Veterano Bernie Sanders cresce como adversário de Clinton e endurece o discurso geral contra a desigualdade
Amanda Mars - El País
Pablo Martinez Monsivais/AP
Bernie Sanders, senador norte-americano pelo Estado de Vermont
Ele nem é o favorito nas apostas nem é visto como presidente dos Estados Unidos, mas Bernie Sanders, um senador de 73 anos autodeclarado socialista em um país que abomina essa palavra, cresceu o suficiente para se aproximar de Hillary Clinton e escorar à esquerda a campanha democrata para escolher um candidato às eleições de 2016.
Sanders reúne multidões, apela aos interesses da classe social frente as ideias políticas de cada um e pede uma "revolução política" contra o 'establishment'. Enfim, encarna a versão norte-americana da liderança europeia que cresceu na fartura.
Bernie Sanders, senador norte-americano pelo Estado de Vermont
Ele nem é o favorito nas apostas nem é visto como presidente dos Estados Unidos, mas Bernie Sanders, um senador de 73 anos autodeclarado socialista em um país que abomina essa palavra, cresceu o suficiente para se aproximar de Hillary Clinton e escorar à esquerda a campanha democrata para escolher um candidato às eleições de 2016.
Sanders reúne multidões, apela aos interesses da classe social frente as ideias políticas de cada um e pede uma "revolução política" contra o 'establishment'. Enfim, encarna a versão norte-americana da liderança europeia que cresceu na fartura.
"Senhor Greenspan, o senhor
simplesmente não sabe o que acontece no mundo real. Venha comigo
conhecer gente de verdade, os clubes de campo e os coquetéis não são os
EUA reais, os milionários são a exceção."
Não foi em plena crise que um Sanders cheio de nervos se declarou assim diante do presidente do Federal Reserve (banco central dos EUA), mas em 2003, antes da grande tempestade. Doze anos depois, o senador independente por Vermont continua clamando contra a desigualdade e pedindo pulso firme contra Wall Street, mas as palavras penetram mais que antes da Grande Recessão.
Pela primeira vez, em meados de agosto, uma pesquisa situou Sanders à frente de Clinton em New Hampshire, e neste sábado (29), outra pesquisa em Iowa lhe deu 30% de apoio, a apenas 7 pontos da favorita. A atração de pequenos doadores para financiar sua campanha pode ser comparada à que Barack Obama conseguiu em 2008. Por idade e por perfil, é fácil comparar sua ascensão à de Jeremy Corbyn no Partido Trabalhista britânico, só que em um país que nunca teve um Partido Trabalhista.
"Sanders está abarcando um espaço ideológico à esquerda que não era ocupado por ninguém, Clinton faz parte de um centro mais pragmático, e se Joe Biden [atual vice-presidente] decidir se candidatar lutará pelos mesmos votos que ela. Sanders fala de uma desigualdade que preocupa muito as pessoas e tem uma carreira coerente com isso", indica Geoffrey Skelley, do Centro para Política da Universidade da Virgínia.
Sanders foi um "outsider", um quase marginal: votou contra a guerra do Iraque e defendeu o casamento gay quando quase ninguém o fazia. Pede o aumento dos salários mínimos e se declara social-democrata, mas apela aos votos de uma classe trabalhadora com ideias políticas díspares, mas uma preocupação comum: sua sobrevivência. É no grupo da população prejudicada pela crise e que se sente desfavorecida na recuperação que ele espera captar votos.
"Mas o argumento de classe, este de que muita gente está votando contra seus interesses econômicos, nunca triunfou nos EUA. O fator conservador frente o liberal aqui também está vinculado ao urbano contra o rural", aponta Skelley. Além disso, ele adverte que "Sanders está especialmente conectado com os cidadãos brancos, bem formados e de classe média", e não com os mais maltratados pelo sistema.
Filho de um imigrante polonês, Sanders nasceu e cresceu em uma área do Brooklyn (Nova York) eminentemente judia, um bairro tranquilo no qual os mais velhos se sentam em cadeiras dobráveis à sombra, em pequenos grupos. Apenas quatro quarteirões separam a casa da família, um apartamento modesto em um prédio hoje descuidado, do colégio James Madison, onde estudou nos anos 1950 e que desde 2008 o tem em seu quadro de honra.
"Ele foi incluído no âmbito de um ato organizado, mas no dia seguinte voltou à escola sem avisar ninguém e reuniu-se com grupos de alunos para conhecer suas preocupações e seus problemas. Não crê que isso diz muito sobre o caráter de alguém?", conta Marthy Alpert, a presidente da associação de ex-alunos, dois anos mais velha que Sanders.
O velho senador pega bem, conecta-se com os mais velhos e com os jovens --a chamada geração do milênio, que terá um grande peso nesta campanha e que não confia no sistema como está organizado--, embora tenha uma frente aberta com a comunidade negra, cujos ativistas (o movimento Vidas Negras Importam) o acusam de não ser bastante contundente na defesa de seus direitos.
