"Não somos contra direito de asilo. Combatemos refugiados econômicos", diz Bachmann
Lutz Bachmann tem 41 anos, é dono de uma agência de fotografia e
relações-públicas e confessa que foi condenado pela Justiça alemã a três
anos e meio de prisão, embora evite explicar que pecados cometeu
(vários delitos, entre os quais roubo com violência). E, algo raro em um
personagem público, tampouco confessa quando teve a ideia de fundar um
grupo que mantém o país em alerta: o movimento Patriotas Europeus contra
a Islamização do Ocidente (Pegida na sigla em alemão).
Há dez
semanas, Bachmann convidou a população de Dresden a se manifestar contra
a ameaça que, ele considera, representa para a Alemanha a chegada de
refugiados muçulmanos --na Saxônia, eles representam apenas 0,1% dos
habitantes. "Mas não sou racista", declarou ao jornal "Bild" em uma das
poucas entrevistas que concedeu. "Não somos contra o direito de asilo.
Nós combatemos os refugiados econômicos", explicou.Seguindo essa linha de raciocínio, a Pegida passou gradualmente dos ataques aos muçulmanos às críticas contra os imigrantes mais pobres.
Do primeiro encontro, participaram 200 pessoas; na última segunda-feira, mais de 17 mil, segundo a polícia, se reuniram diante da ópera da cidade para entoar cânticos de Natal, um gesto para mostrar ao mundo que a população de Dresden defende a fé cristã.
Perigo número 1
O protesto semanal de Dresden fez que o nome de Bachmann comece a ser amaldiçoado no silêncio dos corredores do mundo político, onde ele foi rotulado como o perigo público número 1 do país. A imprensa o chamou de moderno flautista de Hamelin, que leva seu rebanho de seguidores às perigosas águas do rio Elba, em uma metáfora do impostor que se aproveita das almas inocentes para arrastá-las ao vazio.O que Bachmann é, sem dúvida, é um homem alheio ao "establishment" político, um ativista que qualificou Gregor Gysi, o carismático líder do partido A Esquerda, como um "porco da Stasi", os Verdes como "terroristas ecológicos" e o Partido Social-Democrata como "uma tropa de criminosos".
Até dez semanas atrás, ninguém, exceto a polícia e os proxenetas da zona de prostituição de Dresden, tinham ouvido o nome de Lutz Bachmann. Ele abandonou os estudos de cozinheiro para se dedicar a assaltar clientes das prostitutas. Esse é só um detalhe de seu colorido expediente policial.
Fugiu para a África do Sul, onde se matriculou na Universidade da Cidade do Cabo com nome falso para evitar a prisão. Depois de três anos, as autoridades descobriram sua verdadeira identidade e o expulsaram. Cumpriu sua condenação na Alemanha e, depois de dois anos, foi libertado. Pouco depois, foi detido quando tentava vender cocaína, o que lhe custou outra condenação de dois anos em liberdade condicional.
A ficha de Bachmann também inclui ter dirigido sem carteira de motorista e em estado de embriaguez, roubos e agressões físicas.
O autodesignado "salvador do Ocidente" é um simples criminoso comum transformado em profeta iluminado? Bachmann parece ser algo mais. Segundo relatórios da inteligência alemã, o flautista de Dresden é um homem inteligente e ambicioso, mas que, por sua forma de ser, sempre fracassou em alcançar suas metas.
Tradutor: Luiz Roberto Mendes Gonçalves
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