Fim do imposto sindical é medida saneadora
Defendido por Lula nos primórdios do PT, o
fim da contribuição compulsória aos sindicatos está em proposta de
reforma e, se aprovado, modernizará relações trabalhistas
O Globo
Essa discussão é outra das antigas. Assim que a ditadura militar, no
final do governo Geisel, na década de 70, permitiu alguma reivindicação e
algum debate, metalúrgicos do ABC, com Luiz Inácio Lula da Silva na
liderança, alçaram a bandeira do combate à “herança varguista”.
Nela, estavam e continuam não apenas a Consolidação das Leis do
Trabalho (CLT), mas também o imposto sindical e o monopólio territorial,
a chamada “unicidade sindical.” Os dois somados constituem lucrativa
reserva cartorial de mercado.
O tempo correu, Lula e CUT chegaram ao poder, e as bandeiras do
passado foram recolhidas. Há na CUT quem ainda balbucie algum argumento
contra o imposto. Mas nada em voz alta. O então presidente Lula esqueceu
as lutas do final da década de 70/início de 80, e até oficializou as
centrais, por medida provisória, colocando-as dentro do aparato legal
varguista, tão alvejado por ele e metalúrgicos 30 anos antes.
O objetivo de despejar nas centrais dinheiro público, do imposto, foi
atingido —, e sem precisar de prestação de contas. Uma festa.
No atual ciclo de reformas, em que conceitos da CLT estão sendo
revistos, surge uma oportunidade concreta de se realizar o sonho do
jovem Lula: não haver imposto sindical, mas contribuição espontânea.
Para sindicatos de empregados e patrões.
A proposta consta do relatório da reforma trabalhista, na Câmara, de
autoria de Rogério Marinho (PSDB-RN). Tudo o que Lula e sindicalistas do
ABC defendiam no final da década de 70 é verdade: o imposto sindical,
retirado pelo Estado, de forma compulsória, do salário de todos — o
equivalente a um dia de trabalho —, é um dinheiro fácil, que acomoda os
dirigentes e os coloca distantes da massa de trabalhadores. Perdem
representatividade.
Estima-se em R$ 3 bilhões anuais a arrecadação, distribuídos entre
10.123 sindicatos, dado de 2015. Eis por que há sempre grupos de
supostos representantes de categorias em busca de alvarás, no Ministério
do Trabalho, para criar o próprio sindicato. É um rentável negócio,
como demonstram incontáveis reportagens sobre esquemas que se
especializaram em privatizar este dinheiro público.
Outra medida complementar seria acabar com a tal “unicidade
sindical”. A competição entre sindicatos em busca de mais afiliados
resultará, por certo, em serviços mais eficientes prestados às
categorias.
O fim deste imposto, com medidas correlatas, é saneador em todos os
aspectos: na eliminação de desvios desse dinheiro para desvãos sindicais
e o próprio aumento da importância do sindicato.
Será, caso ocorra, emblemático, por retirar em alguma proporção o
Estado do circuito das relações patrões e empregados, sempre motivo de
medidas populistas e deslavada demagogia.
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