Resta ver que papel terá a brecha social em uma América que saiu da crise de uma forma tão desigual. Antes do efeito Sanders, houve o efeito Warren --Elizabeth Warren, que não é candidata--, que já influiu no discurso de Clinton.
"Ela continua sendo a mais forte e a que tem mais dinheiro, mas Sanders está tendo um grande impacto e a está obrigando a ser mais agressiva em suas ideias", aponta Julian Zelizer, analista político e professor na Universidade Princeton.
Tradução: Luiz Roberto Mendes Gonçalves
Não foi em plena crise que um Sanders cheio de nervos se declarou assim diante do presidente do Federal Reserve (banco central dos EUA), mas em 2003, antes da grande tempestade. Doze anos depois, o senador independente por Vermont continua clamando contra a desigualdade e pedindo pulso firme contra Wall Street, mas as palavras penetram mais que antes da Grande Recessão.
Pela primeira vez, em meados de agosto, uma pesquisa situou Sanders à frente de Clinton em New Hampshire, e neste sábado (29), outra pesquisa em Iowa lhe deu 30% de apoio, a apenas 7 pontos da favorita. A atração de pequenos doadores para financiar sua campanha pode ser comparada à que Barack Obama conseguiu em 2008. Por idade e por perfil, é fácil comparar sua ascensão à de Jeremy Corbyn no Partido Trabalhista britânico, só que em um país que nunca teve um Partido Trabalhista.
"Sanders está abarcando um espaço ideológico à esquerda que não era ocupado por ninguém, Clinton faz parte de um centro mais pragmático, e se Joe Biden [atual vice-presidente] decidir se candidatar lutará pelos mesmos votos que ela. Sanders fala de uma desigualdade que preocupa muito as pessoas e tem uma carreira coerente com isso", indica Geoffrey Skelley, do Centro para Política da Universidade da Virgínia.
Sanders foi um "outsider", um quase marginal: votou contra a guerra do Iraque e defendeu o casamento gay quando quase ninguém o fazia. Pede o aumento dos salários mínimos e se declara social-democrata, mas apela aos votos de uma classe trabalhadora com ideias políticas díspares, mas uma preocupação comum: sua sobrevivência. É no grupo da população prejudicada pela crise e que se sente desfavorecida na recuperação que ele espera captar votos.
Interesses de classe contra ideias
"Não sou um liberal [de esquerda], sou um progressista que sobretudo se concentra na classe média e trabalhadora", disse Sanders ao "New York Times". E acrescentou: "As pessoas hoje estão muito decepcionadas porque a classe média está sendo destruída" e muitas destas "podem não estar de acordo com o casamento homossexual, mas querem um lutador"."Mas o argumento de classe, este de que muita gente está votando contra seus interesses econômicos, nunca triunfou nos EUA. O fator conservador frente o liberal aqui também está vinculado ao urbano contra o rural", aponta Skelley. Além disso, ele adverte que "Sanders está especialmente conectado com os cidadãos brancos, bem formados e de classe média", e não com os mais maltratados pelo sistema.
Filho de um imigrante polonês, Sanders nasceu e cresceu em uma área do Brooklyn (Nova York) eminentemente judia, um bairro tranquilo no qual os mais velhos se sentam em cadeiras dobráveis à sombra, em pequenos grupos. Apenas quatro quarteirões separam a casa da família, um apartamento modesto em um prédio hoje descuidado, do colégio James Madison, onde estudou nos anos 1950 e que desde 2008 o tem em seu quadro de honra.
"Ele foi incluído no âmbito de um ato organizado, mas no dia seguinte voltou à escola sem avisar ninguém e reuniu-se com grupos de alunos para conhecer suas preocupações e seus problemas. Não crê que isso diz muito sobre o caráter de alguém?", conta Marthy Alpert, a presidente da associação de ex-alunos, dois anos mais velha que Sanders.
O velho senador pega bem, conecta-se com os mais velhos e com os jovens --a chamada geração do milênio, que terá um grande peso nesta campanha e que não confia no sistema como está organizado--, embora tenha uma frente aberta com a comunidade negra, cujos ativistas (o movimento Vidas Negras Importam) o acusam de não ser bastante contundente na defesa de seus direitos.
Resta ver que papel terá a brecha social em uma América que saiu da crise de uma forma tão desigual. Antes do efeito Sanders, houve o efeito Warren --Elizabeth Warren, que não é candidata--, que já influiu no discurso de Clinton.
"Ela continua sendo a mais forte e a que tem mais dinheiro, mas Sanders está tendo um grande impacto e a está obrigando a ser mais agressiva em suas ideias", aponta Julian Zelizer, analista político e professor na Universidade Princeton.
Tradução: Luiz Roberto Mendes Gonçalves
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