Annie Kahn - Le Monde
Darko Bandic/AP
Hussein Al-Shamali, 20, de Idlib, na Síria, mostra sua carteirinha de estudante enquanto descansa, após cruzar da Sérvia para Roszke, na Hungria. Em sua mochila, ele leva o que acha que pode ser a chave para seu futuro: seus históricos escolares
A notícia saiu na "The Economist" de 12 de setembro, e ela me desconcertou. Ela trazia a história de Hussein Serif, um dos muitos sírios entrevistados para a reportagem que a revista britânica está dedicando à crise dos refugiados. Hussein Serif espera um trem para ir até Kiel, no norte da Alemanha, a partir do vilarejo austríaco aonde ele acaba de chegar. E quais seriam seus planos?, pergunta o jornalista. "Encontrar um trabalho na Alemanha, e depois me candidatar a uma bolsa e entrar para o Insead, a escola internacional de administração de Fontainebleau".
Em poucas palavras, a realidade salta aos olhos. Muitos desses refugiados, dotados de vontade e coragem implacáveis, também têm um alto grau de instrução. Esse jovem graduado em marketing na Universidade de Damasco, que foi obrigado a fugir de seu país e encontrar um lugar para passar a noite, continua determinado a prosseguir com sua carreira acadêmica no mais alto nível, em uma prestigiosa escola de administração.
Quando se pensa que os candidatos a essa instituição geralmente se preparam muito durante semanas, no conforto de suas casas, a ambição de Hussein Serif necessariamente desperta admiração.
Paralelamente,
consultores e especialistas em recursos humanos em empresas continuam
falando em disputa por talentos. Segundo um estudo do Fórum Econômico
Mundial (WEF) de Davos, publicado em 2011, os países da Europa Ocidental
terão um déficit de 45 milhões de profissionais qualificados até 2030.
Em 20 de janeiro, o Insead publicou justamente seu ranking de países mais aptos a acolher "talentos", com a seguinte constatação: "Os talentos estão se movendo mais rápido do que nunca por todo o mundo. Os países que permanecem abertos a eles estão construindo para si uma vantagem competitiva".
É um círculo virtuoso. "Os países ricos também estão mais aptos a atrair estrangeiros, graças à sua melhor qualidade de vida e a melhores remunerações, o que contribui para aumentar a diversidade", explicam Paul Evans, diretor do ranking, e Bruno Lanvin, diretor de indicadores mundiais do Insead.
Para ser rico é preciso ser competitivo. Para ser competitivo, é preciso saber atrair as mentes mais brilhantes, como todos sabem. De fato, a maioria das patentes registradas por empresas americanas têm residentes estrangeiros como autores, segundo o WEF. É o caso de 65% das patentes registadas pelo grupo farmacêutico Merck, de 64% das patentes da General Electric e de 60% das patentes da empresa de tecnologia Cisco.
No Reino Unido, por exemplo, os trabalhadores migrantes são sistematicamente pouco qualificados, afirma Aurore Flipo em sua tese de sociologia sobre "As novas migrações de trabalho intra-europeias", defendida neste ano na Sciences Po Paris.
Mas não seria essa suposta "disputa por talentos" um estratagema armado pelas empresas e seus lobbies para aumentar a oferta de candidatos e, assim, a concorrência entre eles, tendo como consequência uma diminuição nos salários?, questionam alguns. De maneira alguma, na opinião do Boston Consulting Group.
Em seu estudo sobre a crise global do emprego, publicado em junho de 2014, essa consultoria em estratégias acredita que mesmo um país que atualmente esteja com um alto índice de desemprego, como a França, sofrerá de uma falta de profissionais qualificados até 2030. E, a curto prazo, um crescimento de 10% da população de imigrantes só reduzirá os salários dos cidadãos em 0,2% a 0,7%, explica um outro estudo do WEF, publicado no final de 2011, chamado "Estimular as economias através da mobilidade."
