Joesley tenta enganar
Além disso, ele teve ganhos indevidos até com a delação, o que levou
seu irmão Wesley à prisão. Só se explica isso por alguma compulsão de
querer levar vantagem em tudo, inclusive na tormenta em que o país
entrou após a sua delação. Eles sabiam que o dólar subiria e que as
ações iriam cair. E fizeram suas apostas no cassino em que sempre
estiveram acostumados a jogar. O Ministério Público e a Polícia Federal
calculam que eles ganharam US$ 100 milhões com as operações. Para eles,
isso é ninharia, mas está cobrando um alto preço.
Joesley dizia que a hipótese de sua prisão ou do seu irmão iria ser
uma tragédia para a empresa, porque sem eles não seria possível
administrar a companhia. O mercado financeiro reagiu com alta nas ações
quando eles foram presos, derrubando a ideia de serem insubstituíveis.
Eles continuaram ganhando fortunas mesmo no meio dessa confusão. A
decisão de vender os ativos é correta porque essa é a forma de tirar a
empresa do risco. Mas é curioso pensar na origem dos bens que estão
sendo negociados. Recentemente, o grupo fechou negócio para a venda da
Eldorado para o grupo indonésio Paper Excelence. Ela foi um investimento
feito com pouco capital próprio, e muito empréstimo do BNDES, compra de
debêntures pelo banco, e crédito do FI-FGTS. Esse último, sabe-se
agora, o grupo conseguiu da forma mais tortuosa. O valor total da
empresa no negócio foi de R$ 15 bilhões, mas foi vendida apenas a parte
do JBS. A família Batista recebeu o valor inicial de pelo menos R$ 2,2
bilhões. Nada mal para um empreendimento alavancado principalmente com
recursos públicos, pelos quais, aliás, ele confessou que pagou propina.
Na semana passada, com Joesley já preso, foi feita uma operação em
que a Pilgrim's Pride, uma das maiores processadoras de frango dos
Estados Unidos, e do grupo JBS, comprou a operação do grupo na Europa, a
Moy Park. Eles compraram a si mesmos para melhorar a sinergia e a
estrutura do envidamento. Quando foi comprada, a Pilgrim's Pride foi um
ativo adquirido integralmente com o dinheiro do BNDES, conseguido
através da venda de debêntures. Não houve capital próprio. E assim eles
ficaram ainda mais ricos do que já eram. Mas a ganância desmedida fez os
irmãos Batista irem cada vez mais fundo no negócio da corrupção que os
levou à prisão.
O grupo está sendo reestruturado e sairá de tudo isso bem menor. Pelo
menos, há uma boa chance de que sobreviva a essa vendaval. O economista
Fábio Astrauskas, professor do Insper e CEO da consultoria Siegen,
especializada em reestruturação de empresas no Brasil, avalia que a
resposta da JBS à crise de confiança que se abateu sobre a empresa foi
rápida e eficiente. O grupo foi ágil em vender os bons ativos para fazer
caixa, e, na visão de Astrauskas, terá condições de seguir o negócio
mesmo com o afastamento da famílias Batista do comando da empresa.
— Acho que a JBS teve uma visão muito pragmática, profissional, muito
similar ao que aconteceu com o BTG. Hoje, ninguém mais se lembra do
banco como sinal de problemas. Acho que pode acontecer o mesmo com a JBS
daqui a alguns meses. Estar no segmento de varejo também ajuda. É
diferente do que vejo, por exemplo, com as grandes construtoras
investigadas na Lava-Jato, que dependem de obras e contratos públicos —
afirmou.
A empresa pode ter uma nova chance se a resposta continuar ágil. Em
relação aos irmãos Batista, o futuro imediato é mais opaco. Uma coisa já
se sabe: a dissimulação não os levará a lugar algum. Frases como “estou
pagando por ter delatado o poder” ou “estou preso porque mexi com os
donos do poder” não convencem ninguém. Esse tipo de defesa, de se fazer
de inocente perseguido por poderosos, não tem qualquer credibilidade,
porque o país que eles enganaram durante tanto tempo já não se deixa
mais enganar.
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