quarta-feira, 27 de julho de 2016

Vida real imita o filme e manda seguir o dinheiro
Divulgação
Cena do filme "Todos os Homens do Presidente", de 1976 ***DIREITOS RESERVADOS. NÃO PUBLICAR SEM AUTORIZAÇÃO DO DETENTOR DOS DIREITOS AUTORAIS E DE IMAGEM***
Cena do filme "Todos os Homens do Presidente", de 1976
Ruy Castro - FSP
RIO DE JANEIRO - No filme "Todos os Homens do Presidente" (1976), Robert Redford e Dustin Hoffman interpretam os repórteres do "Washington Post" que desbarataram o complô da Casa Branca contra o Partido Democrata, naquele que, na vida real, em 1972, ficou conhecido como o "caso Watergate". Boa parte de suas informações vinha de uma fonte secreta – "Garganta Profunda", como o jornal a chamou – num estacionamento noturno. Aos sussurros, o sujeito sempre lhes recomendava: "Sigam o dinheiro".
A fonte também era real e se chamava William Mark Felt. Era o nº 2 do FBI, e suas revelações para os jornalistas levaram ao desmoronamento de um esquema criminoso dentro do governo americano e à renúncia do, em última instância, mandante do crime: o presidente Nixon. O surpreendente é que, nas conversas com eles, Felt nunca disse "Sigam o dinheiro". Essa frase só existiu no filme, criada pelo roteirista William Goldman. Típico caso do cinema aperfeiçoando a realidade.
Mas, se não existia, passou a existir, e a ser aplicada por outros jornalistas, policiais e promotores dedicados a esmiuçar sujeiras praticadas por membros de governos em associação com políticos, executivos de estatais e empresários. Muitas vezes, no ato de seguir o dinheiro, puxa-se uma pena e sai uma galinha. Ou um galinheiro completo.
Em recente documento interno, maquiado para uso externo, o PT admitiu que alguns de seus membros mais puros se deixaram seduzir pelos irresistíveis corruptores da elite branca e se desviaram do rumo traçado para a redenção do povo brasileiro. Em contrapartida, há dias, altos dirigentes de megaempresas relataram os achaques a que tinham de se submeter para ver seus projetos aprovados pelo governo do PT. Como se vê, todos inocentes.
Ou, como dizia Nelson Rodrigues, todos inocentes e todos cúmplices. 

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