Hebe define-se como uma "dilmista". Num texto sobre o impeachment,
escreve que "o clima político atual lembra o pré-1964" mas o governo
Temer "ecoa 1837" –isto é, o triunfo do Regresso e a reação à Lei Feijó,
de criminalização da importação de escravos. Como contestar paralelos
históricos tão rigorosos, amparados em farta prova documental? Diante
deles, pergunto-me se os Historiadores pela Democracia não deveriam
ultrapassar os limites nacionais, radicalizando seus paralelos. Sugiro
evocar a Noite dos Cristais para fazer referência à sessão da Câmara de
17 de abril, que aprovou o início do processo de impeachment, e a
Conferência de Wannsee, quando os nazistas deliberaram a "solução
final", para caracterizar o projeto político do governo Temer.
Tudo é permitido, se Deus está morto e a verdade factual não passa de uma narrativa. O núcleo político do governo Temer é constituído pelos aliados peemedebistas do mandato e meio de Dilma. O programa econômico do governo Temer é quase idêntico ao anunciado por Dilma após o estelionato eleitoral –e isso abrange tanto o ajuste fiscal como a proposta de reforma da Previdência. Mas, por alguma razão não tão misteriosa, os Historiadores pela Democracia falharam em alertar-nos sobre "1964" ou "1837" nos idos de janeiro de 2015.
Os Historiadores pela Democracia não entendem a democracia. A democracia não são os resultados que eles querem, ou que eu quero, mas as regras do jogo. O PT não violou tais regras ao pedir o impeachment de todos os presidentes (menos os seus) desde o fim da ditadura militar. Repetindo o discurso petista, os Historiadores pela Democracia asseguram que, no caso singular de Dilma, o impeachment configura um "golpe", pois ela não teria cometido crimes de responsabilidade. O ponto é que, de acordo com o contrato da democracia, a decisão sobre a existência de crimes passíveis de impeachment compete ao Congresso, sob supervisão do STF –não a Dilma ou a um grupo de historiadores. Segundo esse contrato, o impedimento de Collor foi tão legítimo quanto a eleição de Collor. Por que seria diferente com Dilma?
Desde 1946, por uma década, operou o Grupo de Historiadores do PC britânico, no qual destacaram-se nomes como Christopher Hill, Edward P. Thompson e Eric Hobsbawm. O grupo, que declarava sua filiação partidária e compartilhava um método de análise histórica, produziu obras relevantes, além de intervenções políticas lastimáveis, mas não usou a história como fonte de legitimação das táticas dos comunistas britânicos. Em contraste, os Historiadores pela Democracia invocam o valor comum da democracia e sua autoridade acadêmica para servir aos propósitos propagandísticos de um partido. Eles lançam a pecha de "golpista" contra a Câmara, o Senado e o STF. De quebra, queixam-se da "intolerância" dos que, gostando ou não do impeachment, curvam-se às regras da democracia.
No Historiadores pela Democracia, encontram-se historiadores sofisticados, eruditos e produtivos. Diz muito de nossa crise nacional a disposição que revelam de cumprir uma missão no reino da pós-verdade.
Tudo é permitido, se Deus está morto e a verdade factual não passa de uma narrativa. O núcleo político do governo Temer é constituído pelos aliados peemedebistas do mandato e meio de Dilma. O programa econômico do governo Temer é quase idêntico ao anunciado por Dilma após o estelionato eleitoral –e isso abrange tanto o ajuste fiscal como a proposta de reforma da Previdência. Mas, por alguma razão não tão misteriosa, os Historiadores pela Democracia falharam em alertar-nos sobre "1964" ou "1837" nos idos de janeiro de 2015.
Os Historiadores pela Democracia não entendem a democracia. A democracia não são os resultados que eles querem, ou que eu quero, mas as regras do jogo. O PT não violou tais regras ao pedir o impeachment de todos os presidentes (menos os seus) desde o fim da ditadura militar. Repetindo o discurso petista, os Historiadores pela Democracia asseguram que, no caso singular de Dilma, o impeachment configura um "golpe", pois ela não teria cometido crimes de responsabilidade. O ponto é que, de acordo com o contrato da democracia, a decisão sobre a existência de crimes passíveis de impeachment compete ao Congresso, sob supervisão do STF –não a Dilma ou a um grupo de historiadores. Segundo esse contrato, o impedimento de Collor foi tão legítimo quanto a eleição de Collor. Por que seria diferente com Dilma?
Desde 1946, por uma década, operou o Grupo de Historiadores do PC britânico, no qual destacaram-se nomes como Christopher Hill, Edward P. Thompson e Eric Hobsbawm. O grupo, que declarava sua filiação partidária e compartilhava um método de análise histórica, produziu obras relevantes, além de intervenções políticas lastimáveis, mas não usou a história como fonte de legitimação das táticas dos comunistas britânicos. Em contraste, os Historiadores pela Democracia invocam o valor comum da democracia e sua autoridade acadêmica para servir aos propósitos propagandísticos de um partido. Eles lançam a pecha de "golpista" contra a Câmara, o Senado e o STF. De quebra, queixam-se da "intolerância" dos que, gostando ou não do impeachment, curvam-se às regras da democracia.
No Historiadores pela Democracia, encontram-se historiadores sofisticados, eruditos e produtivos. Diz muito de nossa crise nacional a disposição que revelam de cumprir uma missão no reino da pós-verdade.
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