Denúncia põe Temer no conjunto da obra do PMDB
Segunda e última ‘flechada’ de Janot acusa
presidente por ato cometido no mandato, obstrução de Justiça, e amplia
muito o leque no item da organização criminosa
O Globo
A segunda denúncia do procurador-geral da República, Rodrigo Janot,
contra o presidente Michel Temer, apresentada na véspera do último dia
útil de expediente do procurador, volta à gravação feita nos porões do
Palácio do Jaburu, pelo empresário Joesley Batista, do grupo JBS, da já
famosa conversa com o presidente Michel Temer.
A primeira denúncia, de corrupção, cujo envio ao Supremo foi
rejeitado pela Câmara, se baseou na referência, feita naquela conversa, a
Rocha Loures, indicado por Temer para o empresário resolver problemas
do grupo JBS no governo. Houve o flagrante de Loures às pressas, nas
ruas de São Paulo, puxando uma maleta com R$ 500 mil, propina que seria
do presidente.
Agora, é a vez do crime de obstrução de Justiça. No entender da PGR,
ele está configurado, também naquela conversa, quando Temer e Josley
tratam da situação de Lúcio Funaro e Eduardo Cunha, presos, cujo
silêncio interessa muito ao presidente e à cúpula do PMDB. O empresário
deixa claro que cuida dos dois, momento em que Temer afirma: “é preciso
manter isso, viu?”
A
conversa não é mesmo favorável ao presidente, situação agravada pelo
fato de Funaro, operador financeiro de Cunha e outros políticos de peso
do PMDB, ter confirmado, em testemunho prestado sob acordo de delação
premiada, que recebeu dinheiro da JBS, de Joesley, para manter a boca
fechada, segundo O GLOBO.
Pode ser que a PGR, ao incluir Temer no conjunto do quadrilhão do
PMDB na Câmara, busque reforçar a denúncia de corrupção e “organização
criminosa”. Neste aspecto, é previsível que muita coisa aparecerá no
pano de fundo das discussões políticas que serão travadas na Câmara,
quando o Supremo repassar a denúncia para a Casa.
Antes disso, porém, a Corte precisará concluir o julgamento iniciado
quarta-feira, quando Janot foi avalizado por todos os nove ministros
presentes, para continuar a investigar Temer. Mas falta decidir sobre o
destino das provas cedidas por Joesley no acordo de delação rescindido
também ontem pela PGR — o que significa que o empresário e seu
executivo, Ricardo Saud, já presos, perdem a imunidade penal.
A complementação deste julgamento ganha ainda mais importância porque
a acusação a Temer de obstrução de Justiça se sustenta na gravação
apresentada por Joesley como prova. Não se espera que a Corte a
invalide, porque consta do próprio acordo de delação feito com a PGR
que, caso o entendimento fosse invalidado, provas fornecidas
continuariam válidas.
Dos oito denunciados por participar de “organização criminosa", além
de Temer, cinco estão presos — Cunha, Geddel, Henrique Alves, Joesley e
Ricardo Saud — e dois continuam a trabalhar ao lado do presidente,
Eliseu Padilha e Moreira Franco. Nunca houve algo igual.
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