Michel Guerrin - Le Monde
Quando se pergunta a Matthieu de Montchalin o que representa o período de Natal para os livreiros, ele faz uma comparação lúdica: "No Scrabble, palavras valem o dobro ou o triplo. Para nós, setembro vale o dobro, e dezembro o triplo. "Ou até o quádruplo. Uma livraria perde dinheiro entre janeiro e agosto, se tranquiliza em setembro e se recupera em dezembro", diz o diretor da L'Armitière, em Rouen, e presidente do Sindicato dos Livreiros da França, com 2.500 membros e 40% das vendas no país, mais do que a Fnac e a Amazon juntas.
Só na segunda-feira (22), 5.500 livros foram vendidos na L'Armitière. Matthieu de Montchali explica o que acontece na reta final: "Uma livraria pode morrer com muitos clientes porque sua taxa de rentabilidade é a mais baixa de todos os comércios do centro da cidade: 0,3% do faturamento. Uma livraria muitas vezes atinge seu ponto morto no dia 27 de dezembro. Restam quatro dias para ganhar dinheiro."
Orgulho
Esses livreiros estão felizes porque eles defendem primeiramente os romances, e os desse semestre, premiados ou não, "venderam muito bem". Eles lutam para vender a última obra de Carrère ao cliente, mas é primeiramente a diversidade das vendas que os anima. Christian Thorel, citado como exemplo por seus colegas, sente orgulho de ter vendido 190 exemplares de "Debout-payé" de Gauz, 90 de "Karpathia", de Mathias Menegoz, 70 de "Dans le jardin de l'ogre", de Leila Slimani, e 20 de "L'Envoleuse", de Laure des Accords.A concentração do público em poucas obras se acentua no cinema ou nas exposições, não para esses livreiros. Quando lhe perguntam para quê isso serve, Christian Thorel responde: "Este ano vendemos 700 mil livros, de 160 mil títulos diferentes. Essa diversidade até mesmo cresceu 6% em dezembro."
Nossos livreiros juram que os documentos da ex-primeira-dama francesa Valérie Trierweiler (570 mil exemplares) e de Eric Zemmour (250 mil) foram secundários em suas vendas.
"A clientela de Trierweiler é de revista, não de livros", decide Jean-Marie Aubert. "Zemmour vai bem em uma cidade conservadora como Nice, vendi 338 exemplares dele, mas bem menos que Carrère." Já Matthieu de Montchalin afirma que "dos 600 mil livros vendidos este ano, 300 foram de Trierweiler e 250 de Zemmour."
Paradoxo
Existe um paradoxo. As vendas de livros estão em queda há três anos, a leitura entre os jovens vem diminuindo bruscamente, a literatura sofre e o comércio pela internet está crescendo (18% em 2013), no entanto essas livrarias independentes estão lucrando. A Millepages, por exemplo, acaba de contratar mais funcionários, e o dono da Masséna abriu uma filial em Antibes e se diz "muito otimista" em relação ao setor.
Há várias explicações para isso. Essas livrarias estão instaladas em cidades ricas, dinâmicas e com jovens. Elas são renomadas e muito bem localizadas. Acima de tudo, elas são de porte grande com uma ampla oferta.
A Ombres Blanches é a mais imponente, com seus 10 milhões de euros de faturamento, em uma área de 1.800 metros quadrados. "Quando vejo todas as lojas de comida no centro de Toulouse, penso que é bom difundir o saber", diz Christian Thorel. A Bookstore, em Biarritz, é a menor delas com seus 80 metros quadrados, mas ela fica à beira do mar em uma cidade turística, e abre todos os dias "tanto no verão quanto no Natal". Em compensação, muitas livrarias instaladas em cidades ou bairros instáveis estão sofrendo, ou até perdendo "muito" dinheiro, diz Matthieu de Montchalin.
As grandes livrarias estão se beneficiando do fechamento recente das cadeias Chapitre e Virgin, e da conjuntura também. Um estudo da consultoria Deloitte mostra que o livro está em primeiro lugar na lista dos presentes desejados, algo inédito. Além disso, em período de crise o livro continua sendo um objeto nobre acessível. E, o mais importante, essas livrarias oferecem um serviço incomparável: são 32 vendedores na Ombres Blanches e 21 na Coiffard, que podem passar vinte minutos ou mais com um cliente. Pascal Thuot diz o que está em jogo: "Não se resiste às turbulências acomodando-se. Os clientes eram leitores que sabiam o que queriam. Eles se tornaram consumidores, que devem ser buscados e querem compartilhar uma experiência conosco. Somos uma marca, fazemos comércio de luxo. As pequenas livrarias que ficam esperando o cliente estão com os dias contados."
Para sobreviver elas precisam "pegar o trem da modernidade", diz Nathalie Lacroix, que trabalha com livrarias em projetos culturais, o que envolve estar no Twitter e no Facebook, fazer parte de redes, sair de seus muros. "Se você não se torna um ponto cultural, você morre", diz Rémy Ehlinger, que organizou na Coiffard cerca de trinta encontros com escritores em dois meses. Para eles, a Amazon é uma "praga lamentável do ponto de vista social". Mas todos preferem traçar seu caminho, como Pascal Thuot: "Não entro nesse debate. Cabe a nós resistirmos oferecendo um serviço de qualidade."
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