Brasília em transe
Disputas de grupos dentro da Polícia Federal e do
Ministério Público, disputa de grupos políticos em busca de saídas para a
enrascada em que se meteram. E todos parecem já terem passado do ponto
de não retorno, enquanto o Palácio do Planalto procura debilmente manter
uma certa ordem na casa para escapar do naufrágio que volta e meia
parece inevitável.
O fato do dia ontem foi o encontro do ministro
Gilmar Mendes com o Procurador-Geral da República, Rodrigo Janot, na
posse de Alexandre Moraes no Supremo Tribunal Federal. Os dois estariam à
distância de uma cusparada, como se diz nas brigas de rua, com apenas a
autoridade moral do ministro Celso de Mello e sua bengala entre os
dois.
Na manhã de ontem, o Procurador Janot respondera duramente a
críticas ao Ministério Público feitas por Gilmar Mendes no dia anterior.
Gilmar se referira a um episódio narrado pela Ombudsman da Folha de S.
Paulo, Paula Cesarino, que considerou inaceitável.
Segundo ela, os
Procuradores de Curitiba vazaram os principais nomes dos processos
gerados pelas delações premiadas da Odebrecht em um encontro informal
com diversos jornalistas, provocando uma cobertura semelhante e
dirigida.
Se realmente existiu essa “coletiva em off”, quando, no
jargão jornalístico, a informação é dada com a proteção da fonte, é
realmente uma banalização das informações sobre assuntos sigilosos. Ou,
nas palavras duras de Gilmar Mendes, uma “violação de segredo
funcional”.
O ministro do Supremo chegou a dizer que sugerira
anteriormente “o descarte de material vazado, uma espécie de
contaminação de provas colhidas licitamente, mas divulgadas
ilicitamente”. E insinuou, com palavras cuidadosas: “acho que nós
deveríamos considerar este aspecto”.
Como o ministro Gilmar Mendes
tem sido um crítico duro de exageros e irregularidades que detecta nas
ações do Ministério Público em Curitiba, e de abusos que vê, por
exemplo, nas prisões temporárias alongadas determinadas pelo Juiz Sérgio
Moro, atribui-se a ele a liderança, na área do Judiciário, de ações que
poderiam levar à neutralização da Operação Lava Jato.
O Procurador
Rodrigo Janot reagiu com uma grande rispidez, e não teve o cuidado de
esperar o fim do dia, para evitar que na posse do novo ministro houvesse
uma situação no mínimo constrangedora. Logo pela manhã, ele aproveitou
uma reunião do Ministério Público Federal que chefia para assumir a
defesa dos seus, acusando, sem citá-lo nominalmente, Gilmar Mendes de
ter tido uma “desinteria verbal”, e atribuindo as acusações à
“decrepitude moral” do ministro do STF.
Janot disse que as denúncias
são fatos distorcidos, e classificou de “instrumentos legítimos de
comunicação institucional” a suposta coletiva informal. Um bate-boca
entre dois próceres da República que por esses dias não anda lá muito
bem das pernas.
No Congresso, ao mesmo tempo em que temas de
interesse nacional são votados, como a terceirização de mão de obra e a
reforma da Previdência, providencia-se nos bastidores uma anistia
política genérica ao Caixa 2, como se fosse possível escapar das
punições pelos crimes cometidos com uma canetada.
Os crimes estão
previstos na lei: corrupção ativa, corrupção passiva, lavagem de
dinheiro. Será inócuo tentar aprovar uma anistia geral e irrestrita dos
políticos envolvidos na Operação Lava Jato, por que, ao final, o Supremo
Tribunal Federal definirá claramente o que foi simples infração
eleitoral, e o que é pura e simplesmente crime.
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