Na economia, eleição de 2018 começa já
Vinicius Torres Freire - FSP
Qualquer candidato a presidente em 2018 apresentará um programa que vai
assustar o eleitorado ou os donos do dinheiro. Ou vai mentir e cometer
estelionato eleitoral.
A previsão não é muito esperta. Quase qualquer disputa eleitoral pode
ser enquadrada nessa descrição, ainda mais no Brasil. Mas a situação
econômica muito estrita do governo de 2019-22 deve dar caráter mais
dramático a essas alternativas.
O prognóstico parece precoce. Não é mais. Dada a agonia brasileira, esse
debate já ocupa as especulações dos credores do governo ("mercado"). Em
breve estará disseminado pela elite econômica. A partir de outubro, por
aí, terá implicações para a estabilidade financeira do país.
Um crescimento acelerado da economia e da arrecadação do governo em
2017-18, um total de 5%, digamos, atenuaria o drama político-econômico
de 2019, mas é agora implausível. No mais, o "teto" de gastos, a dívida
pública crescente e metas de inflação mais estritas condicionariam, de
qualquer modo, dois tipos de programa para 2019.
Na ausência ou desidratação severa de uma reforma da Previdência, a
despesa do governo estará engessada no mais tardar em 2020, dado o
"teto". O eleito de 2018 mal poderá remanejá-las ou inventar programas,
se tiver alguma capacidade operacional. O caso do Rio nos espreita.
Um candidato que chamaremos de Azul tentaria dar conta do problema sem assustar o "mercado".
A fim de manter a despesa sob o "teto", defenderá reforma da Previdência
tão ou mais ampla que a atual. Quanto menos ampla, mais terá de
recorrer à redução de despesas sensíveis: baixar o gasto de saúde e
educação ao piso legal, reduzir salários reais de servidores.
Não haverá reajuste real do salário mínimo a partir de 2020 ou o piso
dos benefícios previdenciários será menor que o mínimo. Pode ser
necessário privatizar a educação superior pública ou serviços de saúde
para cidadãos de maior renda. Mesmo assim, talvez proponha imposto
extra, para conter o crescimento da dívida.
A fim de influenciar ritmo e modos de evolução da economia, terá de
privatizar, conceder obras e serviços ao setor privado, mas em massa,
para o que terá de acelerar reformas microeconômicas, de cunho dito
"liberal". Parece a "Ponte para o Futuro"? É por aí, mais firme e forte.
O candidato Vermelho talvez possa manter o "teto" de gastos. A fim de
cumprir promessas de reativação econômica via estímulos fiscais (gasto),
pode recorrer a fundos extraorçamentários. Para burlar o teto, pode
transferir o dinheiro para Estados e regular seus investimentos.
Para tanto, para investir mais, terá de elevar impostos; tributará ainda
mais, a fim de evitar o aumento da dívida. Pode ainda recorrer a bancos
públicos, que seriam engordados, ou até a uma agência financeira nova
qualquer.
Mais provável, deve propor emenda para abrir parte do "teto": gastar
mais, desde que se destine o dinheiro a investimentos. De modo atenuado,
deve conter o gasto previdenciário, ao menos para não queimar dinheiro
de investimentos em gasto do INSS.
Azul terá dificuldade de vender seu peixe reformista nas urnas. Vermelho
será acossado pelo "mercado". A bandeira de um candidato de interesse
do país teria manchas de azul e vermelho profundos.,,,,
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