Sinal de rádio vindo de Ross 128, estrela a 11 anos-luz de distância, intriga astrônomos
Com isso, a bola foi passada também a outros cientistas, dentre eles
os do Instituto SETI, na Califórnia, que estão usando o Allen Telescope
Array para confirmar ao menos que o sinal existe mesmo e está vindo de
Ross 128. O que não vai ser fácil — o único outro radiotelescópio no
mundo que seguramente poderia detectá-lo é o chinês FAST, que, no
entanto, ainda está em fase de calibração.
Esses são os fatos. Mas não, ninguém acha a essa altura que tenhamos
detectado mesmo uma transmissão proveniente de uma civilização
extraterrestre. Há possíveis explicações muito mais convincentes do que
essa para o sinal.
“Nós não sabemos a origem desses sinais mas há três explicações
principais”, diz Abel Mendez, da Universidade de Porto Rico, líder da
descoberta. “Elas poderiam ser emissões de Ross 128 similares a erupções
solares do tipo II, emissões de outro objeto no campo de visão de Ross
128, ou apenas um disparo de um satélite em órbita alta, já que
satélites em órbita baixa se movem rapidamente para fora do campo de
visão.”
Mendez aponta que cada uma das três explicações favoritas tem
problemas. Erupções solares de tipo II normalmente ocorrem a frequências
muito mais baixas, não há muitos objetos próximos no campo de visão de
Ross 128 e nunca vimos satélites produzirem disparos de rádio como este.
Ainda assim, ele ressalta, a hipótese de inteligência extraterrestre
vem no pé da lista de possibilidades.
Por quê? Por duas razões. Primeiro, porque o sinal é tudo que não
esperávamos de uma transmissão deliberada de alienígenas. Em vez de
adotar uma banda estreita (como nossas transmissões de rádio, que se
concentram numa única sintonia para usar melhor a energia disponível), o
sinal tem uma banda larga, típica de fenômenos naturais. Ele também não
está na faixa de frequências tipicamente associada à busca de
inteligência extraterrestre (entre 1,42 GHz e 1,66 GHz) e sim na banda
C, entre 4 GHz e 5 GHz. (Com efeito, os pesquisadores estavam colhendo
dados para estudar atividade estelar e, com alguma sorte, detectar
planetas, mas não procurar as transmissões de um Datena alienígena.)
Segundo, porque “inteligência extraterrestre” é, por padrão, sempre a
hipótese menos provável. “Afirmações extraordinárias exigem evidências
extraordinárias”, lembra? Para ETs entrarem no jogo, precisamos
descartar todas as hipóteses mais mundanas.Detecção original foi feita com a antena gigante de Arecibo (Crédito NAIC)
O QUE EXATAMENTE FOI DETECTADO?
O sinal consistiu em pulsos quase-periódicos, observados em 12 de
maio e descobertos nos dados somente duas semanas depois. “Esse sinal
não só se repetia com o tempo, mas também ia descendo pelo sintonizador
do rádio, algo como um trombone indo de uma nota mais alta para uma mais
baixa”, descreveu o astrônomo Seth Shostak, do Instituto SETI. “Isso
era estranho, de fato.”
Diante do mistério, novas observações foram feitas por Arecibo no
último domingo (16), em parceria com o Telescópio de Green Bank e o já
mencionado Allen Telescope Array. Mas ainda não foram emitidas quaisquer
conclusões sobre essas novas observações.
Ross 128 já esteve na lista de diversos programas de “escuta” SETI no
passado, e nunca algo suspeito foi encontrado. Provavelmente, há uma
explicação natural para essa nova descoberta — ou talvez a “clássica”
interferência de rádio artificial vinda da Terra, que já “sabotou”
tantos sinais promissores no passado. Mas, em ciência, nunca se pode
tomar uma probabilidade por uma confirmação. É preciso checar. E os
cientistas não estão perdendo tempo para fazer isso. Prometem analisar
os novos dados até o final da semana.
“Claro que é possível que Ross 128 vá perder seu anonimato e se
tornar o primeiro sistema estelar a mostrar boas evidências de
inteligência extraterrestre”, provoca Shostak. “Mas é provável — pelo
menos com base em experiências passadas — que iremos encontrar outra
explicação, menos romântica, para o mistério que no momento envolve este
objeto. Essa é, claro, uma ocorrência frequente para qualquer um que
conduza exploração, e dificilmente é causa para desencorajamento; é,
sim, um incentivo para continuarmos a busca.”
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