A descabida tentativa de ressuscitar a CPMF
Dentro da tradição de o Estado sobrecarregar o
contribuinte, volta-se a falar no ‘imposto do cheque’, e quando a carga
tributária está nas alturas
O Globo
Os caminhos que levaram o Brasil, a partir do Plano Real, em 1994, a
acrescentar dez pontos percentuais de PIB no volume de receita
tributária do Estado, de 25% para 35%, ajudam a entender não apenas a
tendência atávica de o poder público pressionar de forma constante o
contribuinte para pagar contas crescentes, como também sua feroz
resistência a abrir mão de impostos.
Há muito em tudo isso que a Ciência Política e a História explicam:
grupos de pressão que atuam na máquina burocrática em defesa de
interesses próprios; corporações de todos os tipos, à direita e à
esquerda, capazes de aprovar no Congresso gastos crescentes em seu
benefício.
Existem lobbies variados em defesa do aumento das despesas públicas.
Mas, a favor do contribuinte, da melhoria da qualidade dos gastos e de
economias nas despesas, inexistem.
É oportuno lembrar-se desta crônica quando o relator da reforma
tributária na Câmara, Luiz Carlos Hauly (PSDB-PR), acaba de defender a
recriação da CPMF, imposto iníquo, por não distinguir entre ricos e
pobres — cobra proporcionalmente mais das faixas de renda mais baixas —
e, por incidir em cascata, por várias vezes na cadeia de produção de
bens e serviços. O que gera inflação e retira competitividade das
exportações brasileiras.
Sintomático e preocupante é que, um dia após a defesa de Hauly, feita
no fim de fevereiro, o ministro da Fazenda, Henrique Meirelles,
questionado sobre o assunto, foi direto, na primeira parte da resposta,
ao dizer que o governo não está pensando em recriar o imposto. Mas
acrescentou: “no momento”.
Ora, não deverá ser o governo Temer que contrariará a norma pela qual
se pautam as correntes políticas e ideológicas que dividem o país.
Afinal, foram o PSDB e o PT que patrocinaram talvez o maior avanço do
Estado, na história republicana do país, sobre as rendas da sociedade.
Quando a economia foi estabilizada pelo Plano Real, e a moeda voltou
ser estável, a partir de 1994/95, foi possível saber-se ao certo as
condições das contas públicas. A inflação e a correção monetária
mascaravam tudo, e, assim, os déficits apareceram nas verdadeiras
dimensões.
Com as travas legais de proteção dos gastos com salários,
aposentadorias e outros benefícios do funcionalismo, bem como das
despesas da previdência do setor privado, entre outros itens do
Orçamento, a tendência era buscar mais dinheiro do contribuinte. Os
tucanos, reconheça-se, ainda tentaram uma reforma do Estado e
privatizações. Mas lançaram-se com grande afinco à criação de
“contribuições” (Finsocial, Cide, duas delas), para arrecadar sem
repartir a coleta com estados e municípios, exigência feita apenas a
“impostos”. Com o PT, principalmente a partir do segundo governo Lula,
as despesas saíram do controle e passaram a ser maquiadas pela
contabilidade criativa.
Lula perdeu a CPMF — lançada por Itamar Franco em 1993, com a
finalidade de financiar a Saúde —, derrubada em 2017. Já não pagava
contas só do SUS, entrava no caixa único da União. O PT tentou recriar o
imposto e não conseguiu, por sorte do país. Agora, é a vez de Temer, do
PMDB, tentar o mesmo, por meio de um deputado tucano, com a
justificativa de se criar nova fonte de receitas para a Previdência —
que precisa mesmo é de reforma. Tudo balela.
E não é um recomeço da história, porque agora a carga tributária, na
faixa dos 35% do PIB, é bem mais elevada que em 1993. Além disso, não se
cria impostos numa recessão. O erro, agora, será bem maior.
Nenhum comentário:
Postar um comentário