O ex-presidente do banco disparou telefonemas para deputados apontando erros formais na criação do colegiado e dizendo-se inocente; a CPI acabou arquivada
Marcela Mattos - VEJA
Ex-CEO e ex-controlador do BTG Pactual, André Esteves, durante participação do encontro anual World Economic Forum, em Davos, na Suiça (Denis Balibouse/Reuters)
Conhecido financiador de campanhas eleitorais, Esteves dedicou-se, pessoalmente, a disparar telefonemas para deputados pedindo o fim da comissão. Do outro lado da linha, conforme relatos, ele alardeava que havia irregularidades no documento que permitiu a criação do colegiado. Mais: afirmava ser inocente e ponderava que já estava dando explicações à Justiça.
Primeiro-secretário da Câmara, o deputado Beto Mansur (PRB-SP) foi um dos que receberam a ligação. “Ele ligou para mim, que sou componente da Mesa, para eu verificar que se havia um erro [na formalização da CPI]”, contou à reportagem. “Ele se mobilizou dizendo que não tinha cabimento a criação de uma CPI e que já estava comprovando a inocência dele no Supremo”, continuou.
Esteves confirmou, por meio de nota, que acionou os congressistas. Disse que contou com o suporte da Confederação Nacional das Instituições Financeiras e que o BTG Pactual procurou “institucionalmente” os líderes partidários no Congresso “para esclarecer os motivos pelos quais considera que não faria sentido a criação da CPI”, entre eles “o fato de que já existem investigações feitas por diversas autoridades sobre as suspeitas apontadas no pedido – e que não constataram nenhuma irregularidade”.
À investida do banqueiro seguiu-se uma estranha movimentação no Congresso para abafar a comissão de inquérito. Depois de o processo de coleta de assinaturas se arrastar por sete meses, parlamentares se “arrependeram” de chancelar a investigação e discutiram, nos bastidores, como seria possível recuar do apoio ao colegiado. Os deputados Carlos Melles (DEM-MG), Victório Galli (PSC-MT), Takayama (PSC-PR) e Marco Feliciano (PSC-SP) chegaram a ingressar com recursos pedindo a retirada das assinaturas.
A CPI acabou arquivada após uma decisão do então presidente interino, Waldir Maranhão (PP-MA). Ele apontou para irregularidades na coleta de assinaturas – as páginas para receber os apoios dos congressistas traziam ementas diferentes – e afirmou que não havia fato de “relevância nacional” para a formação do colegiado.
“Com base no que [foi] redigido na proposição, temos que a prisão do senhor André Esteves e os motivos que a sustentaram, embora possa constituir um fato concreto e determinado, não pode ser caracterizado, de forma isolada, como um fato de relevância nacional sobre o qual se deva debruçar uma CPI, pois, além de tudo, trata-se de fato específico submetido à jurisdição penal a cargo do poder Judiciário”, disse Maranhão.
O deputado João Henrique Caldas (PSB-AL) foi quem encabeçou a criação das assinaturas para a criação da CPI – são necessárias ao menos 171 rubricas de deputados para formar uma comissão de inquérito na Câmara. No documento, ele afirmava que a comissão precisaria investigar os motivos da prisão de André Esteves, ter acesso à investigação sigilosa e apurar a ascensão do BTG-Pactual, “sempre em atividades relacionadas a favorecimentos do Estado”.
“Houve muita resistência da Câmara como um todo, independentemente de partido, o que gerou uma certa curiosidade. Tanto a situação quanto a oposição não queriam assinar. Além disso, geralmente a conferência das assinatura sai no mesmo dia do protocolo. Após quinze dias não havia sido dada nenhuma resposta, apesar das cobranças feitas à Diretoria-Geral e à Presidência”, disse JHC. Ele contraria os técnicos e a Direção da Câmara e nega haver qualquer erro formal no pedido de criação da CPI.
André Esteves foi preso pela Polícia Federal no fim do ano passado. O bilionário banqueiro acabou atrás das grades sob a suspeita de ter agido para obstruir uma investigação sobre possíveis subornos apurados pela Operação Lava Jato. Nesta quinta-feira, o MP reforçou a denúncia contra Esteves por “embaraçar” a investigação criminal. Também foram denunciados o ex-presidente Lula, o pecuarista José Carlos Bumlai e o ex-senador Delcídio do Amaral.
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