Sinais de desaceleração
O Estado de S.Paulo
O comportamento do mercado de trabalho, no qual o
governo fundamentou suas projeções otimistas - e desmentidas na prática -
para o crescimento da economia em 2013, continua a justificar previsões
oficiais igualmente otimistas para 2014. Dados recentes, porém, mostram
que pode estar se esgotando o vigor desse mercado. Se, mesmo pujante em
2013, não foi suficiente para impulsionar mais a atividade econômica,
parece pouco provável que, tendo perdido parte de seu dinamismo, o
mercado de trabalho continue a manter a demanda interna em nível
elevado, estimulando a produção, como espera o governo.
Os dados do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE)
sobre desocupação e renda nas seis principais regiões metropolitanas
continuam positivos. O desemprego médio de 2013 ficou em 5,4%, a menor
taxa desde 2002, quando esses dados passaram a ser tabulados (a
desocupação em dezembro, de 4,3%, também foi a menor taxa mensal desde o
início da pesquisa). O resultado de 2013 é 0,1 ponto porcentual
inferior ao de 2012 e 7 pontos porcentuais abaixo do resultado de 2003
(desemprego de 12,4%).
Igualmente positivos são os dados referentes ao número de
trabalhadores com carteira assinada no setor privado, que, na média de
2013, passou da metade das pessoas ocupadas (50,3%), fato que ocorre
pela primeira vez desde que a pesquisa começou a ser feita. Também
importante indicador da evolução das relações de trabalho é o
crescimento do porcentual de trabalhadores que contribuem para a
Previdência. No ano passado, 74,4% das pessoas ocupadas eram
contribuintes da Previdência, índice bem superior ao verificado em 2003
(61,2%).
Mas importantes indicadores mostram desaceleração e alguns começam a
piorar. O crescimento do número de trabalhadores com carteira assinada
no ano passado, de 3%, foi o menor desde 2009. Também a variação da
população desocupada (queda de 1,5% em relação a 2012) foi a pior desde
2009. Já a população ocupada em dezembro do ano passado foi 0,5% menor
do que a constatada em dezembro de 2012. O rendimento real médio
continua a crescer (aumentou 1,8% no ano passado), mas a um ritmo menos
intenso (o crescimento de 2013 foi o menor desde 2005).
A pesquisa do IBGE mostra a persistência do processo de encolhimento
do mercado de trabalho na indústria. Em 2013, do total de ocupados no
País, o setor manufatureiro empregava 15,8%, índice inferior aos de 2012
(16,1%) e de 2003 (17,6% do total). Vem crescendo, em contrapartida, a
fatia dos empregos na área de serviços prestados às empresas, atividades
imobiliárias, intermediação financeira e outros serviços.
Essas mudanças no comportamento do mercado de trabalho não foram
suficientes para reduzir o peso que o governo atribui a ele em suas
previsões para 2014. E, para ampliar os fundamentos de suas projeções, o
governo lança mão de dados externos. Além da evolução do emprego e da
renda média dos trabalhadores, o governo aponta, como fatores que
impulsionarão a economia brasileira, alguns sinais positivos que
vislumbra no exterior. Mas ignora as rápidas transformações que já
ameaçam as economias emergentes.
As novas projeções para o crescimento mundial são citadas pelos
economistas do governo para explicar seu otimismo. Com base na
recuperação da atividade produtiva e da evolução do comércio
internacional no segundo semestre do ano passado, o Fundo Monetário
Internacional prevê que a economia mundial crescerá 3,7% em 2014 e 3,9%
em 2015.
O Brasil seria muito beneficiado pela reativação da economia mundial.
Mas, ao aquecimento da produção no exterior e à maior expansão do
comércio internacional, agora se junta o crescente temor dos
investidores internacionais com relação à estabilidade das economias
emergentes.
No caso brasileiro, o temor vem se acentuando por causa da
persistência da inflação, das expectativas pessimistas do empresariado -
que não acredita nas projeções do governo - e, mais recentemente, do
temor de contaminação da economia brasileira pela crise argentina.
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