Talvez agora o Brasil tenha chance de sair recuperado da degradação moral épica
RUTH DE AQUINO - ÉPOCA
Nossos furacões atingiram em cheio o “apparatchik” dos Três Poderes e têm potencial para soterrar algumas candidaturas em 2018. O áudio vulgar do autodelator Joesley Batista, ao som de cubos de gelo no uísque. O bunker de R$ 51 milhões em oito malas e seis caixas, todas supostamente do peemedebista baiano Geddel Vieira Lima, que exigiram duas caminhonetes para transportar e sete máquinas para contar. O bombástico depoimento à Lava Jato de Antonio Palocci, um dos principais ideólogos do PT, contra o companheiro-mor, Lula.
Talvez
agora o Brasil comece a ficar interessante e tenha chance de sair
recuperado das ruínas, num esforço de reconstrução moral. A degradação é
épica. Temos a oportunidade, com tudo às vistas, as entranhas
escancaradas, mortos e feridos, de refazer uma nação em que não sejamos
ludibriados por PT, PMDB, PSDB e outros menos cotados.
O empresário Joesley, do frigorífico JBS, do grupo J&F, deve ser preso, com a imunidade cassada, ao perder os benefícios da delação. E deverá perder qualquer respeito que a mulher, Ticiana Villas Boas, ainda tivesse pelo “comedor de velhinhas a serviço”.
O empresário Joesley, do frigorífico JBS, do grupo J&F, deve ser preso, com a imunidade cassada, ao perder os benefícios da delação. E deverá perder qualquer respeito que a mulher, Ticiana Villas Boas, ainda tivesse pelo “comedor de velhinhas a serviço”.
Joesley só não sabia que o caixão era dele. E, talvez, do ex-procurador Marcello Miller, agora acusado por Janot de “conduta criminosa” caso tenha ajudado Joesley antes de se exonerar do Ministério Público. Joesley disse: “Nós dois tem que operar o Marcello direitinho para chegar no Janot e pá, tã, tã, tã”. Miller agiu mal. É imoral um procurador da Lava Jato pedir exoneração e, cinco dias depois, ir para o escritório que negociou a leniência para um réu. Janot diz que não tem “coragem”, mas “medo de errar”. Errou. Por afobação, sei lá. Para não sair flechado da Procuradoria igual a São Sebastião, Janot precisa ser firme. O importante é preservar as provas da delação contra Temer, o presidente que tenta escapar de uma segunda denúncia.
Geddel, ex-ministro de Temer e de Lula, com as digitais já identificadas nas cédulas, voltou a ser preso pela Polícia Federal, para não tentar fugir do país. Estava em prisão domiciliar, sem tornozeleira eletrônica, porque a Bahia “não dispõe desse equipamento”.
A cena mais notável da novela “A força do corromper” foi o bunker milionário em Salvador, que seria destinado a “guardar os pertences do falecido pai de Geddel”. O currículo de Geddel é impressionante. Ele não é só amigo de Temer. Ex-deputado federal eleito cinco vezes pelo PMDB da Bahia, ministro da Integração de Lula, vice-presidente da Caixa Econômica Federal no governo Dilma e ministro de Governo de Temer. Foi assim que Geddel amealhou sua fortuna.
Pensando bem, uma fortuna modesta diante dos valores acordados entre a JBS de Joesley e o homem de confiança de Temer, Rodrigo Rocha Loures, flagrado com uma mala de R$ 500 mil saindo de uma pizzaria. O acordo era pagar meio milhão a Loures semanalmente por 25 anos, num total de R$ 652 milhões. Temer comemora o que, exatamente? Vai esquecer sua conversa com Joesley?
Palocci, ministro da Fazenda de Lula e chefe da Casa Civil de Dilma Rousseff, está preso há quase um ano na carceragem da Polícia Federal em Curitiba. Antes de ser beneficiado com uma delação premiada, terá de apresentar provas concretas, além do relatório sereno e meticuloso sobre os R$ 300 milhões e “as propinas frequentes” que a Odebrecht dava a Lula e ao PT, incluindo a campanha de Dilma.
Dirigentes petistas acham que o depoimento de Palocci pode ser “pá de cal” para os projetos de Lula em 2018. Outros chamaram Palocci de “canalha”. Em abril, Lula dizia no Twitter: “Não tenho preocupação com nenhuma delação. Palocci é meu companheiro há 30 anos, é um dos homens mais inteligentes desse país”. Agora, Lula diz que Palocci não tem “compromisso com a verdade”.
Confesso sentir náusea ao escutar a podridão de nossos políticos e empresários. Mas, ao contrário da presidente do STF, Cármen Lúcia, que desejou a todos um “ótimo fim de semana”, sem “novidades maiores no país”, eu desejo mais e mais novidades. Das ruínas expostas, pode nascer um país sem bandidos no comando. É a única esperança que nos resta.
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