ONG afirma que há células terroristas ativas
Canal do Estado Islâmico mantém contato com brasileiros após prisões
Vera Araújo - O Globo
RIO - Apesar das 11 prisões ocorridas anteontem durante a Operação Hashtag, da Polícia Federal, que desbaratou uma suposta célula terrorista, brasileiros continuariam a acessar um canal que faz propaganda sobre o Estado Islâmico. A informação é da ONG Global Intelligence Insight, uma empresa especializada no monitoramento de terroristas que usam as redes sociais para propagar suas ideias e arregimentar voluntários para a causa jihadista. A ONG tem sede em Londres e escritório em Lisboa.
Em entrevista pelo Skype, o fundador da organização, Vasco da Cruz Amador, disse não ter dúvidas de que há mais células se preparando para ataques durante os Jogos Olímpicos. Há pelo menos quatro brasileiros acessando um novo canal, pelo aplicativo Telegram. Por medida de segurança, ele não quis revelar o nome do grupo.
Um brasileiro, de codinome Pacheco, é o mais atuante, dando a entender ser o intermediador, segundo Vasco da Cruz:
— Posso garantir que é um grupo que transmite informações sobre o Estado Islâmico em geral, produz a disseminação da Jihad e ainda fornece notícias atualizadas do dia a dia deles. Também disponibilizaram salas de bate-papo reservados aos integrantes. Não há dúvidas de que se trata de uma outra célula, pois, mesmo com as prisões ocorridas ontem (quinta-feira), eles não se desconectaram.
Segundo ele, o novo canal foi criado há menos de um mês. Nele, há 7.726 fotos, 444 vídeos, 301 áudios, 2.066 pastas, 106 mensagens de voz e 1.671 links compartilhados. Uma das dificuldades citadas por Vasco da Cruz é o fato de não ser possível a quebra de criptografia no Telegram e WhatsApp, além das leis de segurança nacional que não permitem interceptações sem autorização judicial.
Ao lado do Nashir Português, já confirmado pela Agência Brasileira de Inteligência (Abin) como grupo criado para trocar mensagens sobre o Estado Islâmico em português, outro canal foi detectado pela Global Intelligence Insight: o Ansar al Khilafah Brazil. Segundo Vasco da Cruz, esse outro meio só interage por meio de mensagens privadas, mas é possível ter uma ideia de como eles agem. O fundador da ONG conta que esteve infiltrado em zonas de conflito com atuação de terroristas, que conhece as técnicas adotadas e que utiliza dados de fontes nos locais.
O secretário Extraordinário de Grande de Eventos, Andrei Rodrigues, disse não se surpreender com a profusão de canais, porque a arma do Estado Islâmico é fazer propaganda diferentes formas. O secretário criticou o que chama de “glamourização” da expressão “lobo solitário":
— Ela acaba chamando a atenção de pessoas que nunca pensaram em fazer nada. E tenho dúvidas sobre a conotação de solitário. Ninguém comete um ato ou se radicaliza sozinho. Uma ação terrorista é um ato complexo que pressupõe o envolvimento de outras pessoas.
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