Lição da realidade
Estudar a economia dos últimos 14 anos é básico para se saber o rumo que o país tem de seguir
O Globo
Usada em incontáveis tentativas de terapias contra inflação e recessão, a
economia brasileira tem servido de laboratório para vários experimentos.
O mais bem-sucedido, o Plano Real, cortou a trajetória rumo ao infinito
da inércia inflacionária — pela qual, a inflação sobe hoje porque subiu
ontem —, fez uma troca de moeda engenhosa e ainda pôde corrigir o erro
de uma âncora cambial rígida, sem colocar tudo a perder. Foi o que
aconteceu em 1999, no início do segundo mandato de FH, quando se liberou
o câmbio e estabeleceu-se a política do tripé — câmbio oscilante,
gastos sob controle e metas de inflação.
Tanto deu certo que tem permitido a reconstrução da economia, nesses
mesmo moldes — depois da catástrofe lulopetista de uma recessão na faixa
de 8%, desemprego de 14 milhões de pessoas e inflação mais uma vez em
dois dígitos —, embora ainda falte a sinalização de uma saída para a
crise política, a fim de haver um horizonte claro para investidores e
consumidores.
Conhecer a história econômica dos últimos 14 anos é essencial para
que não se repitam erros — embora haja correntes no Brasil que nunca
esquecem e nada aprendem. Ilustrativo que este capítulo da crônica
econômica comece com a sensata manutenção por Lula, em seu primeiro
mandato, em 2003, do conceito do tripé. O dólar disparara na campanha de
2002, puxado pela expectativa pessimista dos mercados diante da
perspectiva de vitória de Lula, e desfechara forte choque inflacionário.
O índice chegaria aos dois dígitos. O bom senso, naquele momento, de
Lula permitiu que, com Antonio Palloci na Fazenda e Henrique Meirelles
no Banco Central, terapias ortodoxas, infalíveis, fossem aplicadas:
juros altos, aperto das despesas. Assim, a inflação cedeu, a economia
voltou a girar e pôde se beneficiar de um histórico movimento de
expansão sincronizada das maiores economias do mundo, turbinada pela
China e seu “socialismo de mercado”.
Reeleito, Lula, porém, iria, no segundo mandato, ressuscitar os
dogmas da velha visão petista sobre economia, com o condimento
brizolista de Dilma Rousseff, chefe da Casa Civil, abrigada no Rio
Grande do Sul, no PDT fundado pelo caudilho.
O preço social, humano e no rompimento de estruturas produtivas foi
alto demais, injustificável. Mas da aplicação do “novo marco
macroeconômico”, derivado dos dogmas “desenvolvimentistas” de Dilma e
PT, restou a lição do erro fatal que é intervir com a mão pesada do
Estado em “preços” fundamentais como juros e câmbio que, se manipulados
de forma voluntariosa, produzem efeitos colaterais ruinosos. Como vistos
em 2015.
Restaurar a credibilidade do Banco Central, baixar os juros à medida
que passe a haver coerência entre políticas fiscal e monetária, para que
se voltem ao mesmo objetivo da redução da inflação, é receita simples,
mas que lentes embaçadas de ideologia não veem.
Os resultados estão à mostra: inflação em queda vertiginosa (está
hoje em 3%, voltará a subir, mas não muito). PIB em lenta recuperação.
Apenas à espera de uma definição no cenário político. Deve-se aprender
com a lição prática.
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