As necessidades estariam em todas as áreas. Para os 400 diretores de recursos humanos entrevistados na França no mês de março pela Associação Nacional de Diretores de Recursos Humanos e pelas consultorias Fefaur e Cornerstone, "os talentos se qualificam mais por promessas de futuro do que pelos atuais desempenhos". Ou seja, as empresas estariam em busca de colaboradores que tenham um forte potencial, independentemente da área.
Então a solução não seria evidente? Refugiados com boa formação poderiam atender a essa demanda, ainda que não possam começar a trabalhar imediatamente, por em um primeiro momento não dominarem a língua e a cultura do país.
No entanto, o desejo de Hussein Serif não comove muito o Insead. "A diversidade é nossa pedra angular (...). Um fundo repleto de ex-alunos ajuda aqueles que vêm de países que estejam passando por crises econômicas, sociais ou políticas a financiarem seus estudos", responde a instituição. As portas estão abertas. Sem mais.
Em 20 de janeiro, o Insead publicou justamente seu ranking de países mais aptos a acolher "talentos", com a seguinte constatação: "Os talentos estão se movendo mais rápido do que nunca por todo o mundo. Os países que permanecem abertos a eles estão construindo para si uma vantagem competitiva".
É um círculo virtuoso. "Os países ricos também estão mais aptos a atrair estrangeiros, graças à sua melhor qualidade de vida e a melhores remunerações, o que contribui para aumentar a diversidade", explicam Paul Evans, diretor do ranking, e Bruno Lanvin, diretor de indicadores mundiais do Insead.
Para ser rico é preciso ser competitivo. Para ser competitivo, é preciso saber atrair as mentes mais brilhantes, como todos sabem. De fato, a maioria das patentes registradas por empresas americanas têm residentes estrangeiros como autores, segundo o WEF. É o caso de 65% das patentes registadas pelo grupo farmacêutico Merck, de 64% das patentes da General Electric e de 60% das patentes da empresa de tecnologia Cisco.
Falta de empregos qualificados
Mas, segundo o ranking do Insead, a França se encontra na 23ª posição, atrás do Reino Unido (7ª) e da Alemanha (14ª), países que no entanto não aproveitam da melhor forma possível essa mão de obra estrangeira.No Reino Unido, por exemplo, os trabalhadores migrantes são sistematicamente pouco qualificados, afirma Aurore Flipo em sua tese de sociologia sobre "As novas migrações de trabalho intra-europeias", defendida neste ano na Sciences Po Paris.
Mas não seria essa suposta "disputa por talentos" um estratagema armado pelas empresas e seus lobbies para aumentar a oferta de candidatos e, assim, a concorrência entre eles, tendo como consequência uma diminuição nos salários?, questionam alguns. De maneira alguma, na opinião do Boston Consulting Group.
Em seu estudo sobre a crise global do emprego, publicado em junho de 2014, essa consultoria em estratégias acredita que mesmo um país que atualmente esteja com um alto índice de desemprego, como a França, sofrerá de uma falta de profissionais qualificados até 2030. E, a curto prazo, um crescimento de 10% da população de imigrantes só reduzirá os salários dos cidadãos em 0,2% a 0,7%, explica um outro estudo do WEF, publicado no final de 2011, chamado "Estimular as economias através da mobilidade."
As necessidades estariam em todas as áreas. Para os 400 diretores de recursos humanos entrevistados na França no mês de março pela Associação Nacional de Diretores de Recursos Humanos e pelas consultorias Fefaur e Cornerstone, "os talentos se qualificam mais por promessas de futuro do que pelos atuais desempenhos". Ou seja, as empresas estariam em busca de colaboradores que tenham um forte potencial, independentemente da área.
Então a solução não seria evidente? Refugiados com boa formação poderiam atender a essa demanda, ainda que não possam começar a trabalhar imediatamente, por em um primeiro momento não dominarem a língua e a cultura do país.
No entanto, o desejo de Hussein Serif não comove muito o Insead. "A diversidade é nossa pedra angular (...). Um fundo repleto de ex-alunos ajuda aqueles que vêm de países que estejam passando por crises econômicas, sociais ou políticas a financiarem seus estudos", responde a instituição. As portas estão abertas. Sem mais.
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