O DNA do PT
Mary Zaidan -Blog do Ricardo Noblat
Dominar
e controlar. Binômio caro aos totalitários, esse conceito frequenta a
agenda petista com incrível assiduidade. Quer-se dominar todos os
espaços, sejam eles institucionais ou não governamentais, o Parlamento, o
Judiciário, as ruas. E controlar tudo o que for possível: dos meios de
produção à mídia, dos preços ao cotidiano dos cidadãos, que em cada
esquina esbarram na abusiva intervenção do Estado em suas vidas.
É
no diapasão do domínio e do controle que se encaixa o decreto nº 8.243
da presidente Dilma Rousseff, criando quase uma dezena de instâncias
para que gente indicada a dedo palpite na administração pública.
Com
o pomposo nome de Política Nacional de Participação Social (PNPS), o
decreto é multiuso: serve para tentar se conectar com grupos
descontrolados e desconhecidos, que exigem mudança; para reabilitar
movimentos populares que trocaram as bases por empregos públicos; para
fazer de conta que se está ampliando os instrumentos democráticos. Antes
de tudo, é mais uma cartada eleitoral.
Aliados e até juristas do
PT dizem que a pretensão foi regular o artigo 1º da Constituição: “Todo
poder emana do povo, que o exerce por meio de representantes eleitos ou
diretamente, nos termos desta Constituição”. Estranho é ver gente tão
preparada fazer pouco da mesma Constituição que logo adiante, no Art.
14, explicita as formas de participação popular: sufrágio universal,
voto direto e secreto, com valor igual para todos, plebiscito, referendo
e iniciativa popular.
Bastaria usar o cardápio existente. Mas é
um caminho inseguro, de controle zero. Iniciativa popular gera coisas
como a Lei da Ficha Limpa. Plebiscitos, comuns na maioria das
democracias, passam longe da prática brasileira. Da promulgação da Carta
de 1988 até hoje foram apenas três. Referendos? Só dois. Um sobre
comércio de armas e outro para mudança do fuso horário do Acre.
Pode
até não haver inconstitucionalidade no decreto de Dilma, até porque as
centenas de comissões previstas não têm poder algum, nem consultivo nem
deliberativo. Pouco valem na prática, mas escancaram o regime dos sonhos
impresso no DNA do PT: a substituição da democracia representativa pela
participação popular direta, bem envelopada, indicada e nomeada,
devidamente controlada. Portanto, falsa.
Um modelo semelhante ao
implantado por Hugo Chávez na Venezuela, com os seus Comitês de Terras
Urbanas, conselhos comunais, coletivos populares. Ligados à Presidência,
são aparelhos do poder disfarçados de democracia, que o ex Lula chegou a
elogiar como “democracia em excesso”.
Mas nem Chávez foi tão longe quanto Dilma. Não tentou detonar a democracia representativa por decreto.
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