Sociedade paga a conta do dirigismo de Lula e Dilma
A intervenção no setor elétrico deixou uma
fatura adicional de dezenas de bilhões a ser paga pelo consumidor; mas a
pior herança é a recessão, com seus efeitos
O Globo
O rastro de ruínas deixadas pelo experimentalismo da política
econômica heterodoxa do lulopetismo é extenso. Com a dramática
particularidade de que, ao contrário dos tornados, os danos persistem e
crescem durante muito tempo. A parte principal da conta remetida ao povo
brasileiro pela política dirigista do “novo marco macroeconômico” —
cujas estacas foram fincadas no segundo governo Lula, com Dilma Rousseff
na Casa Civil — levará muito tempo para ser resgatada. A desastrosa
obra foi concluída pela própria Dilma no Planalto, e lhe custou o
mandato no início do segundo governo.
Foi o pior ciclo de crise econômica da História da
República, instaurado na estagnação de 2014, estendendo-se ao biênio
seguinte de recessões acima dos 3% ao ano, responsáveis pela demissão de
mais de 12 milhões de pessoas no mercado formal de trabalho, com todos
os dramas pessoais decorrentes de uma tragédia social dessa envergadura.
Soube-se na terça-feira, pela Agência Nacional de Energia
Elétrica (Aneel), que aquela filosofia de gestão econômica aplicada por
Dilma neste setor produziu uma fatura de R$ 62,2 bilhões ainda a ser
paga pelos consumidores.
É no que deu a ideia dirigista, aplicada para, a partir de
2012, cortar em 20% as contas de luz. Dois anos depois, a presidente se
reelegeria. Mas aumentos de custos em geradoras e distribuidoras,
escamoteados por meio de subsídios do Tesouro para tudo resistir até as
urnas, vieram à tona, e não houve alternativa a não ser um tarifaço —
alertado sucessivamente na imprensa profissional.
Vendida ao eleitorado como exímia gestora, com lastro na
experiência acumulada na área elétrica, Dilma Rousseff interveio no
setor, por meio de medida provisória, para, numa acrobacia regulatória,
exigir de concessionários a redução nas tarifas em troca da renovação de
contratos.
Estatais sob controle de governos de oposição (São Paulo e
Minas) não aceitaram a prestidigitação, e, para agravar tudo, veio a
seca. Com isso, as termelétricas, de custo operacional mais elevado,
tiveram de funcionar durante muito tempo. Mais custos ficaram
reprimidos, mas nem assim houve recuo.
Nem o tarifaço foi suficiente. Ativos das empresas não foram
remunerados como deveriam. Assim, sobraram ainda estes bilhões a serem
distribuídos pelas contas de luz até 2025. É o exemplar irretocável de
um “esqueleto” fiscal, como aqueles deixados nos armários da
contabilidade pública pela ditadura militar, mantidos no início da
redemocratização e só descobertos no Plano Cruzado. Pois eles voltaram a
ser criados na fase populista do lulopetismo — excluindo quase todo o
primeiro mandato de Lula.
O PT, infelizmente, voltou a ser PT em política econômica, e
o resultado é que a sociedade mais uma vez terá de arcar com despesas
ocultas deixadas nesses armários por salvacionistas.
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