Estado Islâmico ameaça as eleições presidenciais na Tunísia
Os terroristas assumiram o assassinato em 2013 de dois dirigentes políticos de esquerda
Javier Casqueiro - El País
Fethi Belaid/ AFP
17.dez.2014 - Partidários do candidato à Presidência da Tunísia e ex-premiê Beji Caid Essebsi, 88, acenam com bandeiras
O Estado Islâmico pôs a Tunísia no ponto de mira estratégico de suas próximas ameaças. Exemplo das incipientes democracias árabes, o país onde surgiram as primeiras revoltas da revolução dos jasmins justamente há quatro anos, realiza neste domingo (21) o segundo turno de suas primeiras eleições totalmente livres para a presidência, depois de um ano histórico cheio de feitos democráticos.
Na quarta-feira (17)
à noite, em um vídeo divulgado pelas redes sociais, um grupo de
jihadistas ameaçou boicotar as eleições com "ataques sangrentos" e
assumiu pela primeira vez os assassinatos de dois líderes políticos da
esquerda em 2013.O Estado Islâmico pôs a Tunísia no ponto de mira estratégico de suas próximas ameaças. Exemplo das incipientes democracias árabes, o país onde surgiram as primeiras revoltas da revolução dos jasmins justamente há quatro anos, realiza neste domingo (21) o segundo turno de suas primeiras eleições totalmente livres para a presidência, depois de um ano histórico cheio de feitos democráticos.
No vídeo divulgado podem-se ver perfeitamente quatro homens armados e vestidos de combatentes onde, misturadas com imagens da campanha eleitoral e dos atuais candidatos, são transmitidas mensagens para recrutar tunisianos para a jihad (guerra santa). Um deles adverte que participar das eleições de domingo vai contra os preceitos religiosos do Daesh (a denominação do Estado Islâmico em árabe): "Vamos voltar e assassinar vários de vocês. Não viverão em paz enquanto a Tunísia não for governada no respeito à lei islâmica".
"Sim, tiranos, fomos nós que assassinamos Chokri Belaïd e Mohamed Brahmi", diz no vídeo Abou Mouqatel. As autoridades tunisianas e seu Ministério do Interior o identificaram rapidamente. Trata-se do terrorista cujo verdadeiro nome é Abu Baker al Hakin, já com ordem de busca e captura pelos assassinatos em fevereiro e julho de 2013 desses dois líderes políticos da esquerda, então na oposição, e que comoveram o país. Belaïd era um ferrenho anti-islâmico e Brahmi, um opositor de esquerda. É a primeira vez que se assume a autoria desses assassinatos, que tiveram enormes repercussões políticas, com a saída forçada dos islâmicos da Ennahda do governo e cuja autoria foi objeto de diversas interpretações e especulações.
Outro jihadista cita como seu chefe o atual líder do Estado Islâmico, Abu Baker Al Bagdadi. As autoridades tunisianas estão muito preocupadas diante da possibilidade de que, neste país onde começou a Primavera Árabe, surja algum surto de violência terrorista relacionado ao EI, justamente agora quando está prestes a acabar um ano histórico no qual foram aprovadas, não sem problemas, uma nova Constituição e uma lei eleitoral e se realizaram com bastante normalidade eleições gerais e presidenciais. A Tunísia se vende ao mundo como a "startup" das democracias árabes.
O Ministério do Interior mobilizou milhares de soldados, as fronteiras com a vizinha e caótica Líbia estão mais vigiadas que nunca e nestes dias serão fechadas, e foram desarticulados nos últimos meses vários grupos jihadistas ligados à Ansar al Sharia, o ramo local do Daesh. Estima-se que entre 2.000 e 3.000 tunisianos conseguiram unir-se a grupos radicais para combater na Síria e no Iraque, e interpreta-se que muitos, especialmente os mais jovens, o fizeram desesperados por sua situação interna, com poucos recursos devido ao alto nível de desemprego e a má formação.
Por sua parte, no Marrocos foi confirmado exatamente em que consistirá por enquanto a participação ativa que o governo prometeu no início de outubro na luta em campo contra o EI. O jornal americano "The New York Times" informou há alguns dias que os EUA estão contribuindo para a formação de pilotos de combate marroquinos que vão colaborar mais tarde com as forças aéreas sob o comando dos Emirados Árabes.
Fontes do governo do Marrocos ratificaram ao semanário "Jeune Afrique" que já enviaram seus pilotos de F-16 para participar dessa luta. Será também o batismo de fogo para o esquadrão do Atlas, radicado na base de Bafra de Ben Guerir – 24 caças F-16 de última geração fabricados pela empresa americana Lockheed Martin, recém-adquiridos e que constituem uma das frotas mais modernas dos países do Magreb. O governo marroquino prometeu oferecer dados concretos sobre qual seria sua contribuição exata, mas ainda não o fez.
Tradutor: Luiz Roberto Mendes Gonçalves
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