segunda-feira, 24 de fevereiro de 2014

Quando o bafômetro não ajuda
Maggie Koerth Baker - NYT

Se um policial suspeita de que você estava dirigindo bêbado, é provável que ele peça para você realizar três tarefas: seguir uma caneta com os olhos enquanto ele a move pare frente e para trás; descer do carro e dar nove passos, pisando com o calcanhar e depois a ponta do pé, virar um dos pés e voltar; e ficar em pé sobre uma perna só por 30 segundos.

Tenha um bom resultado em um desses três feitos olímpicos, e há uma boa chance de que você não esteja bêbado. Foi demonstrado que este teste padrão de sobriedade, como é chamado, conseguiu detectar 88% dos motoristas que dirigiam alcoolizados.
Mas ele está bem distante de ser eficiente para detectar um motorista sob influência de outras drogas.
Num estudo publicado em 2012 na revista Psychopharmacology, apenas 30% das pessoas sob influência do THC, o ingrediente ativo da maconha, fracassaram no teste. E a capacidade de identificar motoristas que usaram maconha com ele parece depender em grande parte de se a pessoa está acostumada aos efeitos da droga.
Tanto um jovem de 21 anos em sua primeira bebedeira quanto um alcoólatra inveterado perderão o equilíbrio em uma perna só. Mas o mesmo não é necessariamente verdadeiro para um motorista que acabou de fumar seu primeiro baseado e o usuário que fuma cinco dias por semana. Em outro estudo, 50% dos fumantes menos frequentes fracassaram no teste.
À medida que mais estados legalizam a maconha medicinal e recreativa, distinções como esta ganharão mais importância. Mas as respostas da ciência para questões cruciais sobre dirigir sob efeito de maconha – o quão perigoso é, como testar a incapacidade para dirigir, e como os riscos se comparam aos de dirigir alcoolizado – estão demorando a atingir o público em geral.
"Nosso objetivo é divulgar a ciência e usá-la para a política de drogas baseada em evidências", disse Marilyn A. Huestis, pesquisadora sênior do Instituto Nacional para Abuso de Drogas. "Mas acho que é uma confusão."
Um estudo de 2007 revelou que 12% dos motoristas parados aleatoriamente nas estradas dos EUA nas noites de sexta-feira e sábado tinham bebido alguma coisa. (Em troca de ter participado do estudo, motoristas intoxicados foram informados de que não seriam presos, apenas levados para casa.)
Entre esses motoristas, 6% testaram positivo para maconha – um número que provavelmente aumentará com a maior disponibilidade. Alguns especialistas e autoridades estão preocupados com o fato de que a campanha contra dirigir embriagado não tenha atingido os usuários de maconha.
"Fizemos pesquisas por telefone, e estamos ouvindo que muitas pessoas acham que a lei seca não se aplica à maconha", disse Glenn Davis, gerente de segurança nas estradas do Departamento de Transportes do Colorado, onde o uso recreativo da maconha foi legalizado em 1º de janeiro. "E sempre há alguém que diz: 'eu dirijo melhor quando fumo'."
As evidências sugerem que não é o caso. Mas também sugerem que podemos não ter muito a temer em relação aos motoristas que fumam em relação aos que bebem. Alguns pesquisadores dizem que os recursos limitados serão melhor aplicados para continuar a reduzir o número de pessoas que dirigem alcoolizadas. Dirigir sob efeito de maconha, dizem eles, é simplesmente menos perigoso.
Ainda assim, está claro que o uso de maconha causa déficits que afetam a capacidade de dirigir, diz Huestis. Ela observou que vários pesquisadores, trabalhando de forma independente uns dos outros, chegaram à mesma estimativa: um aumento de duas vezes do risco de um acidente quando há qualquer quantidade mensurável de THC na corrente sanguínea.
A estimativa é baseada em revisões de artigos que consideraram os resultados de muitos estudos individuais. Os resultados com frequência são contraditórios – alguns artigos não mostraram nenhum aumento do risco, ou até mesmo uma redução – mas a estimativa de duas vezes é amplamente aceita.
A estimativa é baia, entretanto, comparada com os perigos de dirigir embriagado. Um estudo recente de dados federais de acidentes revelou que motoristas de 20 anos de idade com 0,08% de álcool na corrente sanguínea – o limite legal para dirigir – tinham um aumento de quase 20 vezes no risco de um acidente falta em comparação com motoristas sóbrios. Para adultos mais velhos, até os 34 anos, o aumento era de nove vezes.
O principal autor do estado, Eduardo Romano, pesquisador sênior no Instituto Pacífico para Pesquisa e Avaliação, disse que depois de analisar de acordo com dados demográficos e a presença do álcool, a maconha não aumenta estatisticamente o risco de acidentes.
"Apesar dos nossos resultados, ainda acho que a maconha contribui com o risco de acidente", diz ele, "só que esta contribuição não é tão importante quanto se imaginava."
A diferença no risco entre a maconha e o álcool pode provavelmente ser explicada por duas coisas, dizem Huestis e Romano. Primeiro, os motoristas sob efeito de maconha dirigem de forma diferente da dos alcoolizados, e têm déficits diferentes. Os motoristas bêbados tendem a dirigir mais rápido do que o normal e superestimar suas habilidades, mostraram estudos; e o contrário é verdadeiro para os motoristas que fumam.
"A piada em relação a isso é a de Cheech e Chong sendo presos por dirigir a 20 por hora na rodovia", disse Mark A. R. Kleiman, professor de políticas públicas da Escola de Assuntos Públicos da Ucla.
Huestis também descobriu que, em estudos de laboratório, a maioria das pessoas que estavam sob efeito de maconha conseguiam passar em testes simples de memória, soma e subtração, embora tivessem que pensar mais do que pessoas sóbrias para passar no mesmo teste. Pessoas bêbadas tinham muito mais chance de fracassar.
Os déficits de estar sob efeito de maconha de fato começam a aparecer, diz ela, quando as pessoas precisavam lidar com várias tarefas ao mesmo tempo e se deparavam com alguma coisa inesperada.
"É típico ver um adolescente com três ou quatro amigos no carro", diz ela, em relação ao efeito da maconha. "Ele sabe que pode estar incapacitado, então dirige com cuidado."
"Mas daí ele vê um homem no meio da rua. Todos os seus sentidos dizem: 'esse cara está lá mas sairá do caminho quando eu chegar lá'. Mas então o homem deixa cair as chaves e demora mais do que o adolescente esperava. No tempo que leva para processar uma mudança na situação, há um acidente."
Todos esses fatos levam especialistas como Romano e Kleiman a acreditar que os recursos públicos são mais bem gastos combatendo a direção alcoolizada. A melhor forma de lidar com aqueles que dirigem sob efeito de maconha, dizem eles, é desencorajar as pessoas de misturar maconha e álcool – uma combinação que é ainda mais arriscada do que o álcool sozinho – e criando políticas que minimizem o risco de maconha nas estradas.
Por exemplo, estados que legalizam o uso recreativo da maconha deveriam banir estabelecimentos como bares que encorajam as pessoas a fumar fora de casa, diz Kleiman. E Romano diz que baixar a concentração permitida por lei de álcool no sangue para 0,05% ou até mesmo para 0,02% reduziria os riscos de forma muito mais eficaz do que qualquer esforço para impedir que as pessoas dirijam sob efeito de maconha.
"Não estou dizendo que a maconha é segura", diz ele. "Mas para mim está claro que reduzir o índice de álcool no sangue deveria ser nossa maior prioridade. Esta política salvaria muito mais vidas."
Tradução: Eloise De Vylder

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