O Estado de S.Paulo
Na conversa, Dilma afirmou que "aprisionar a política externa em um só modelo" - isto é, a diplomacia de Estado, e não de partido - "denota uma atitude conservadora por parte dos que não querem mudar nada". Para ela, as estratégias diplomáticas são, "antes de tudo", uma "escolha da sociedade, que se faz periodicamente por meio de eleições". Com isso, a presidente reafirma, com a maior clareza possível, que a política externa legítima é aquela ditada pelo partido vencedor das eleições - e os que a isso se opõem são desde logo "conservadores" que "não querem mudar nada".
Indiferente à realidade, em autêntico estado de negação, Dilma disse que as "novas prioridades da política externa brasileira produziram resultados extraordinários" - orgulhando-se do desastroso desempenho comercial de seu mandato, que recentemente obrigou o governo a incluir a exportação fictícia de plataformas de petróleo para ajudar a conta a fechar no azul. Na construção da triunfante narrativa petista, Dilma diz que essa performance "extraordinária" não se deve apenas à demanda internacional por commodities, "mas fundamentalmente porque o Brasil, com sua nova política externa, adaptou-se bem às profundas mudanças que ocorreram, e ainda ocorrem, na geoeconomia e na geopolítica mundiais".
Tal "adaptação" resumiu-se ao aprofundamento das chamadas relações "Sul-Sul" - política que justifica a prioridade dada a parceiros que ou têm pouca relevância ou demonstram escasso apreço à democracia. Essa estratégia representou ganhos pífios para o Brasil, mas alimentou o discurso petista contra os países ricos. Assim, para Dilma, o "resultado mais expressivo" dessa diplomacia foi o "claro e substancial aumento do nosso protagonismo mundial".
A despeito dessa megalomania companheira, no entanto, Dilma dá pouca ou nenhuma importância para a diplomacia formal, e o maior exemplo disso é o contínuo sucateamento do Itamaraty. São abundantes as reclamações de diplomatas a respeito das restrições orçamentárias - causadas em parte pelo fracasso da estabanada política de multiplicação de representações diplomáticas promovida pelo governo Lula.
Além disso, enquanto reivindica para o Brasil um lugar entre os protagonistas globais, Dilma descuida dos rituais mais elementares das relações internacionais. Só isso explica o chá de cadeira que a presidente está dando a 28 embaixadores estrangeiros que estão há meses esperando que ela os receba para lhe apresentar suas credenciais, formalidade necessária para que eles sejam reconhecidos oficialmente como representantes de seus países.
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