terça-feira, 1 de setembro de 2015

Angela Merkel, a essencial
Caio Blinder - VEJA
A líder europeia em marcha
A líder europeia em marcha
A crise migratória se agrava e é cada vez mais urgente na Europa. Conforme a tradição, líderes europeus convocaram uma reunião de emergência. Ficou marcada lá para o dia 14 de setembro. Não vou fazer ironia barata com a cúpula europeia.
A crise migratória é grave e urgente, mas também complexa. Somente este ano entraram 320 mil refugiados vindos especialmente do Oriente Médio e África do Norte, gente miserável e desesperada, que muitas vezes quando tenta sair do inferno acaba entrando em outro. Estão aí as histórias de refugiados sofrendo e morrendo nas mãos de traficantes e criminosos em mar e terra.
Há também hostilidade e xenofobia da parte da sociedade e de algumas lideranças europeias, com conotações racistas e islamofóbicas. Em contrapartida, o mero clamor humanitário colide com a realidade política, social e econômica. Não dá para a Europa simplesmente acolher as crescentes levas de refugiados e a carga maior acaba sendo dos países do Mediterrâneo, os que mais sofreram e ainda sofrem com a crise econômica. O dilema é que acolher funciona como uma ferramenta de atração para mais refugiados.
Nunca é fácil para a Europa encontrar uma política comum quando enfrenta um desafio e pelas estimativas trata-se do maior fluxo migratório desde a Segunda Guerra Mundial. O que fazer? Liderança para valer na Europa apenas a de Angela Merkel, a primeira-ministra alemã que neste setembro está completando dez anos de poder.
Merkel é uma política cautelosa que espera o momento de agir. No entanto, ela antecipa os desafios. Em meados de agosto, ela descreveu o problema dos refugiados como um desafio mais grave para a Europa do que a crise grega. Na ocasião, a declaração foi questionada, agora é aceita com bem menos reservas.
Como de hábito, Angela Merkel está buscando um pouco de equilíbrio entre o DNA do seu partido de centro-direita, o Partido Democrata-Cristão, os interesses alemães e os da União Europeia como um todo. Somente ela tem condições de oferecer o compasso político e moral para a Europa. Na semana passada, Merkel disparou contra extremistas alemães de direita, alertando contra a intolerância e o desrespeito à dignidade humana dos refugiados. No começo do ano, ela já condenara o movimento islamofóbico Pegida (que atua na Alemanha) e defendeu o islã como uma religião que “pertence à Alemanha”.
Angela Merkel quer ocupar o centro do debate e sabe que cabe a ela costurar uma política migratória comum na Europa mas sem se desgastar na sua própria base partidária na Alemanha. As indicações são de que ela vai concorrer a um quarto mandato nas eleições de 2017.
Não posso me furtar a uma diatribe, comparando a postura de uma líder conservadora na Europa e as palhaçadas no circo das primárias republicanas que tem Donald Trump no centro do picadeiro com seu comportamento xenofóbico. Num reality-show de política, eu lançaria o nome de Angela Merkel como candidata republicana nas eleições presidenciais americanas de 2016.

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