Marina mais frágil
João Bosco Rabello - OESP
A chegada da candidata Dilma Rousseff à casa
dos 40% de intenção de votos traz duas indicações que se correlacionam -
a vulnerabilidade de Marina Silva ao discurso do despreparo para
governar e a consequente necessidade de a candidata do PSB se abrir a um
acordo político tradicional no 2.º turno, congelando o tema da "nova
política".
Pela pesquisa Datafolha de anteontem, a
candidatura Dilma Rousseff foi a beneficiária dos ataques a Marina
Silva, o que fica claro com a permanência de Aécio Neves no patamar de
18%. Esses votos, que parecem fiéis ao PSDB, serão decisivos no 2.º
turno.
Um dado que reforça a conclusão é o índice de
aprovação do governo, que se mantém nos 37%, em contraste com os 10
pontos a mais que Dilma obteve na simulação de 2.º turno. Isso pode
significar que houve uma migração de eleitores reconquistáveis que
repensaram seu voto em Marina apesar de considerar ruim o governo Dilma.
Apesar
do insistente recurso de Aécio Neves à comparação de Marina com o PT, o
fato é que o eleitorado de oposição parece convencido de que a
ex-senadora é a candidata com mais condições de enfrentar o seu
ex-partido.
Por enfrentar, deve-se entender não apenas o
combate eleitoral, mas o contexto pós-eleição. A rede de minorias que o
ex-presidente Lula organizou ao longo dos 12 anos de poder do PT,
dando-lhe organicidade e poder através de ministérios específicos, será
acionada pelo partido se for para a oposição.
É de se
imaginar a dificuldade do PSDB, em hipotética vitória de Aécio Neves, de
conduzir um mandato de ajustes difíceis e impopulares, sob ataque
intensivo do PT à frente desses grupos.
Marina Silva
teoricamente é blindada ao tipo de ataque que atinge o PSDB. Seria a
primeira a conjugar gênero e raça - negra e mulher - na Presidência do
País, com uma história de vida muito mais difícil e dramática que a de
Lula - ex-seringueira, pobre, migrante, que compõe um perfil de
superação invulnerável ao discurso que o PT utiliza historicamente
contra o PSDB.
O que falta a Marina - pelo menos é a
crítica que o eleitor parece absorver - é a experiência para governar e
quadros de elite que assegurem o êxito de seu governo.
Por
isso, Marina já deve estar atenta à necessidade de construir alianças
com visão realista de que a ponte entre a velha e a nova política impõe
uma transição. E, nesse contexto, o apoio do PSDB é imprescindível, não
só pelos seus quadros, mas também por ser uma legenda em que a corrupção
é pontual e não sistêmica.
O PSDB, nesse momento, já raciocina nessa direção, embora a circunstância eleitoral não permita admitir.
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