Filhos pródigos
DORA KRAMER - O Estado de S.Paulo
É de admirar, realmente. Tanto a solidariedade quanto a
prodigalidade dos companheiros que prontamente atenderam aos apelos de
José Genoino e Delúbio Soares e, no conjunto, doaram quase R$ 2 milhões
para saldar as dívidas de multas dos dois petistas com a Justiça.
Dinheiro arrecadado em menos de três semanas. Aos números precisos:
foram 19 dias durante os quais os sites destinados às doações receberam
R$ 1.775. 619 (ignorados os centavos). Deu e sobrou. Com folga.
A família de Genoino tomou a iniciativa. A imediata adesão de gente
disposta a doar foi atribuída à especificidade da situação do
ex-deputado: homem de posses medianas e vida desprovida de ostentação.
Em dez dias arrecadou-se mais que o necessário: R$ 761. 962 para
pagar a multa de R$ 667.514. Do excedente, R$ 30 mil foram transferidos
para a conta do ex-tesoureiro do PT.
Nem teria sido necessário, pois, como se constatou logo a seguir, a
solidariedade não era restrita a Genoino. Delúbio Soares conseguiu, em
nove dias, arrecadar R$ 1,013 milhão para saldar um débito de R$
466.888.
A diferença entre os dois é que Genoino recebeu menos de mais gente
(cerca de dois mil colaboradores) e Delúbio ganhou mais de menos
doadores, 1.095, de acordo com os números apresentados pelo coordenador
jurídico do PT, Marco Aurélio Carvalho.
Tudo certinho e contabilizado. "Todos os colaboradores estão
identificados", garantiu. Um sucesso. Tanto que a corrente será usada em
prol do ainda deputado João Paulo Cunha (multa de R$ 370 mil) e de José
Dirceu (R$ 960 mil) para quem vai a sobra da arrecadação originalmente
destinada a Delúbio.
Na avaliação de Carvalho, não haverá dificuldade para conseguir o
necessário à quitação da dívida financeira dos petistas com a Justiça.
Pelo que se viu até agora não há razão para duvidar.
É de se perguntar, porém, se um partido com essa capacidade de
mobilizar recursos individuais não teria meios para fazer o mesmo em
relação às campanhas eleitorais.
Daria um bom exemplo às demais legendas de como é possível se
sustentar sem recorrer a recursos públicos nem ao caixa "não
contabilizado", do qual o PT alega ter sido uma vítima, em sua versão de
que o mensalão não existiu.
A partir de sua própria mobilização, o partido demonstrou que o
financiamento por meio do Orçamento da União forçosamente não seria a
solução (muito menos a única) mais adequada às questões que envolvem a
tão complicada vida financeira das agremiações partidárias.
Claro, as campanhas teriam de ser mais baratas, sem tanta produção nem alegorias. Com foco mais no conteúdo e menos na forma.
Mas seria um caminho, ainda mais se às doações de pessoas físicas fossem somadas as contribuições lícitas de empresas.
Com doadores identificados, tudo registrado e devidamente divulgado.
Transparência, assim, não é "burrice", contrariamente à tese defendida
pelo então tesoureiro Delúbio Soares para derrubar a proposta do então
petista Chico Alencar, feita em 2004, de divulgação dos gastos de
campanha do PT na internet.
Modos da Corte. Das trocas de ministros divulgadas
na quinta-feira, a única não oficial e até então desconhecida foi a
substituição de Helena Chagas por Thomas Traumann na Secretaria de
Comunicação da Presidência, publicada na Folha de S.Paulo.
Helena soube que o jornal traria a notícia no fim da noite de quarta.
Telefonou para a presidente Dilma Rousseff que a chamou para conversar
na manhã do dia seguinte. Negou que tivesse autorizado qualquer
"vazamento" e propôs que a demitida desmentisse a demissão, mas deixasse
o cargo no domingo. Hoje, portanto.
Proposta recusada, o posto foi entregue de imediato. Ficou nas
adjacências do Planalto a forte impressão de que o anúncio pelo jornal
antes do comunicado à interessada foi um toque de crueldade dado por
quem tem carta branca para tal.
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