Merval Pereira - O Globo
O Prefeito Eduardo Paes é um exemplo típico de político promissor que pode se perder pela boca, e na falta de líderes que nos assola, tomara que encontre o justo balanço entre a desejável popularidade e o reprovável populismo.
Na reação imediata que teve diante da reclamação da equipe
australiana sobre as condições precárias dos alojamentos dos atletas
daquele país na Vila Olímpica, o prefeito Paes não resistiu a uma piada,
dizendo que estava pensando até em colocar alguns cangurus para que os
australianos se sentissem em casa.
Só depois de receber uma resposta à altura de sua inaceitável postura – “não precisamos de cangurus, mas de encanadores” – o prefeito Eduardo Paes assumiu a condição de um administrador responsável, e admitiu que são necessários reparos urgentes nos alojamentos, e não apenas no da Austrália.
À vergonha de não entregar em condições habitáveis os alojamentos dos atletas soma-se a arrogância de nossas autoridades, que não aceitam as críticas mais banais. O presidente do Comitê Organizador Brasileiro, Carlos Nuzman, teve a pachorra de afirmar que a Vila Olímpica é a melhor e mais bem montada de todas as Olimpíadas já realizadas no mundo.
Como se não soubesse dos problemas que o seu COB está tendo para até mesmo colocar produtos de limpeza nos alojamentos, no que foi providencialmente ajudado pelo Prefeito do Rio.
Cada quarto tem aparelhos transmissores de TV a cabo, mas não os televisores que estavam previstos. Por falta de dinheiro, há agora uma televisão por andar, mas provavelmente o COB está pagando os pontos de retransmissão de TV a cabo nos quartos.
É claro que a cidade do Rio de Janeiro é das mais bonitas, se não a mais bonita, do mundo, e as transmissões para os bilhões de espectadores do mundo inteiro terão deslumbrantes visuais. Mas não é possível esquecer, e os meios de comunicação do mundo inteiro não estão deixando isso acontecer, a poluição da Baía da Guanabara, que desafia governos seguidos há anos e nem mesmo a realização da Olimpíada com sete anos de antecedência serviu de estímulo a um trabalho mais sério.
É inevitável que as competições sejam atrapalhadas pelos entulhos jogados no mar e a repercussão internacional não será boa. E não vai adiantar achar ruim com os jornalistas internacionais, pois só estarão mostrando a triste realidade que não conseguimos superar. E nem dizer que a questão é federal ou estadual, não municipal.
Assim como é inadequado, para dizer o mínimo, o ministro Chefe do Gabinete Civil Eliseu Padilha tirar o corpo fora dizendo que esse problema da Vila Olímpica não tem nada a ver com o governo federal. Não tem mesmo, mas o governo Temer não escapará das críticas se alguma coisa der errado.
Eduardo Paes é provavelmente o melhor Prefeito que a cidade do Rio de Janeiro já teve nos últimos anos, superando em criatividade e realizações seu mentor, o ex-prefeito Cesar Maia. Mas se excede na maneira artificialmente descontraída com que se comunica. Alguém precisa dizer a ele que ser carioca não quer dizer ser ligeiro nos comentários, nem piadista fora de hora. Essas são, na verdade, características negativas do carioca, que não devem ser valorizadas.
Espera-se de um líder justamente o exemplo de comportamento, e não a leviandade de gestos e atitudes que o ex-governador Sérgio Cabral gostava de exibir, e de que Eduardo Paes perigosamente se aproxima. Sua melhor versão é a de ontem, quando tratou a sério dos problemas da Vila Olímpica, e não aquela que ficou na conversa telefônica com o ex-presidente Lula, por exemplo, em que desandou a fazer comentários ligeiros sobre tudo e todos, querendo ficar à altura do político popular que é Lula.
O mesmo já havia acontecido com o ex-governador Sérgio Cabral, flagrado em um vídeo ao lado de Lula tratando mal um adolescente de uma comunidade que reclamava uma quadra de tênis. Cabral menospreza o desejo, dizendo que tênis era um esporte burguês. Os dois, diante do líder popular, exibiram posturas supostamente populares, e só foram banais.
