Reinaldo Azevedo - VEJA
Dilma Rousseff, Dilma Rousseff…
Vamos lá. Uma das dificuldades da pessoa que concorre à reeleição é saber a hora de falar como governante no cargo e a hora de falar como candidata. Dilma meteu os pés pelas mãos nesta quinta-feira. Saiu em defesa da presidente da Petrobras, Graça Foster. Quem estava falando? Às vezes, parecia a candidata, e o discurso era absurdo; às vezes, parecia a presidente, e o discurso era mais absurdo ainda. Vamos ver. A candidata-presidente foi visitar obras — atrasadas — da transposição do rio São Francisco em Pernambuco. Concedeu, em seguida, uma entrevista coletiva.
A
presidente-candidata foi indagada sobre a atuação do ministro da
Justiça, José Eduardo Cardozo, e do advogado-geral da União, Luís Inácio
Adams, em defesa de Graça Foster, presidente da Petrobras. Dilma tinha
uma infinidade de justificativas institucionais se quisesse. Poderia ter
dito que, como as apurações se referem à atuação de Graça como diretora
de uma empresa majoritariamente pública, a intervenção de ministro e
advogado-geral se justifica.
Mas ela é
atrapalhada. Ela fala mal. E ela fala mal, no caso, porque pensa mal.
Saiu-se com esta, prestem atenção: “No meu governo, não precisa do
ministro da Justiça só, ou do Adams. A presidente defenderá (a
Petrobrás). Eu acho extremamente equivocado colocar a maior empresa de
petróleo da América Latina, sempre durante a eleição, como arma
política. Gente, que maluquice! Veja bem, ó: a Graça Foster e a
diretoria inteira da Petrobrás representam a União. É de todo interesse
da União defender a Petrobrás, a diretoria da Petrobrás. Nada tem de
estranho esse fato. Pelo contrário, é dever do ministro da Justiça, de
qualquer ministro do governo, defender a Petrobrás”.
Está tudo
errado! Quem disse que a Petrobras está sob ataque? Isso é uma piada. A
rigor, durante quase dois anos, só eu dava bola para a questão de
Pasadena. Quem emprestou nova urgência ao escândalo foi certa Dilma
Rousseff, ao sugerir que, quando presidente do Conselho, fora enganada
por Nestor Cerveró — que também está sendo treinado pela Petrobras.
Depois se descobriu que a presidente da República dera o emprego de
diretor financeiro da BR Distribuidora a um homem que ela julgava o
culpado pelo imbróglio que resultou na compra da refinaria.
Dilma
também resolveu atuar como advogada de Graça em outra questão.
Referindo-se ao fato de que a presidente da Petrobras transferiu bens
para parentes, afirmou: “A presidente Graça Foster respondeu
perfeitamente sobre a questão de seus bens em uma nota oficial. Eu
repudio completamente a tentativa de fazer com que a Graça Foster se
torne uma pessoa que não possa exercer a presidência da Petrobrás”.
Vênia máxima, Graça não explicou coisa nenhuma até agora. Explicou o
quê? As apurações sobre Pasadena estavam em curso, e ela transferiu
bens. E ponto.
A
presidente-candidata disse, então, como viram, que a Petrobras não pode
ser usada para disputa eleitoral, certo? Ocorre que ela é também
candidata-presidente. E aí saiu-se com esta, referindo-se a dois
episódios ocorridos na Petrobras durante o governo FHC: “Eu me pergunto
por que ninguém investigou com tanto denodo o afundamento da maior
plataforma de petróleo, que custava US$ 1,5 bilhão a preços atuais. Por
que, apesar de estar em ação popular, ninguém investiga a troca de
ativos feita com a Repsol?”.
Vamos ver.
Ela foi a todo-poderosa ministra das Minas e Energia. Depois, foi
ministra-chefe da Casa Civil e czarina do setor energético. Presidiu o
Conselho de Administração da Petrobras. É hoje presidente da República,
apesar da retórica palanqueira. Então, em todos esses cargos, ela soube
de malfeitos havidos na Petrobras e não tomou nenhuma providência?
Estamos diante de um caso de prevaricação?
É um
absurdo que uma presidente da República, ainda que candidata, se
comporte como juíza de absolvição de pessoas cujos atos estão ainda sob
investigação — só porque são suas aliadas — e como juíza de condenação
de pessoas que nem mesmo estão sendo investigadas só porque são suas
adversárias.
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