Ideologia cara e ineficiente
O Estado de S.Paulo
Era absolutamente necessária uma melhora nos
aeroportos brasileiros. O significativo aumento do número de passageiros
observado nos últimos anos, além do fato de o Brasil ser sede de
grandes eventos - em especial a Copa do Mundo e a Olimpíada -, só
reforçou a evidência de que o País precisava de outro padrão
aeroportuário. Diante desse fato, o governo federal não teve outra saída
senão recorrer ao setor privado, com a concessão dos maiores (e mais
lucrativos) aeroportos brasileiros. Mas o viés ideológico do PT teve a
sua quota de participação na elaboração do modelo, ao impor que a
Infraero tivesse uma participação de 49% nas Sociedades de Propósito
Específico criadas para administrar os aeroportos após os leilões de
outorga. O governo se rendia à realidade ao procurar o setor privado,
mas ao mesmo tempo deixava a sua marca ideológica, como se a
participação estatal no negócio fosse sinônimo de respeito ao interesse
público. O resultado é um modelo enviesado, cuja conta quem paga é em
último termo o cidadão brasileiro, viaje ele ou não de avião.
A
Infraero tem pela frente um cenário nebuloso: perdeu boa parte das suas
receitas em razão das concessões, tem dificuldades em diminuir as suas
despesas e - por causa da participação obrigatória nas concessões - se
vê impelida a bancar boa parte dos investimentos nos aeroportos. É uma
conta cara, cujo mais recente capítulo é a tentativa da Infraero de
diminuir as suas despesas por meio de um Plano de Demissão Voluntária
(PDV), ao qual espera a adesão de 2,5 mil funcionários. Tão cara é a
conta que o ministro-chefe da Secretaria de Aviação Civil, Wellington
Moreira Franco, reconheceu recentemente ao Estado que "vamos dar uma
parada na concessão de aeroportos para a Infraero se ajustar à nova
realidade". Uma realidade desenhada e implantada pelo governo, que
intencionalmente fechou os olhos para os fatos: a conta desse modelo não
fechava e, portanto, era um contrassenso impor a participação da
Infraero em todas as concessões. Já que ela não tem condições de arcar
com os aportes, o Tesouro a socorre. Essa situação levou o ministro a
reconhecer, em 2013, que o modelo escolhido pelo governo brasileiro "é
um sacrifício para o País".
Desde 2012, a Infraero não
administra os aeroportos de Guarulhos, Viracopos e Brasília. A
transferência de operação acarretou uma diminuição de 37% da sua receita
operacional. Mais dois aeroportos - Confins (MG) e Galeão (RJ) - saíram
da administração da estatal. O leilão ocorreu em novembro de 2013, mas
foi feito um acordo com os concessionários para que a administração só
fosse transferida após a Copa, para evitar maiores transtornos. Agora,
haverá um período de 90 dias de transição entre a administração da
Infraero e a dos concessionários. A estimativa é de que a mudança na
administração dos cinco aeroportos acarrete uma perda de 65% das
receitas da estatal, em comparação a 2012.
"Mas nós não
perdemos as despesas correspondentes", reconhece o presidente da
Infraero, Gustavo do Vale. Uma medida para aliviar a situação seria
reduzir o número de funcionários, e, conforme noticiou o Estado (9/8), a
empresa negocia com o Ministério do Planejamento um montante de R$ 750
milhões para iniciar um PDV. Atualmente, a estatal tem pouco mais de 12
mil funcionários e, caso o número seja mantido, estima-se um prejuízo de
R$ 450 milhões em 2015. Em 2013, a Infraero já tinha registrado
prejuízo de R$ 1,2 bilhão. Em novembro daquele ano, por causa dos
prejuízos, a estatal anunciara um corte de R$ 391 milhões nas despesas
de manutenção preventiva dos aeroportos, o que gerou protesto de
superintendentes da própria estatal, pois se colocava em risco a
segurança dos usuários.
Quando a cabeça não pensa, o corpo
padece, reza o ditado. Quando se pensa de forma equivocada, todo o
sistema se ressente. E é o que se observa em mais uma estatal sob o
governo do PT. O viés ideológico não é uma proteção do interesse
público. É antes uma conta cara, paga pelo cidadão brasileiro, que se vê
financiando algo diferente do que precisa o País.
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