Nova lei de abastecimento levará argentinos à pobreza
- IL
Foi promulgada no último dia 18, na Argentina, a lei que estabelece
“Nova Regulação das Relações de Produção e Consumo” (Lei n. 26.991) que
veio substituir a antiga norma peronista da “Lei de Abastecimento” (Lei
n. 20.680). Ambas as normas tinham, e têm, como objetivo, o controle
governamental sobre toda a atividade econômica nacional.
A lei original foi um dos últimos atos oficiais do ex-presidente
Perón antes de sua morte. O artigo primeiro dispunha que o objetivo da
lei seria regulamentar o comércio em geral. Já o segundo artigo dava ao
governo argentino o poder de regular preços, quantidade e qualidade de
todo o tipo de produto e serviço, em qualquer etapa da cadeia de
produção.
Tinha o poder de obrigar uma fábrica a continuar funcionando, se
assim o governo quisesse, sob pena de multa e até prisão. Os artigos
conseguintes reforçavam o caráter autoritário e interventor das mentes
que elaboraram tal documento.
Após o fim da ditadura militar argentina, entendeu-se que tal lei, em
virtude de sua natureza antidemocrática, estaria revogada, mas nunca
houve um consenso absoluto sobre a matéria ou manifestação declaratória
do Poder Judiciário.
Com o resgate da política de planificação econômica a partir da
implementação da visão marxista do atual ministro da Economia, Axel
Kiciloff, o governo viu a necessidade de legitimar, pelo debate
democrático parlamentar, uma lei que respaldasse sua ação – ainda que
esta fosse aprovada através de mecanismos de pressão do Executivo sobre o
Legislativo, como ocorreu.
A planificação econômica e o controle de preços já se mostraram ser
políticas econômicas equivocadas, mas, aparentemente, governos de todo o
mundo continuam a insistir nesse caminho.
O livro “Quarenta Séculos de Controles de Preços e Salários”
(tradução livre), de Robert Schuettinger e Eamon Butler, mostra que em
todo lugar onde um governo buscou controlar rigidamente um mercado, o
resultado foi uma mistura de miséria, escassez e violência. Chegou até a
causar rupturas sociais, e ajudou decisivamente na ruína de grandes
impérios, como o egípcio e o romano. Foi o fim do controle de preços
decretado pelo ministro Ludwig Erhard em 1948, na Alemanha pós-Segunda
Guerra, que possibilitou o conseguinte milagre econômico alemão.
No Brasil, os cidadãos mais antigos certamente se lembrarão da inútil
tentativa de controle de preços através do Plano Cruzado do
ex-presidente José Sarney. Além de não evitar a hiperinflação causada
pelo próprio governo através de gastos públicos e expansão da base
monetária, a medida ainda jogou brasileiros contra brasileiros (os
chamados “fiscais do Sarney” contra todos os empreendedores) e criou uma
crise de abastecimento sem precedentes.
Controle de preços nunca funcionará por uma razão bastante simples:
preços têm significado. Quando o preço de um bem está alto, significa
que ele é muito útil para a sociedade ou está muito escasso, ou até
mesmo ambos ao mesmo tempo. Esse preço, portanto, estará enviando a
mensagem de que ele deve ser menos consumido ou mais produzido, criando o
incentivo natural para que novos empreendedores entrem nesse mercado e
que os consumidores poupem esse bem. No médio prazo ocorre uma
normalização desse consumo, dentro de um ambiente economicamente livre, e
de maneira sustentável.
Já a intervenção econômica de planejamento central impede que o preço
funcione como uma fonte de informações sobre a utilidade e a escassez
desse bem. Se o preço for forçado artificialmente para baixo, novos
empreendedores não entrarão no mercado.
Já os consumidores não pouparão o bem, gerando rapidamente um cenário
de desperdício, desabastecimento, fim da renovação tecnológica e de
estoques, além do aumento exponencial da burocracia.
A nova lei argentina causará exatamente os mesmos problemas se posta
em prática pelo seu governo, pois ela garante uma completa intervenção
na produção nacional, controlando preços, quantidade e qualidade da
produção, além de outros fatores menores – ainda que não seja aplicada a
pequenas empresas e não traga a pena de prisão para os empresários nela
enquadrados.
A lei ainda será alvo de uma ação de inconstitucionalidade, pois a
Constituição argentina garante a liberdade econômica no país, mas não
creio que a Corte Suprema fará frente ao Poder Executivo.
Essa “Nova Regulação das Relações de Produção e Consumo” só tem
paralelo, dentro da América Latina, com a chamada Lei de Preços Justos,
na Venezuela, e trará definitivamente um ambiente de socialismo
econômico e pobreza aos “hermanos”. Se o resultado final for o mesmo, e
duvido que não seja, recomendo, desde já, que a população local comece a
montar um bom estoque de papel higiênico.
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