Mesmo que essa Olimpíada não seja o trampolim para impulsionar Eduardo Paes da Prefeitura do Rio para a candidatura presidencial, como chegou a ser aventado em algum momento, ela pode vir a ser o coroamento de uma gestão arrojada e competente que levará o Prefeito do Rio a uma carreira política promissora.
Desde que deixe de lado essa busca da popularidade fácil.
Só depois de receber uma resposta à altura de sua inaceitável postura – “não precisamos de cangurus, mas de encanadores” – o prefeito Eduardo Paes assumiu a condição de um administrador responsável, e admitiu que são necessários reparos urgentes nos alojamentos, e não apenas no da Austrália.
À vergonha de não entregar em condições habitáveis os alojamentos dos atletas soma-se a arrogância de nossas autoridades, que não aceitam as críticas mais banais. O presidente do Comitê Organizador Brasileiro, Carlos Nuzman, teve a pachorra de afirmar que a Vila Olímpica é a melhor e mais bem montada de todas as Olimpíadas já realizadas no mundo.
Como se não soubesse dos problemas que o seu COB está tendo para até mesmo colocar produtos de limpeza nos alojamentos, no que foi providencialmente ajudado pelo Prefeito do Rio.
Cada quarto tem aparelhos transmissores de TV a cabo, mas não os televisores que estavam previstos. Por falta de dinheiro, há agora uma televisão por andar, mas provavelmente o COB está pagando os pontos de retransmissão de TV a cabo nos quartos.
É claro que a cidade do Rio de Janeiro é das mais bonitas, se não a mais bonita, do mundo, e as transmissões para os bilhões de espectadores do mundo inteiro terão deslumbrantes visuais. Mas não é possível esquecer, e os meios de comunicação do mundo inteiro não estão deixando isso acontecer, a poluição da Baía da Guanabara, que desafia governos seguidos há anos e nem mesmo a realização da Olimpíada com sete anos de antecedência serviu de estímulo a um trabalho mais sério.
É inevitável que as competições sejam atrapalhadas pelos entulhos jogados no mar e a repercussão internacional não será boa. E não vai adiantar achar ruim com os jornalistas internacionais, pois só estarão mostrando a triste realidade que não conseguimos superar. E nem dizer que a questão é federal ou estadual, não municipal.
Assim como é inadequado, para dizer o mínimo, o ministro Chefe do Gabinete Civil Eliseu Padilha tirar o corpo fora dizendo que esse problema da Vila Olímpica não tem nada a ver com o governo federal. Não tem mesmo, mas o governo Temer não escapará das críticas se alguma coisa der errado.
Eduardo Paes é provavelmente o melhor Prefeito que a cidade do Rio de Janeiro já teve nos últimos anos, superando em criatividade e realizações seu mentor, o ex-prefeito Cesar Maia. Mas se excede na maneira artificialmente descontraída com que se comunica. Alguém precisa dizer a ele que ser carioca não quer dizer ser ligeiro nos comentários, nem piadista fora de hora. Essas são, na verdade, características negativas do carioca, que não devem ser valorizadas.
Espera-se de um líder justamente o exemplo de comportamento, e não a leviandade de gestos e atitudes que o ex-governador Sérgio Cabral gostava de exibir, e de que Eduardo Paes perigosamente se aproxima. Sua melhor versão é a de ontem, quando tratou a sério dos problemas da Vila Olímpica, e não aquela que ficou na conversa telefônica com o ex-presidente Lula, por exemplo, em que desandou a fazer comentários ligeiros sobre tudo e todos, querendo ficar à altura do político popular que é Lula.
O mesmo já havia acontecido com o ex-governador Sérgio Cabral, flagrado em um vídeo ao lado de Lula tratando mal um adolescente de uma comunidade que reclamava uma quadra de tênis. Cabral menospreza o desejo, dizendo que tênis era um esporte burguês. Os dois, diante do líder popular, exibiram posturas supostamente populares, e só foram banais.
Mesmo que essa Olimpíada não seja o trampolim para impulsionar Eduardo Paes da Prefeitura do Rio para a candidatura presidencial, como chegou a ser aventado em algum momento, ela pode vir a ser o coroamento de uma gestão arrojada e competente que levará o Prefeito do Rio a uma carreira política promissora.
Desde que deixe de lado essa busca da popularidade fácil.
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