Polêmica magra
FSP
Congresso e Anvisa (Agência Nacional de
Vigilância Sanitária) envolveram-se numa polêmica imatura em torno da
liberação de medicamentos usados para emagrecer.
Em 2011, a
agência baniu do mercado as anfetaminas e restringiu a venda da
sibutramina, duas classes de inibidores de apetite. No início deste mês,
contudo, o Legislativo suspendeu a proibição.
Se a disputa
tivesse se restringido a esses dois movimentos, nada haveria de anormal.
Ocorre que a Casa parlamentar, ao justificar sua decisão, flertou com o
ridículo: alegou que a agência extrapolou sua competência legal.
As
responsabilidades da Anvisa, no entanto, estão definidas em norma
aprovada pelo próprio Congresso Nacional. Segundo a lei 9.782, de 1999,
duas das principais funções da agência são justamente cancelar o
registro de medicamentos que entenda como prejudiciais à saúde (art. 7º,
XV) e promover o sistema de vigilância farmacológica (art. 7º, XVIII).
Como
reação ao recém-editado decreto legislativo, diretores da Anvisa
anunciaram novas exigências burocráticas relativas aos inibidores de
apetite.
A atitude é pouco republicana. Ainda que discordem dos
parlamentares, não podem, como membros da administração pública, deixar
de seguir orientação de estrutura hierarquicamente superior --e, nesse
caso, constituída pelos representantes da população.
No que diz respeito ao mérito do banimento dos anorexígenos, ambas as partes têm razão.
A
Anvisa acerta ao afirmar que, no agregado, anorexígenos em geral,
sobretudo as anfetaminas, apresentam resultados muito modestos, quando
não nulos, no controle da obesidade e trazem o risco de graves efeitos
colaterais, incluindo a dependência.
Esse cálculo, todavia,
desconsidera o indivíduo. Apesar de, em termos de saúde pública, os
malefícios claramente superarem os benefícios, isso não significa que
grupos específicos de pacientes não possam tirar proveito dessas drogas.
Em termos gerais, é o que basta para desautorizar o veto.
O fato
de existirem abusos não deve tolher o uso legítimo, mesmo que este
esteja restrito a pequenos segmentos populacionais. E isso dá razão aos
parlamentares e médicos que defendem a manutenção dos fármacos no
arsenal terapêutico.
Sempre haverá alguma distância entre os
interesses da saúde pública e os direitos individuais de pacientes, mas
ela pode ser reduzida, nesse caso, com medidas regulatórias que tornem
difícil a prescrição leviana de anorexígenos.
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