Matias Spektor - FSP
Pedro Ladeira/Folhapress | ||
Agentes da PF cumprem mandado na sede do Ministério da Agricultura pela Operação Carne Fraca |
A imagem comum do vício é o indivíduo que não consegue soltar a seringa
de heroína ou a garrafa de pinga. É o sujeito que padece de uma
compulsão incontrolável à pornografia ou às redes sociais, perdendo seu
emprego e comprometendo seus laços afetivos no meio do caminho.
Esse tipo de dependência incontrolável também ocorre na política, quando uma classe governante torna-se refém de práticas das quais não consegue se livrar, mesmo quando elas atentam contra seus próprios interesses.
O caso brasileiro ilustra esse problema. Há décadas, a classe política é dependente de esquemas de patronagem, clientelismo e corrupção. Sem essas artimanhas, o político não consegue destravar os nós do Estado nem garantir a cooperação do mercado para governar. Dependente de seu vício para sobreviver, ele topa até mesmo sacrificar áreas vitais da economia nacional –seja a extração de petróleo, a geração de energia ou a exportação de proteínas.
No processo, a classe política compromete aquelas atividades das quais depende seu próprio êxito eleitoral: o emprego, a renda e os serviços públicos oferecidos ao eleitor.
A gravidade do problema é bem exemplificada pelo caso de José Dirceu. Mesmo depois de ter caído em desgraça pelo mensalão, ele continuou a operar, como sempre o fizera, enquanto seu processo corria na corte suprema. Mantendo sua compulsão intocada, cavou a própria cova um pouco mais fundo.
A classe política como um todo padece de um problema similar. Diante de evidências de que algo precisa mudar, insiste no erro. Foi isso que uma parte do PT tentou fazer nesta semana, ao justificar e defender o uso do caixa dois. A tentativa é patética porque não salva o comando da sigla da guilhotina e, de quebra, joga um fardo ainda mais pesado sobre as novas gerações, a quem caberá um dia restaurar a viabilidade eleitoral da esquerda brasileira.
A Operação Carne Fraca é o capítulo mais recente da história de vício insuperável que aflige a política brasileira. Mesmo num mercado hiper-sensível como o da carne –no qual qualquer dúvida sobre poucos frigoríficos pode estraçalhar a reputação do Brasil em escala global– a tentação pela boquinha foi mais forte que o instinto de sobrevivência.
Como reagiu a classe? Defendendo o indefensável. "A espetacularização da cobertura é muito mais grave que o fato [da corrupção]", disse Moreira Franco. "Praticaram um crime de lesa-pátria", fustigou Kátia Abreu contra a Polícia Federal. "Temos que colocar resistência", afirmou Renan Calheiros. Ô se tem.
Esse tipo de vício nefasto e maníaco sempre cobra a sua conta.
Esse tipo de dependência incontrolável também ocorre na política, quando uma classe governante torna-se refém de práticas das quais não consegue se livrar, mesmo quando elas atentam contra seus próprios interesses.
O caso brasileiro ilustra esse problema. Há décadas, a classe política é dependente de esquemas de patronagem, clientelismo e corrupção. Sem essas artimanhas, o político não consegue destravar os nós do Estado nem garantir a cooperação do mercado para governar. Dependente de seu vício para sobreviver, ele topa até mesmo sacrificar áreas vitais da economia nacional –seja a extração de petróleo, a geração de energia ou a exportação de proteínas.
No processo, a classe política compromete aquelas atividades das quais depende seu próprio êxito eleitoral: o emprego, a renda e os serviços públicos oferecidos ao eleitor.
A gravidade do problema é bem exemplificada pelo caso de José Dirceu. Mesmo depois de ter caído em desgraça pelo mensalão, ele continuou a operar, como sempre o fizera, enquanto seu processo corria na corte suprema. Mantendo sua compulsão intocada, cavou a própria cova um pouco mais fundo.
A classe política como um todo padece de um problema similar. Diante de evidências de que algo precisa mudar, insiste no erro. Foi isso que uma parte do PT tentou fazer nesta semana, ao justificar e defender o uso do caixa dois. A tentativa é patética porque não salva o comando da sigla da guilhotina e, de quebra, joga um fardo ainda mais pesado sobre as novas gerações, a quem caberá um dia restaurar a viabilidade eleitoral da esquerda brasileira.
A Operação Carne Fraca é o capítulo mais recente da história de vício insuperável que aflige a política brasileira. Mesmo num mercado hiper-sensível como o da carne –no qual qualquer dúvida sobre poucos frigoríficos pode estraçalhar a reputação do Brasil em escala global– a tentação pela boquinha foi mais forte que o instinto de sobrevivência.
Como reagiu a classe? Defendendo o indefensável. "A espetacularização da cobertura é muito mais grave que o fato [da corrupção]", disse Moreira Franco. "Praticaram um crime de lesa-pátria", fustigou Kátia Abreu contra a Polícia Federal. "Temos que colocar resistência", afirmou Renan Calheiros. Ô se tem.
Esse tipo de vício nefasto e maníaco sempre cobra a sua conta.
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