Recuo de Temer promete mais crise fiscal em estados
Se a retirada dos estados da PEC da
Previdência pode facilitar a aprovação desta reforma, governadores
conviverão com difícil situação financeira
O Globo
Por temerem pressões de corporações de professores, policiais civis e
outras, governadores haviam pedido que o governo federal incluísse a
reforma da Previdência de seu funcionalismo — a depender do caso, como o
Rio de Janeiro, bastante deficitária — na emenda constitucional que
tentará atualizar o Regime Geral (INSS) e o Regime Próprio (servidores
federais), tornando suas regras menos díspares, e enfim condizentes com a
nova realidade demográfica do país. Assim foi feito, mas agora o
Planalto, num jogo de empurra, devolve o problema aos estados, para
facilitar a aprovação da PEC no Congresso.
Pode ajudar no plano político. Aprovada a emenda, será um avanço e
aliviará as contas públicas, se pontos básicos da reforma federal forem
aprovados: como a idade mínima de 65 anos para a aposentadoria, com um
gatilho demográfico — o limite subirá à medida que a expectativa de vida
do brasileiro aumente —, e, além de outros aspectos, não sofrerem
grandes alterações as regras de transição para o novo regime.
Mas não é verdade que o inexorável atraso na reforma das
previdências dos estados não provocará efeitos negativos no equilíbrio
fiscal do conjunto do setor público. Haverá problemas, porque os estados
tenderão a contribuir menos para o superávit primário, essencial na
redução da perigosa proporção da dívida pública em relação ao PIB, já
nos 70% e em ascensão. E se trata de uma ajuda ponderável: segundo o
economista Raul Velloso, de 2002 a 2014, o conjunto desses entes
federativos foi responsável por 26% do saldo positivo nas contas de todo
o setor público. Por certo, esta contribuição cairá.
A partir de agora, pressionados, os governadores precisarão tratar
de obter apoio nas assembleias para fazer a reforma de que queriam
escapar. O Rio de Janeiro, então, se já não tinha alternativa a não ser
aprovar o aumento de 11% para 14% da contribuição de servidores à
Previdência estadual, uma das contrapartidas à ajuda da União, terá
também de enfrentar corporações como a dos professores, cujas regras de
tempo de serviço são insustentáveis do ponto de vista fiscal e
injustificáveis no aspecto demográfico.
Um governo nas cordas, como o de Luiz Fernando Pezão, deixará a
difícil missão como herança ao sucessor, a ser eleito em 2018. Na
verdade, poucos se arriscarão nessa reforma, em época de eleições.
O recuo de Temer significa, então, que o sistema previdenciário
brasileiro deverá ter um encontro marcado nos próximos anos com um novo
estouro, o da Previdência de muitos estados. Sendo que algumas já
explodiram, como a fluminense e agaúcho.
Tudo vai depender dos governadores e dos deputados estaduais da safra
de 2019, se eles conseguirão fazer este ajuste. Somadas, as
previdências estaduais encerraram 2015 com um déficit de R$ 64 bilhões. E
projeta-se para 2020, caso nada seja feito — olhando-se do quadro
político atual, o mais provável —, um buraco de R$ 101 bilhões.
Os prognósticos não são mesmo otimistas, e pode-se marcar no
calendário nova rodada de negociação de dívidas estaduais e grandes
municípios, mais à frente. A não ser que a Lei de Responsabilidade
Fiscal seja levada mesmo a sério.
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