Vila Olímpica foi entregue antes da checagem de instalações de água e luz
De acordo com o contrato, a rede de energia ficaria a cargo da organização da Olimpíada
Luiz Ernesto Magalhães - O Globo
RIO - A Vila dos Atletas foi entregue ao Comitê Organizador Rio 2016 sem que fossem verificadas as instalações elétricas e hidráulicas. De acordo com o contrato firmado com o consórcio Ilha Pura, formado pela construtora Carvalho Hosken e pela Odebrecht Realizações Imobiliárias, a instalação da rede de energia ficaria a cargo da organização da Olimpíada do Rio.
Já os problemas relacionados ao fornecimento de água, segundo fontes ouvidas pelo GLOBO, esbarraram na demora da conclusão das obras de ampliação da rede da Cedae. A intervenção foi concluída há algumas semanas, mas o sistema só teria começado a operar com plena capacidade na semana passada.
A situação tornou os cronogramas apertados, embora pelo menos desde o último domingo o Comitê Rio-2016 já soubesse que havia problemas não sanados na infraestrutura da vila. Os contratempos foram relatados, inclusive, por equipes precursoras das delegações. Segundo uma das fontes, a operação de logística, coordenada pelos organizadores, deixou para trás, em boa parte dos apartamentos, caixas de papelão, plásticos e outros objetos ao montar camas e instalar aparelhos de ar-condicionado e chuveiros.
Numa reunião na vila na sexta-feira, o prefeito Eduardo Paes acionou a Comlurb para fazer uma limpeza emergencial ao menos nas portarias e áreas comuns. No entanto, a limpeza dos apartamentos dependia do Comitê Rio-2016, que não conseguiu concluir os trabalhos a tempo, apesar de a montagem dos apartamentos ter começado há mais de um mês.
— Os testes com carga dos prédios da vila só puderam ser feitos a partir da semana passada. Nesse tipo de teste, é comum surgirem falhas que só podem ser detectadas nesses momentos — justificou o assessor da presidência da Carvalho Hosken, controladora do Ilha Pura, Henrique Caban.
FURTOS E VANDALISMO
Há relatos ainda de vandalismo e furtos nos prédios, o que ocorreu antes de a Força Nacional assumir a segurança da vila. Desapareceram desde itens que tinham sido instalados pelo consórcio, como chuveiros e torneiras, até artigos já colocados pelo Comitê Organizador após assumir a vila, como tampas de vasos sanitários. Os sinais de vandalismo foram identificados principalmente nas portas de alguns apartamentos, que foram arrombadas e empenadas.
O empresário Carlos Carvalho, dono da construtora, diz que os problemas serão resolvidos a curto prazo. Mas admite preocupação com a imagem do empreendimento, apesar de ressaltar que o considera de “alta qualidade”.
— Tudo que afete o sucesso da vila pode afetar o sucesso das vendas. E ainda tem a crise econômica, que dificulta. Por outro lado, essa é uma oportunidade de essa obra ser fiscalizada pelo mundo inteiro, o que vai atestar sua qualidade — disse Carvalho.
Os trabalhos para consertar o que foi entregue com defeito estão acontecendo 24 horas por dia. Ao todo, 630 operários foram contratados para a tarefa e estão trabalhando na vila, divididos em turnos. Uma das empresas é a Qualieng Engenharia de Montagens, que está com 40 funcionários na vila.
— Fomos chamados pela Odebrecht para ajudar a resolver os problemas hidráulicos e elétricos. O que vimos foram ralos entupidos e alguns vazamentos — afirmou o engenheiro Edson Armando Dalho, um dos sócios, ressaltando que a empresa não foi responsável por executar os serviços que apresentaram problemas.
Segundo o engenheiro, o Comitê Olímpico Australiano vai pagar pelo serviço, e a Odebrecht repassará o pagamento às empresas subcontratadas. A construtora não se pronunciou sobre o assunto e afirmou que as questões sobre a Vila dos Atletas deveriam ser encaminhadas à organização dos Jogos.
O diretor de Comunicação do Comitê Rio 2016, Mario Andrada, reconheceu que algumas unidades do empreendimento foram entregues com falhas, mas preferiu não polemizar.
— Do ponto de vista teórico, a construtora entrega o imóvel em perfeito estado. Do ponto de vista prático, não há quem não tenha recebido um imóvel novo, ou mesmo um carro novo, sem algum problema. A gente tem que olhar para a solução do problema — disse, evitando atrito também com o prefeito, que lembrou que “estava tudo bem encaminhado" quando a vila foi entregue à organização, no fim de maio. — Não cabe discutir agora quem errou, de onde veio, quem não fiscalizou. A primeira providência é concentrar esforços em acertar tudo. Hoje (ontem) já está melhor do que ontem. Amanhã (hoje) estará melhor, e na quinta-feira, tudo pronto. No mais tardar, quinta à noite todos os reparos estão prontos.