Caso Santander: vilipêndio a culto é ilegal, e isso basta
Olavo de Carvalho - MSM
Discutir gayzismo e antigayzismo a propósito do caso Santander só
prova incapacidade de discernir entre o confronto de opiniões e o quadro
legal que o regula. Isso denota pura e simples IMATURIDADE PARA O
EXERCÍCIO DA CIDADANIA. O que está em questão no episódio não são
opiniões pró e contra isto ou aquilo, mas a simples TIPIFICAÇÃO LEGAL DE
UM CRIME. O texto da lei é claro: “Vilipendiar objeto de culto.” Ponto
final. É só disso que se trata. A lei é a mesma para gayzistas e
antigayzistas, progressistas e conservadores, cristãos e anticristãos.
Dissolver essa evidência numa tagarelice ideológica é trapaça, da parte
do acusado, e burrice, da parte dos queixosos.
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A existência de um quadro legal que regula os confrontos de opiniões é
o que define uma DEMOCRACIA. Sem o quadro legal, há só o império do
mais forte. Numa democracia, todas as opiniões são lícitas, mas nem tudo
o que você faz em nome delas é lícito. Posso ser antigayzista, mas não
posso sair batendo em gays. Posso ser anticristão, mas não posso
vilipendiar objeto de culto cristão, porque isso é crime definido no
Código Penal, Art. 208.
Praticamente todos os palpites que ouvi até agora sobre o caso Santander
provam ignorância dessa distinção elementar. Todo mundo enche a boca ao
falar de “cidadania”, mas não tem A MENOR IDÉIA do que seja isso.
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Se para impor a obediência às leis você tem de impor também a sua
crença religiosa, a obediência às leis se torna inviável. Se para
livrar-se de obedecer a lei você alega sua crença gayzista, a obediência
à lei tornou-se opcional.
Lei é lei, opinião é opinião. O curador da exposição Santander,
Gaudência Fidelis, não entende isso. Não tem maturidade para ser cidadão
de uma democracia. Muitos dos que o acusam também não têm: ao alegar
opiniões morais e religiosas contra a conduta dele, em vez de ater-se ao
texto da lei, transformam numa discussão ideológica o que deveria ser a
pura e simples aplicação de uma lei.
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De modo geral, os brasileiros não distinguem entre lei e
partidarismo, ou entre lei e preferências pessoais. A impessoalidade da
lei parece-lhes demasiado abstrata, e tem de ser referendada por um
sentimento ou impressão pessoal. Convidados a depois em favor ou contra
um réu, não perguntam se, objetivamente, ele é inocente ou culpado.
Perguntam se gostam dele ou o detestam.
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No caso Santander, uma retórica moralista só serve para debilitar a
causa. O vilipêndio a culto é ilegal, e isso basta. A mais velha regra
da técnica retórica é: Se você pode vencer usando um argumento, não use
dois.
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