Sem planejamento não haverá crescimento
ABRAM SZAJMAN - FSP
A sociedade clama, e o empresário reclama por crescimento, mas no Brasil
de hoje vicejam apenas as incertezas, não os investimentos.
Nosso ambiente de negócios está longe de ser animador, ainda que o país
possa ser considerado um campo fértil para o desenvolvimento de inúmeras
atividades econômicas que estão com o potencial esgotado em economias
ricas.
É o caso da infraestrutura, dos transportes, da produção e venda de bens de consumo e de máquinas.
Investimentos desse porte, porém, requerem planejamento prévio, o que
demanda, por sua vez, um grau de previsibilidade sobre qual será o
comportamento dos governos e das instituições do Estado no médio e no
longo prazo.
No século passado, os momentos de grande crescimento econômico foram precedidos de planejamento nacional.
Foi assim quando Getúlio Vargas lançou a marcha para o oeste e as bases
de nossa industrialização. Foi novamente assim com o Plano de Metas de
Juscelino Kubitschek e o Plano Nacional de Desenvolvimento Econômico,
durante o regime militar.
Este último representou a mais ampla formulação oficial do "modelo
brasileiro de organizar o Estado e moldar as instituições", para tentar
transformar o Brasil numa sociedade capitalista desenvolvida.
Evidentemente, não há espaço para a repetição pura e simples desse
modelo concebido em contexto autoritário, mas resgatar o papel do
planejamento é fundamental para se criar um ambiente de negócios
adequado, nem que atualmente a sinalização para isso seja menos Estado e
mais eficiência governamental nos diversos níveis.
Os objetivos que precedem os períodos de crescimento devem ser
perseguidos com disciplina, o que implica a manutenção das regras do
jogo e o encadeamento lógico de atividades, levando-se em conta que a
economia é um conjunto de vasos comunicantes.
A realidade que vivemos, entretanto, é oposta. Nela, os empresários correm para sobreviver até amanhã.
Não se sabe mais quem manda, nem mesmo quem faz o quê. Ora não há
responsáveis a serem chamados, ora temos autoridades demais a dar
palpites e criar regras.
Diante da ausência de um plano e de um objetivo nacional, impera a queda
dos padrões morais e da noção de responsabilidade individual.
Prevalecem, por fim, o egoísmo e o receio de investir.
Dito isso, é preciso encontrar um caminho para que a economia volte a crescer, o que só ocorrerá se o prêmio justificar o risco.
Hoje, os riscos e incertezas excedem o razoável. Basta ver a reforma
trabalhista. Proposta pelo Executivo e aprovada pelo Legislativo, ela
ainda nem entrou em vigor, mas já está sendo contestada no Supremo
Tribunal Federal pela Procuradoria-Geral da República.
Novamente: quem manda? Em quem acreditar? Qual regra vale hoje e qual
valerá amanhã? Esse parece um ambiente de negócios convidativo, a
despeito do tamanho das oportunidades do Brasil?
No atual cenário de crise política e econômica continuada, não há
perspectiva de solução satisfatória de curto prazo que não seja mais um
remendo. Uma solução definitiva e que permita ao país voltar a pensar em
crescimento passa por uma nova visão estratégica de longo prazo,
pactuada por toda a sociedade.
A elaboração, a apresentação para o debate e a implementação de um
planejamento de longo prazo são obrigação do governo, para que tenhamos
estabilidade e confiança nas regras, elementos fundamentais para o
crescimento sustentado.
Nenhum comentário:
Postar um comentário