terça-feira, 30 de dezembro de 2014

Para entusiastas, o pior já passou na zona do euro, que pode se recuperar
Arnaud Leparmentier - Le Monde
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De acordo com os entusiastas da Europa, 2014 está terminando melhor do que começou De acordo com os entusiastas da Europa, 2014 está terminando melhor do que começou
Robert Schuman, autor da famosa declaração de 9 de maio de 1950 --que deu início à aventura europeia--, ainda não foi canonizado. Mas o presidente da Fundação Schuman, Jean-Dominique Giuliani, ainda tem fé. Perto do fim do ano, ele repete sua crença em um editorial: "A retomada da Europa é agora?" O mérito é daqueles que são tratados há anos com um quê de condescendência como "europeístas" enquanto tantos duvidaram durante esses anos de crise. Esses militantes da Europa nunca desistiram, e eles têm razão pois temos certeza do "TINA": there is no alternative [não há alternativa, em tradução para o português].
De acordo com os entusiastas da Europa, 2014 está terminando melhor do que começou. O pior já passou na zona do euro, que poderá recuperar um tanto de crescimento graças ao alinhamento quádruplo dos astros: queda do euro, queda do petróleo, queda das taxas, investimentos europeus.
A guerra fria, iniciada por Vladimir Putin, na Ucrânia não fragmentou a Europa, ao contrário da crise iraquiana de 2003; por fim, o quadro institucional europeu foi renovado, apesar de eleições europeias marcadas pela abstenção e pela ascensão dos populistas: o luxemburguês Jean-Claude Juncker entrou na presidência da Comissão, o polonês Donald Tusk a do Conselho, enquanto a italiana Federica Mogherini assumiu a diplomacia com a energia que faz o charme dos novatos.
É difícil prever um futuro radiante, mas, pelo menos, temos um cronograma europeu para 2015. O plano para investimentos deve ser instaurado por Bruxelas, acompanhado pela Comissão que deve apresentar suas propostas contra a otimização fiscal (janeiro), e depois a favor da política de energia (março) e digital (junho) da Europa.
Paralelamente, será realizado um debate sobre o reforço do governo econômico da zona do euro, com a apresentação, até junho, de um relatório dos quatro presidentes (Comissão, Banco Central Europeu, Conselho Europeu, Eurogrupo). Embora a integridade da união monetária, da qual a Lituânia se tornará o 19o membro no dia 1o de janeiro, não esteja mais ameaçada pelos mercados financeiros, sua legitimidade pode ser contestada caso a Europa não retome o caminho do crescimento.

Proteger o BCE

Infelizmente, a redenção europeia tem alguns problemas: primeiro, o risco de que chegue ao poder a extrema esquerda Syriza, nas eleições da Grécia; segundo, o enfraquecimento de Mario Draghi, o presidente do BCE (Banco Central Europeu), que poderá não ter mais condições de implantar seu programa de subsídio em massa da economia europeia se for contestado demais na Alemanha.
Para isso, convém separar duas frentes: aqueles que consideram, não necessariamente sem razão, que Draghi está conduzindo uma política monetária contrária aos tratados europeus e oposta aos preceitos do Bundesbank; e aqueles que acreditam que a calmaria monetária propiciada por Draghi permite que países indisciplinados como a França não conduzam suas reformas.

Grande farsa

Proteger o BCE é trabalho de Angela Merkel e, sobretudo, de François Hollande, que terá de chegar a um acordo com a Comissão Europeia sobre sua política orçamentária. A França é o terceiro risco europeu.
Dois velhos amigos terão de negociar, o ministro da Economia Michel Sapin, acusado de desafiar Bruxelas, e seu antecessor que se tornou comissário europeu encarregado dos assuntos econômicos e monetários, Pierre Moscovici.
Três divergências devem ser acertadas. Primeiro, mostrar que a França manteve seus compromissos em 2014. Segundo, fazer um esforço suficiente em 2015. Só que isso não basta, segundo Bruxelas, que constatou que a redução dos déficits estruturais foi insuficiente. Terceiro, apresentar uma nova trajetória de redução de déficits para chegar abaixo de 3% em 2017.
Tudo isso é uma grande farsa, mas a Comissão fingirá que acredita na França para retardar a crise. Bruxelas quer evitar colocar em dificuldades o governo de Manuel Valls, contestado por um Partido Socialista que será cada vez menos europeu, com a aproximação do congresso de Poitiers convocado para junho.
O objetivo é proteger a zona do euro de choques extremos. O primeiro ataque virá das eleições britânicas, esperadas para o início de maio de 2015, que tem como favorito o primeiro-ministro conservador David Cameron. Assim que eleito, depois de ter prometido seu referendo sobre a saída do Reino Unido da UE, ele correrá para Bruxelas para pedir uma revisão dos tratados europeus.
Já os franceses não querem ser arrastados pelos anglófilos alemães e holandeses e pretendem manter uma orientação firme. A ideia é recusar uma reforma dos tratados como a que instaura uma cota de imigrantes europeus, e aceitar adaptações na lei e nas regras europeias.
O segundo choque será o de Putin. Será que devemos lhe estender a mão, como recomendam os russófilos italianos, cipriotas ou austríacos, agora que sua economia está vindo abaixo, ou, pelo contrário, deve-se endurecer? Paris e Berlim são a favor de deixar as coisas como estão. O assunto deverá ser decidido em março, quando as sanções serão renovadas ou não.
Em seguida será necessário decidir se o presidente russo pode ser convidado novamente ao G7-G8, que em junho foi presidido por Angela Merkel. Depois virá a cúpula de Riga, no final do ano, que deverá redefinir a parceria oriental da União Europeia, tão mal preparada em 2013 que levou à crise ucraniana.
Por fim, o ano terminará com a Cúpula de Paris sobre o clima. Os europeus estão preparados, mas o resto do mundo não. Como em 2010, na cúpula fracassada de Copenhague, os emergentes querem se desenvolver e poluir, e os pobres exigem cada vez mais subsídios dos países do Norte. O objetivo para François Hollande é evitar um fiasco diplomático.

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