O Ano-Novo de Temer, Lula e Doria
Vinicius Torres Freire - FSP
O Ano-Novo político costuma começar na Quarta-feira de Cinzas.
Começou o Queremismo, a campanha para que Lula seja candidato a
presidente ou a líder de algum movimento "contra tudo o que está aí",
uma condição de sua sobrevida.
Começou a reação de Michel Temer aos miasmas da Odebrecht, no caso ao
processo que pode cassar a chapa Dilma-Temer 2014 no TSE. A discussão da
sobrevida de Temer pode morrer em meados do ano, mas por ora é aberta.
Recomeçou uma discussão vívida na elite a respeito de quem pode
substituir as estrelas decadentes do tucanato, Aécio Neves e Geraldo
Alckmin, que talvez explodam na Lava Jato e, de qualquer modo, estão
avariadas pelo histórico político medíocre.
Como quinto elemento, há "as ruas", protestos, uma incógnita de força ainda improvável.
Recomeçou o debate da recuperação econômica, em termos ligeiramente
modificados. Por ora, há menos dúvida sobre a estabilização da economia
já neste primeiro trimestre. Há também mais certeza de que sair dessa
estagnação será muito difícil. Percebe-se mais risco de acidentes pelo
caminho.
A arrecadação de impostos continua a cair muito, sinal de persistência recessiva disfarçado por muitas receitas extraordinárias.
Dadas tais más notícias e a meta de redução do deficit, o governo
arrocha as despesas, em especial as de investimento, o que é de imediato
inevitável, mas não deixa de ser um problema. O que tem sido chamado
por aí de "bom resultado fiscal de janeiro" é apenas reação defensiva
prudente diante de perspectivas ruins.
As taxas de juros nos bancos ainda sobem. As concessões de empréstimos
para empresas ainda caem em ritmo de depressão, apesar da ligeira
despiora.
Sim, as taxas de juros reais no atacado passaram a cair de modo notável
no atacado, o que, em princípio, tende a influenciar decisões de
investimento e de captar dinheiro no mercado de capitais.
Em princípio. Por enquanto, vão fazer escassa diferença, dada esta
situação de incerteza renovada, de imensa capacidade ociosa, de
endividamento das firmas e inexistência de projetos de concessão
pública.
Na política politiqueira, há um desarranjo imprevisto e ainda misterioso
no próprio partido do presidente, o PMDB. De resto, com lideranças
avariadas, o comitê central de Temer tem dificuldades de negociar a
reforma da Previdência.
Sem aprovar reformas, o governo Temer se torna pouco mais útil do que um
tampão até 2018. Sem reformas, goste-se ou não delas, o clima econômico
fica anuviado. Economia ainda fraca ou até conturbada antecipa a
discussão de 2018.
Certa elite paulista quase não se segura de animação com João Doria, mas
sabe que o lance é precoce. Ainda se discute até Cármen Lúcia como
opção a tucanos talvez abatidos pela Lava Jato ou por identificação com a
velharia política corrupta.
Lula, em campanha para evitar cadeia ou voltar à Presidência, neste
quadro se torna uma ameaça para o "bloco no poder". Descobrir seu
adversário se torna uma questão mais premente.
O ambiente será especulativo e tenso até que se contem os mortos-vivos
pela Lava Jato e se saiba se Temer terá condições de passar pela
pinguela carregando as reformas. Um trimestre de dúvidas.
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