Dilma deixa Lula e ala majoritária do PT de fora do núcleo do novo governo
Ao confirmar Pepe Vargas
na pasta da articulação política, não cede às reivindicações do padrinho
e da corrente Construindo um Novo Brasil
Vera Rosa - O Estado de S. Paulo Funcionários fazem manutenção na rampa externa do Palácio do Planalto em preparativos para a posse da presidente Dilma Rousseff
BRASÍLIA - Ao anunciar ontem mais sete nomes para a Esplanada dos Ministérios do segundo mandato,
a presidente Dilma Rousseff afastou ainda mais a influência do padrinho
político, Luiz Inácio Lula da Silva, e da corrente majoritária do PT,
Construindo um Novo Brasil, do núcleo de comando do governo. A escolha
do deputado Pepe Vargas (RS) para ocupar a Secretaria de Relações
Institucionais, que lida com o Congresso Nacional, selou esse
distanciamento.
Ex-ministro do Desenvolvimento Agrário entre 2012 e 2014 e
integrante da tendência Democracia Socialista (DS) - mais à esquerda do
que a hegemônica Construindo um Novo Brasil (CNB) no espectro ideológico
do PT -, Vargas será o segundo gaúcho na “cozinha” do Planalto.
O deputado substituirá Ricardo Berzoini, transferido para o
Ministério das Comunicações, e foi escalado por Dilma para fazer
dobradinha com Miguel Rossetto, o novo chefe da Secretaria-Geral da
Presidência. Rossetto também é gaúcho e integra a mesma corrente de
Vargas no PT.
Embora a cúpula do PT quisesse deslocar Berzoini para
Comunicações - uma vez que ele é mais identificado com o projeto de
regulamentação da mídia -, a escolha de Vargas para sua antiga cadeira
foi considerada por dirigentes do partido como um duro golpe na CNB, a
corrente de Lula.
Com a decisão de Dilma, o núcleo duro do Palácio do Planalto
não terá mais nenhum nome próximo a Lula. Capitão do time, o
ministro-chefe da Casa Civil, Aloizio Mercadante (PT), é da CNB, a ala
majoritária do partido, mas Lula sempre criticou o que chamava de
excessivo “ego” do petista. Mercadante, hoje, é visto no PT como um
representante do time “dilmista”, e não “lulista”.
Além disso, Lula perdeu no Planalto o seu fiel escudeiro
Gilberto Carvalho, que sai desgastado da Secretaria-Geral da
Presidência, após receber broncas de Dilma por seu conhecido
“sincericídio”. Carvalho vai assumir a presidência do Serviço Social da
Indústria (Sesi).
Além de Vargas, Rossetto e Berzoini em outra vaga, Dilma
anunciou ontem outros dois nomes do PT para a equipe: o recém-eleito
deputado Patrus Ananias (PT-MG) no Ministério do Desenvolvimento Agrário
e Carlos Gabas na Previdência. Carimbada de “patinho feio” da
Esplanada, a Previdência sempre foi um ministério rejeitado por aliados.
A pasta estava nas mãos do PMDB, mas Gabas já era o secretário
executivo.
Feudos. Atualmente com 17 dos 39 ministérios,
o PT terá o espaço bastante reduzido no segundo mandato de Dilma. Já
perdeu Educação para Cid Gomes (PROS) e tudo indica que não conseguirá
retomar o Ministério do Trabalho, que deve continuar sob comando do PDT.
Seguindo a lógica de lotear o governo para obter apoio no
Congresso, Dilma manteve o Ministério dos Transportes na cota do PR de
Valdemar Costa Neto, condenado no processo do mensalão. Para Transportes
o escolhido foi o vereador Antônio Carlos Rodrigues (PR), ex-presidente
da Câmara Municipal de São Paulo. Suplente de Marta Suplicy (PT-SP),
Rodrigues foi senador quando a petista era ministra da Cultura. Em
novembro, porém, Marta deixou a Esplanada batendo a porta e criticando o
governo.
Dilma chegou a dizer, em conversas reservadas, que extinguiria
os “feudos” de partidos nos ministérios, mas o PR conseguiu se manter
no lugar.
Troca. O PP do senador Ciro Nogueira (PI) e
do deputado Paulo Maluf (SP) foi para outro ministério. Perdeu Cidades.
Como recompensa, o ministro Gilberto Occhi (PP) ganhou o cobiçado
Ministério da Integração, que cuida das obras do Rio São Francisco e tem
orçamento alto.
Dilma ainda não completou o primeiro escalão. Dos 39
ministros, a presidente anunciou até agora 24 nomes. Os primeiros foram
os integrantes da equipe econômica (Joaquim Levy na Fazenda, Nelson
Barbosa no Planejamento, Alexandre Tombini no Banco Central e Armando
Monteiro no Desenvolvimento, Indústria e Comércio Exterior) para acalmar
o mercado financeiro e o setor produtivo.
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