário, seguida pelo que os planejadores chamam de "desescalada rápida".
Alguns países membros acreditam que a Rússia já possui armas nucleares no enclave de Kaliningrado, no Mar Báltico, onde exibiu publicamente ogivas nucleares em um exercício anterior. A Rússia não é clara sobre se elas já foram removidas.
Tradutor: George El Khouri Andolfato
Preocupações de segurança nunca foram tão grandes desde o final da Guerra Fria. Com a crise da imigração estremecendo as relações dentro do continente europeu, as ansiedades foram intensificadas pelas ofensivas militares russas na Crimeia e no leste da Ucrânia, assim como uma campanha de bombardeio na Síria que demonstrou as crescentes capacidades de Moscou. Ultimamente, a Rússia tem falado abertamente sobre a utilidade de armas nucleares táticas.
Apesar do aumento das ameaças, muitos países europeus ainda resistem a medidas fortes para fortalecer a Otan. Muitos permanecem relutantes em aumentar os gastos militares, apesar de promessas feitas. Alguns, como a Itália, estão cortando gastos. A França está revertendo ao seu ceticismo tradicional em relação à aliança, que vê como um instrumento da política americana e uma violação de sua soberania.
Isso sem contar as declarações do virtual candidato presidencial republicano, Donald Trump, de que a Otan está "obsoleta", que os aliados estão "explorando" os Estados Unidos e que não está preocupado com um rompimento da aliança. Apesar de isso poder ser bravata de campanha, a posição reflete a crescente não disposição dos Estados Unidos em arcar com uma parcela desproporcional do fardo da Otan, militar ou financeiramente.
A preocupação atual, e um importante elemento do que o secretário-geral da Otan, Jans Stoltenberg, chama de "maior reforço da defesa coletiva desde o final da Guerra Fria", é a decisão de posicionar quatro batalhões de combate com até 1.000 soldados em cada nos países da linha de frente, que fazem fronteira com a Rússia.
Apesar do Reino Unido, Alemanha e Estados Unidos terem concordado em liderar um batalhão cada, que serão preenchidos com soldados de outros aliados da Otan para preservar a ideia de forças multinacionais, ainda não se sabe quem liderará o quarto à medida que a cúpula de 8 e 9 de julho, em Varsóvia, rapidamente se aproxima.
Os Estados Unidos "não pensam em responder por dois", disse seu embaixador na Otan, Douglas E. Lute. "Estamos planejando liderar um e fazer com que nossos aliados se encarreguem" dos outros três.
Mas outros países maiores como Itália e França se recusaram. A Itália cortou seus gastos militares após prometer aumentá-los há dois anos no País de Gales. Seus líderes dizem que ela já está participando da recém-ampliada força de reação rápida da aliança.
Os posicionamentos são importantes, porque esses batalhões de combate visam não ser apenas alarmes, mas grandes o bastante e suficientemente bem-equipados para infligir dano real a um invasor. Então elas poderão ser reforçadas mais rapidamente pela força de reação rápida ampliada e, se também se aprovado, trabalhar com outra brigada blindada de combate americana de cerca de 5.000 soldados na Europa (para um total de três) e ter seu equipamento pesado, como tanques e artilharia, posicionado previamente.
A Polônia está exigindo que parte desse equipamento seja posicionado previamente em seu território, mas por ora, grande parte dele ficará na Alemanha, Bélgica e Holanda, que contam com instalações de armazenamento e transporte que datam da Guerra Fria.
Na verdade, apenas agora a Otan está de fato avaliando a infraestrutura (as pontes, estradas e ferrovias) dos membros relativamente novos no Centro e Leste Europeu, por antes não ter achado necessário planejar quão rapidamente reforçá-los em caso de uma invasão russa. O posicionamento prévio no Leste Europeu atualmente exigiria somas elevadas de investimento de capital para construção de novos depósitos especiais e infraestrutura, disse Lute.
A Polônia, ávida em enviar mensagens para Moscou, foi bem-sucedida em iniciar as obras para uma instalação de defesa antimísseis balísticos para coincidir com a abertura operacional de uma na Romênia. Apesar de Stoltenberg e Washington insistirem que essa defesa antimísseis não visa os mísseis balísticos intercontinentais russos, Moscou não está convencida.
A Otan está tentando tranquilizar membros vulneráveis como os países bálticos, Polônia e até os membros do sul, como a Romênia, Bulgária e a Turquia no Mar Negro, de que a aliança pretende cumprir sua promessa de defesa coletiva. A defesa antimísseis faz parte da resposta, juntamente com mais exercícios navais no Mar Negro e mais sobrevoos constantes por aeronaves de reconhecimento.
Como aponta Stoltenberg, o impacto da política russa finalmente levou os membros europeus da Otan a pelo menos suspender o declínio de décadas em gastos militares. Neste ano, ele disse, as estimativas são de que os aliados europeus, como um todo, aumentarão os gastos militares, algo que Washington vinha exigindo, apesar de a maioria ainda não estar gastando os 2% do produto interno bruto de acordo com a diretriz da Otan.
Dezesseis dos 28 países membros aumentaram os gastos militares em termos reais, com apenas a Itália, Bulgária e Croácia ainda cortando, apesar de insistirem que os cortes são temporários.
"Conheço o sentimento em Washington e entendo: os americanos querem ver os europeus fazendo mais, contribuindo mais", disse Stoltenberg. "Essa tem sido minha principal mensagem nas capitais europeias."
Ainda assim, há outra questão problemática ligada à Rússia para a Otan: como lidar com a nova doutrina militar russa que considera a utilidade de armas nucleares táticas no início de um conflito, como forma de dissuadir a retomada de território pelo adversário, seguida pelo que os planejadores chamam de "desescalada rápida".
Alguns países membros acreditam que a Rússia já possui armas nucleares no enclave de Kaliningrado, no Mar Báltico, onde exibiu publicamente ogivas nucleares em um exercício anterior. A Rússia não é clara sobre se elas já foram removidas.
Tradutor: George El Khouri Andolfato
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